Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

As receitas do Delito (1)

Helena Sacadura Cabral, 30.06.14

TÁRTARO DE SALMÃO

 

Ingredientes

salmão fresco

salmão fumado

presunto

cebola roxa cortada em cubos finos

alcaparras a gosto

sumo de lima ou limão

mostarda Dijon

Cebolinho fresco.

 

Confecção:

Cortar o salmão fresco em pequenos cubos. Cortar do mesmo modo o presunto, o salmão fumado e cebola vermelha. Misturar bem os ingredientes todos. Acrescentar as alcaparras e esmagar tudo com garfo ou o esmagador de puré. Envolver com sumo de lima e mostarda de Dijon. Adicionar pimenta.

Depois de tudo bem misturado, refrigerar durante cerca de 3 horas. Retirar do frigorífico e preparar várias bolas achatadas que se servem sobre folhas de alface e se ornamentam com cebolinho picado. Acompanha com salada. Contar com duas bolas médias por pessoa. Servir com tostas finas e vinho branco bem fresco. 

Penso rápido (12)

Pedro Correia, 30.06.14

Vivemos num tempo fragmentado, que convida à dispersão. E somos vítimas crescentes dessa fragmentação. A nossa capacidade de concentração é cada vez mais escassa. Paramos a série televisiva a meio para ver não importa o quê, tornámo-nos incapazes de assistir a um filme de duas horas sem interrupções, espreitamos a todo o momento o ecrã do telemóvel em busca de novas mensagens mesmo sem esperarmos mensagem alguma, as redes sociais solicitam-nos adesões ou indignações contínuas, os dias vão-se dissolvendo em 24 horas de espuma. Este estúpido frenesim em que mergulhámos graças aos avanços tecnológicos impede-nos quase sempre de pensar. E afinal era nisto que devíamos investir muito mais do nosso tempo: pensar.

Mundial no sofá (8)

João André, 30.06.14

Vi pouco futebol nos últimos dias, mas fica aqui a reflexão, especialmente sobre a saída de Portugal.

 

Portugal - Gana

Tacticamente, do meu ponto de vista, Paulo Bento não fez grandes asneiras. No papel Veloso seria a melhor opção para o lado esquerdo da defesa, de forma a poder subir no corredor e fazer cruzamentos de pé esquerdo e tentar aproveitar a fraqueza dos centrais ganeses. As suas subidas seriam compensadas pelo posicionamento de Ruben Amorim, que cobriria as suas costas. No lado direito João Pereira não precisaria de subir tanto, uma vez que Nani seria um extremo teoricamente mais clássico. William Carvalho funcionaria como médio mais recuado, como segurança defensiva (Quinito chamou em tempos a essa posição "líbero do meio campo").

 

No papel nada a apontar, o problema é que o futebol se joga no campo. Veloso estava obviamente sem ritmo, Nani não existiu durante 85 minutos (cada vez que passava a bola correctamente eu suspirava de alívio) e João Pereira também não anda bem. Aqui se viu a falta que Coentrão fez à equipa, tal como um segundo lateral para quem o pé esquerdo seja mais que para correr. Também se viu que Éder deve ser solteiro, bom rapaz e é esforçado, mas quem lhe viu qualidades de ponta de lança deveria passar pelo oculista. Igualmente que Varela deveria ter começado a ser titular ao segundo jogo, uma vez que em 30 minutos (bem espremidos entre 3 jogos) fez mais que Nani.

 

Isso quanto às escolhas e à táctica. Já quanto a Ronaldo, sinceramente, não lhe aponto nada. Falar-se-á mais do cabelo que do futebol, mas a verdade é que a quem aparece a 50% e ainda se esforça como ele se esforçou não se pode pedir muito mais. Tal como não se lhe pode pedir que seja o líder verdadeiro da equipa. Não o é, não tem temperamento para tal. Entreguem já a braçadeira a Moutinho, Patrício, William ou outro qualquer. Retirem esse peso a Ronaldo. É como se pedissem a Bruno Alves que se mexesse ou se concentrasse sem falhas por 90 minutos. Não funciona.

 

Habituemo-nos a isto. O próximo europeu não deve estar em causa, até porque será mais difícil a não qualificação. Mas as vacas emagreceram e muito.

 

Outras notas

Scolari continua o mesmo de sempre. Equipas unidas e com grande espírito, mentalidade de cerco, táctica básica e fé em um ou dois jogadores para resolver, e de resto porrada neles. Neste mundial ele beneficia disso, porque ninguém quer despachar o Brasil demasiado cedo. Mas, muito a contragosto, tenho que apontar que Scolari não tem sorte. Parece, mas não tem. Quem tem sorte tantas vezes e em momentos tão importantes não é sortudo: é alguém que procura esses acasos felizes. Nisso, tem muito mérito.

 

Tenho pena que o Chile tenha saído. Gostei do futebol deles, cheio de energia, feito de pressão e crença que podem derrotar qualquer um. Gostei do treinador, que corre tanto para cima e para baixo na área técnica que deve deixar um sulco no chão. Tenho pena que tenham saído.

 

Espero que se comece a notar que a Holanda não é das equipas mais interessantes do mundial. Poderão ganhar, mas a táctica pouco mais é que uma actualização mais sofisticada da de há 4 anos. Reconhecer que não tem uma boa defesa e compensá-la, porrada nos adversários para quebrar o ritmo e fé em Robben. Este é o facto decisivo: sem Robben a Holanda estaria já fora. As duas principais diferenças entre a Holanda e Portugal são Robben vs Ronaldo e Juventude vs Veterania. Claro que isso em muito deve a van Gaal.

 

Grécia está fora: é pena, gosto dos tipos, mesmo que o futebol seja chato. Costa Rica continua mais uma ronda: é agradável, mas a defesa subida deles deverá ser um gelado para o Robben nos quartos de final.

 

Hoje joga a Alemanha e não deverá ser desta que a Argélia exorciza 1982 e Gijón. No entanto ando à espera do momento em que a Alemanha impluda por causa de guerras internas entre jogadores. Está divertido: a Holanda faz o papel de Alemanha e a Alemanha de Holanda. O mundo de pernas para o ar: o mundial é no hemisfério sul.

Doze obras-primas dos museus de França (2)

Sérgio de Almeida Correia, 30.06.14

A paixão entre um homem e uma mulher foi sempre motivo de inspiração para qualquer artista. Da poesia à música, passando pela literatura e a pintura. O Ferrolho, de Jean Honoré Fragonard (1732-1806), é mais um desses exemplos. Pintado por volta de 1777, depois de uma segunda viagem a Itália e do rompimento do pintor com Madame du Barry, a amante favorita de Luís XV, esta tela retrata uma cena de paixão e reflecte as influências e a admiração que o artista terá tido pelos mestres do Barroco (Rubens) e da Escola Holandesa (Rembrandt), inaugurando um novo estilo. As cores, em tons pastel, típicas do Rococó, apresentam-se neste quadro como uma ponte entre as cores fortes do Barroco e o período neoclássico. Para alguns tratar-se-ia de uma resposta a Viens, a favor de quem o pintor perdeu o apoio de Madame du Barry. O quadro é atravessado por uma linha imaginária que liga o ferrolho à maçã, não se percebendo se a cena antecede ou sucede ao encontro entre os amantes. Se por um lado se fica com a sensação de que o ferrolho está a ser corrido, por outro verifica-se que as almofadas estão em desalinho. Um quadro que há muitos anos não via e que voltou a impressionar-me pela cor e a luz que o atravessam.   

O comentário da semana

Pedro Correia, 29.06.14

«A minha pegada de carbono já tem um peso considerável, depois de ter largado os cigarros há 5 anos e 12 quilos, o que faz com que o meu centro de gravidade e o meu eixo de suspensão entrem frequentemente em conflito.
Daqui a 35 anos, com o rumo que as coisas levam por cá, não poderemos ser mais canibalizados do que já fomos, faremos seguramente parte do novíssimo décimo mundo e os Hunger Games serão uma realidade, mas o Peeta, o destruidor, não será o tributo, pois foi seu o contributo para a futura realidade.»

Da nossa leitora Maria Dulce Fernandes. A propósito deste meu texto.

Para encher a barriga

Pedro Correia, 29.06.14

 

Manhã muito cedo, já o pescador veio aviado. Traz um carregamento de peixe que vai amanhando e atirando para um grande balde. Com gestos mecânicos e expeditos, serve-se da faca para lhes retirar as vísceras, que deposita ali, nas águas plácidas da ria. As incisões são feitas a bom ritmo e com precisão cirúrgica: não tarda, o balde vai enchendo.

O homem prossegue a tarefa, imperturbável. Está descalço, de pés plantados na ria, calças de ganga arregaçadas. Esquarteja ferreiras e besugos que daqui a poucas horas estarão estendidos nas grelhas.

O sol já se ergueu acima da linha dos telhados, o calor aumenta, a faca prossegue o seu curso na mão direita do homem, seco e tisnado. Há um frenesim de gaivotas em seu redor: disputam as vísceras dos peixes numa atmosfera de solene algazarra. As mais possantes afastam a concorrência à força de bicadas, o alarido de umas depressa atrai as atenções de outras que logo se aproximam.

Mas não parece haver necessidade de lutas: o petisco chega para todas.

 

Da marginal de Cabanas, uma senhora pergunta ao pescador a como lhe vende o peixe. O homem informa-a sem sequer a olhar nem abrandar o ritmo: extrai as entranhas, lava o peixe e atira-o para o balde.

A senhora aproxima-se, interessada, já de nota na mão.

"Eu quero aquele maior para encher a barriga", diz-lhe, apontando com o dedo. O peixe recém-pescado salta do balde para um saco de plástico em poucos segundos. O homem prossegue o seu labor, imperturbável. As gaivotas navegam à sua volta, como se fossem patos num inquieto alvoroço. A senhora regressa à marginal em passo pausado por força conjugada da idade e do calor.

Espreita o saco: o peixe é grande. O almoço de hoje está garantido, amanhã logo se vê.

Doze obras-primas dos museus de França (1)

Sérgio de Almeida Correia, 29.06.14

Da autoria de Fraçois Boucher, pintor que viveu entre 1703 e 1770, "Diana saindo do banho" foi pintado em 1742 e mostra a deusa, depois de uma caçada e de um banho retemperador, a preparar-se para se arranjar enquanto segura um colar de pérolas. A seu lado uma ninfa que a ajuda. O quadro é todo ele um hino à feminilidade e à beleza da mulher, sendo Diana apresentada em toda a sua graça e sensualidade, em comunhão com a natureza. A luz vem toda da esquerda e a profundidade do azul faz realçar ainda mais a frescura e brancura da pele da deusa e o verde da vegetação. Ao seu lado, no chão, os troféus da caçada.

Vencedores & vencidos (5 notas)

José Navarro de Andrade, 28.06.14

É verdade que a selecção da Grécia joga um futebol brusco e picotado e tem um treinador que lhes grita – vimos todos – “calma, car@#§&!”, comprovando a perfeita capacidade comunicacional do calão português. Mas os gregos são a mais nostálgica colecção de cromos deste Mundial; cada um deles ostenta o fácies proletário dos jogadores dos anos 50 e 60, como se tivessem sido recrutados nas docas do Pireu. Katsouranis está ao nível de selvajaria a que sempre nos habituou e Karagounis segue demonstrando a sua incompatibilidade com as lâminas de barbear e com as decisões dos árbitros. Eles são a perfeita reminiscência física do futebol de outrora, antes desta gentrificação feita de penteados espampanantes e palmadinhas nas costas.

 

É de lamento a eliminação da paradoxal selecção inglesa. Por uma vez não entrou em campo com aquele tradicional sense of entitlement de quem vem repor uma verdade histórica, nem  encarou a derrota com o stiff upper lip presunçoso de quem acha que foi espoliado de direitos naturais. Os ingleses vieram jogar e fizeram-no com franqueza e elegância, tanto que perderam os dois jogos que necessitavam de ganhar aos pés da pragmática Itália e do furibundo Uruguai. É pena porque constituíam um agradável intermezzo ao futebol assanhado que veremos daqui em diante. Além de que a sua prematura eliminação redundará em grande rombo económico na indústria cervejeira mundial.

 

Em vez dos 90 e picos minutos da praxe os jogos da Argentina só têm 5’’ – os 5’’ de Messi. Da primeira vez foi o tempo necessário para partir a Croácia, da segunda venceu o Irão. No resto do tempo a selecção argentina troca a bola entendidamente à espera do instante em que o pequenote liga o botão, é uma espécie de desacelerador de partículas. Com isto, mesmo ostentando o pior treinador do certame (demasiados jogadores, demasiado bons, para fazer confusão a um táctico simples), querem ver que ainda chega à final?

 

Num ranking da revista Forbes do rendimento anual auferido pelos treinadores deste Mundial Paulo Bento está em 12º (nada a contestar) e o do Professor Carlos Queiroz, treinador do Irão, em 13º, com uma diferença de apenas €62.110 – menor que o preço de um Porsche. Diferença essa que daria singelo por dobrado em como não cobre a expropriação do fisco português a que Bento está sujeito. Ambos saíram no final da primeira ronda, Queiroz saiu felicíssimo por ter conseguido empatar um jogo em resultado da inovadora táctica do autocarro; Bento saiu acabrunhado por só ter vencido um jogo. Quem é o esperto, quem é?

 

Foi preciso chegar ao último jogo da fase de qualificação para descobrir a selecção que dá vontade de odiar. Consuetudinariamente reservado ao futebol panzer da Alemanha ou ronhoso da Itália, capazes de tirar do sério o adepto mais cerebral, desta vez a desonra a cabe ao sórdido Uruguai. Se Freitas Lobo viu 3 milhões de uruguaios a rematar com o pé de Suarez no golo contra a Inglaterra (uma imagem maior que o cinema, cujo máximo até hoje foi o filme “300”) então que não lhe tenha doído a dentada do mesmo Suarez em 61 milhões e 321 milhares de italianos por via do ombro de Chiellini. Felizmente os pigmeus da América Latina caíram aos pés do belíssimo James da Colômbia. Agora é preciso detestar outros – talvez o sorumbático Brasil, convencido que não precisa de jogar bem porque joga em casa?

Delito à Mesa

Francisca Prieto, 28.06.14
 
Hoje foi dia de tertúlia no estrangeiro da Ana Vidal. A meia hora de Lisboa, almoçaram os membros do Delito, quais Lordes Byron, numa faustosa varanda escondida por vasos de hortenses. Ficámos para ali noutro meridiano, em amena cavaqueira, enquanto nos fomos servindo de extraordinárias vitualhas que incluíram um escabeche de pato coroado com raspas de laranja, praliné de citrinos a cavalo numa salada, aspic de tomate à chef Navarro e, meu Deus, uma selecção de sobremesas de fazer saltar as papilas gustativas.

A gastronomia foi, por estas e por outras, o tema dominante da tarde, embora também se tenham abordado assuntos menores tais como o estado da nação, a situação económica mundial e o mistério das conquistas amorosas de Hollande.

Mais para a tardinha, num momento de descontrolo, uma facção da mesa defendia a necessidade de se criar um partido composto pelos políticos de maior sex appeal do país (um critério como outro qualquer), enquanto do outro lado alguém confessava uma velha fraqueza por Cristiano Ronaldo, agarrando com veemência o pescoço e proferindo que “aquele rapaz, daqui para baixo, é um monumento”. Mas a decência rapidamente regressou à mesa, para se discutir ética jornalística, dobragens de filmes estrangeiros e até poesia.

Esteve-se tão bem nesta família que foi a custo que nos arrastámos porta fora para regressar ao azimute de origem. Eternamente gratos à Ana pela trabalheira de nos receber em sua casa.

 

Eusébio vs. Ronaldo

Rui Rocha, 28.06.14

É ou foi Ronaldo o melhor do mundo? Provavelmte sim, em determinadas épocas ou períodos. Sempre, se lhe perguntarem a ele ou se ele perguntar ao seu espelho. Mas essa corrida, com Messi, Robben, Ribéry ou Neymar, diz-nos pouco. Os terrenos onde se travam as suas batalhas principais são a Champions. É mais coisa de Real Madrid, Barcelona e Bayern do que de Portugal contra o resto do mundo. O duelo que verdadeiramente nos interessava que Ronaldo vencesse é aquele que disputa com Eusébio. Infelizmente, parece nunca mais chegar lá. A Eusébio sobra-lhe Coreia, entroniza-o a epopeia, ali onde Ronaldo fica de escasso. E nós trocaríamos de bom grado o seu título individual de melhor do mundo num determinado momento pela eternidade de ter feito o que sempre lhe falta para ser o melhor futebolista português de todos os tempos.

Penso rápido (11)

Pedro Correia, 28.06.14

Os especialistas alertam: em 2050, caso se mantenham os hábitos actuais, metade da população dos países desenvolvidos será obesa. Isto numa altura em que o planeta terá cerca de 40% por cento mais habitantes do que tem hoje, podendo totalizar 9,1 mil milhões. Haverá portanto cada vez mais gente a comer em excesso, por um lado, e cada vez mais gente a comer de menos, por outro. As assimetrias vão ampliar-se em progressão geométrica. Com os consequentes riscos para a saúde. E até para a estabilidade social. Porque o progresso, com ou sem aspas, é sempre uma arma de dois gumes.

Pág. 1/17