Agora é só esperar que Machete se descaia e revele a sua identidade.
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Agora é só esperar que Machete se descaia e revele a sua identidade.
Segundo a crítica mais comum ao actual Governo, sobretudo entre os conservadores, não foi feita a reforma do Estado e, nesse sentido, o ajustamento pode ser definido como um fracasso. Os críticos têm razão, não foi feita a reforma do Estado, mas não é comum ouvir-se a continuação da frase, sobre o que devia ter sido feito.
Sem uma mudança na forma como o Estado gasta o dinheiro dos contribuintes, nunca será resolvido o problema recorrente do desequilíbrio das contas públicas. Os credores já começaram a avisar sobre futuros aumentos de impostos, pois os cortes na despesa atingiram o limite constitucional e o limite do contexto político. Um governo enfraquecido, a um ano de eleições, não tem consistência para cortes impopulares. As reformas ficaram em suspenso no Verão do ano passado, na sequência da crise da coligação e muito antes da saída limpa do resgate. Nos próximos anos, a reforma do Estado não será mais do que uma frase estafada, repetida ritualmente por políticos sem intenção de a realizar, pois a verdadeira mudança seria impopular e exigiria um acordo político. Ela teria de envolver a segurança social e uma escolha sobre como é que as pensões seriam cortadas nos anos de vacas magras; teria de definir o número adequado de funcionários públicos, que este governo já reduziu em 10% sem resolver o excesso de trabalhadores, sobretudo no poder local.
A reforma do Estado não se poderá fazer sem reduzir ainda mais o número de professores, de polícias ou de profissionais de saúde (que constituem o grosso do efectivo de funcionários). Como se concretiza essa redução? É preciso definir o que se fará com empresas como RTP, CGD ou TAP, antes que um segundo resgate decida pelo País. A informatização mudou a forma de trabalhar e tornou desnecessárias inúmeras funções, mas a burocracia estatal tem sido lenta a adaptar-se e basta entrar numa repartição pública para o compreender. Neste tema, só é preciso lembrar a tempestade provocada pela fusão de mil freguesias, que foi uma medida minúscula em comparação à necessária redução de municípios e, no entanto, quase causou uma insurreição, motivando na altura muitas críticas dos mesmos comentadores que agora exigem a reforma do Estado instantânea, concretizada por varinha mágica. Os críticos não podem continuar indefinidamente a dizer que não houve mudança e terão de ser mais específicos: quais são as reformas ausentes que deviam ter sido feitas?
O Problema Não És Tu, Sou Eu, de Ana Garcia Martins
Consultório sentimental
(edição Matéria-Prima, 2014)
"Por vontade expressa da autora, o livro respeita a ortografia anterior ao actual acordo ortográfico"
Série ininterrupta com maior longevidade da blogosfera portuguesa, que assinala o início de cada dia aqui no DELITO DE OPINIÃO, As Canções do Século surgirão em Novembro com um formato especial: todos os temas musicais terão nomes de mulher. É uma forma de homenagear as nossas leitoras, que muito colaboram com sugestões, comentários e palavras de incentivo.
A série, iniciada a 1 de Janeiro de 2010, vai prosseguir até ao próximo Verão. Algumas das melhores canções do século virão no fim. E desde já vos peço sugestões sobre as que mais gostariam de ver aqui. Até porque tenciono fazer uma série complementar a esta que possa reflectir os gostos de quem nos lê, há muito ou pouco tempo.
Aguardo essas sugestões, nas caixas de comentários das próximas Canções do Século ou para o meu endereço electrónico. Porque o DELITO será tanto melhor quanto mais for interactivo, estou certo disso.
Acho tão ridícula esta história de o MInistro da Defesa andar a dizer que andamos a "interceptar aviões militares russos" como o foi há cem anos a captura dos navios alemães que estavam pacificamente no porto de Lisboa. O problema é que é com estas bravatas que nós nos metemos em guerras a que somos totalmente alheios. Por isso, preparemo-nos para cantar: "Contra os russos, marchar, marchar".
De Tiananmen a Hong Kong. De António Araújo, no Malomil.
Os alicerces do tecto de 100 milhões de euros... De Margarida Corrêa de Aguiar, na Quarta República.
Dinheiro e pudor. De Jorge Carreira Maia. No Kyrie Eleison.
A Igreja acolhe o pecador ou o pecado acolhe a Igreja? De Daniela Silva, n' O Insurgente.
"Ganda" rebelde. Do André Miguel. No Crónicas de Além Tejo.
A caricatura. Da Rita Barata Silvério, na Rititi.
Dear Helen Mirren. Da Maria João Nogueira, na Jonasnuts.
Vai um livrinho? De Maria do Rosário Pedreira, no Horas Extraordinárias.
O direito à poligamia. De Rui Ângelo Araújo, n' Os Canhões de Navarone.
Prometo nunca me deixar. Da Carla Hilário Quevedo, na Bomba Inteligente.
Capricho. Da Carla Ferreira, n' Uma Mulher não Chora.
Maior que nós. Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.
A última réstia de dignidade dos que até na morte são abandonados. Do João Pedro Pimenta, n' A Ágora.
Pedro Nuno Santos, 2 de Outubro de 2013
Deixo hoje este post já um pouco datado. Escrevi-o quando se falou no desfile/comentários /post da Jessica Athayde. Nessa altura li alguns posts sobre o assunto e lamento que os de maior destaque acabassem por cair na asneira de referir que a fotografia em questão era infeliz ou não era a actriz no seu melhor. Tudo o que tinha sido antes pelas autoras desses posts caiu por terra no momento em que o fizeram. Tal coisa nem me ocorreu, mesmo não tendo tido a pretensão de empunhar o estandarte da mulher real e essas coisas muito bonitas mas depois regra geral ocas que se dizem.
Segue então o que disse na altura ali no Vida de Pi.
O problema não são as gordas. Não são as magras. O problema é, como sempre, estarem mal resolvidas. O problema são os preconceitos, o não conseguirem mostrar pele por ideias pré-concebidas ou não receberem um elogio ou piropo de vez em quando. Mesmo que o recebessem não saberiam o que fazer com ele, ficariam trapalhonas com ele nas mãos como quando o telemóvel quase se nos escapa, quase quase, mas afinal não chega a cair. O problema é também, admito, a convenção à escala mundial, de que o magro é que é perfeito. Mas isso é secundário perto da mesquinhez das pessoas.
Há muito que deixara de ser uma promessa para se tornar num dos mais consistentes desportistas da elite de surfistas nacionais. Depois de Tiago Pires está assegurada a continuidade no sector masculino - porque quanto ao feminino elas falam por si - do surf português no topo mundial. Espero que não lhe faltem os apoios - privados - para que possamos todos continuar a festejar os sucessos do novo campeão mundial de surf júnior. O Vasco Ribeiro transformou as ondas de Ribeira d'Ihas numa passadeira vermelha para as cores nacionais. Estou-lhe grato, tal como todos os portugueses, pelo seu feito.
Quando, aqui há uns anos, Lili Caneças pronunciou a frase "estar vivo é o contrário de estar morto", não houve quem não gozasse com tal tirada. Afinal, vemos agora que, para alguns, essa distinção não é assim tão clara. Mas depois de os profissionais do Hospital de Aveiro, durante algum tempo, não saberem se deveriam dar alta, dar baixa ou dar em doidos, parece que o assunto lá se resolveu...
(apesar do post escrito em tom jocoso, esta situação seria tudo menos divertida e, mesmo com as justificações dadas, não se compreende como é que se pode criar uma norma daquelas)
Televisões que se presumem sérias, praticantes de um jornalismo considerado rigoroso, difundiram por estes dias a imagem de um repórter britânico que se encontra cativo do autoproclamado Estado Islâmico, funcionando portanto como porta-voz compulsivo desta organização terrorista.
Mesmo sabendo isto, as televisões emitem esta mensagem adulterada, fazendo-a passar à primeira vista por informação isenta. É um acto de lesa-jornalismo. Pior: é um alto de lesa-civilização. Estamos a recuar perigosamente em matéria de princípios sempre que pactuamos com a violência terrorista, mesmo que seja insidiosa e encapotada, como sucede neste caso.
E o problema não se centra só nas imagens que procuram banalizar o mal. Repare-se na linguagem tantas vezes adoptada para descrever os bárbaros assassínios de jornalistas, decapitados a sangue-frio depois de serem forçados a confessar aquilo que não pensam e noutras circunstâncias jamais diriam: foram "executados", proclamam vozes neutrais na televisão, sem um assomo visível de indignação cívica. Fosse outro o contexto, fossem outros os algozes, falar-se-ia em crime, chacina, massacre. "Execução" tem uma conotação burocrática, quase legal, quase consentida, quase compreensível.
O primeiro erro, aliás, é chamar Estado Islâmico a um movimento inorgânico que utiliza a bandeira do islão como mero pretexto para dar largas ao mais básico instinto sanguinário. Um bando de pistoleiros, mesmo vasto e bem armado, não pode confundir-se com Estado algum. E nenhuma religião deve caucionar a violência homicida, aliás cometida em larga medida, neste caso, contra os próprios irmãos de fé.
Usar a linguagem dos assassinos é o primeiro passo para atenuarmos os seus crimes.
«É possível que o Estado que oferece uma multa de amigo às pessoas que ocultaram milhões de euros no estrangeiro, que as isenta de responsabilidades criminais e que ainda tem atenção suficiente para lhes proteger a identidade, é possível, dizia eu, que este mesmo Estado execute penhoras da única casa de quem deve dois mil euros ao Fisco e já tem o magro salário penhorado? É possível - e acontece em Portugal.»
Bruno Faria Lopes, no Diário Económico
O fenómeno está a alastrar em cidades francesas, mas parece ter origem na Califórnia, também numa pequena cidade. Pessoas vestidas de palhaços surgem em poses suficientemente ambíguas para poderem ser consideradas arrepiantes. No fenómeno francês, apareceram palhaços nas ruas, armados e em atitudes ameaçadoras, naquilo que se poderia definir como brincadeira de mau-gosto, mas logo surgiram grupos de autodefesa anti-palhaços, também armados. Isto foi ao ponto de Lille não ter dado autorização para um desfile chamado zombie walk, no âmbito da festa americana conhecida por Halloween.
A tudo isto se pode juntar uma história de motins e histeria colectiva, também em França, durante a exibição de um filme de terror sobre uma boneca maléfica. As pessoas têm muita imaginação, mas há aqui mais qualquer coisa, talvez isto seja um sinal dos medos colectivos que as sociedades têm acumulado, medos esses que a fantasia do cinema de terror alimentou de forma particularmente eficaz com esta personagem do palhaço que esconde o psicopata. Vendo bem, é uma ideia particularmente criativa, pois transforma uma figura trágico-cómica, que fez rir as crianças durante séculos, no seu perfeito oposto. Como está ligado ao imaginário infantil, o palhaço é particularmente assustador.
Diz o meu nome
pronuncia-o
como se as sílabas te queimassem
os lábios
sopra-o com a suavidade
de uma confidência
para que o escuro apeteça
para que se desatem os teus cabelos
para que aconteça
Porque eu cresço para ti
sou eu dentro de ti
que bebe a última gota
e te conduzo a um lugar
sem tempo nem contorno
Porque apenas para os teus olhos
sou gesto e cor
e dentro de ti
me recolho ferido
exausto dos combates
em que a mim próprio me venci
Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos
No húmido centro da noite
diz o meu nome
como se eu te fosse estranho
como se fosse intruso
para que eu mesmo me desconheça
e me sobressalte
quando suavemente
pronunciares o meu nome
in Raiz de Orvalho