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Delito de Opinião

Pós-eleitoral (7)

Pedro Correia, 29.05.14

Helena Cristina Coelho, Diário Económico: «Continua a não surgir nada de muito novo neste PS: nem um plano, uma solução, um rumo, uma ideia. Até a corrida de António Costa está mais anunciada que a morte no livro de García Márquez.»

 

Luís Rosa, i: «Quarenta e oito horas depois do início do bullying político a António José Seguro, continuamos concentrados no acessório da marcação do congresso extraordinário sem saber o essencial: António Costa quer ser primeiro-ministro para quê?»

 

Celso Filipe, Jornal de Negócios: «Afinal, o que é que separa António Costa e António José Seguro? Olhando para as áreas económicas é difícil encontrar diferenças.»

 

Fausto Coutinho, Diário Económico: «A decisão de António Costa pode ser uma oportunidade para António José Seguro arrumar a casa socialista e afastar os fantasmas que assombram a sua liderança desde o início.»

 

Rui Ramos, Observador: «Costa encontra-se, neste momento, na mais perigosa de todas as situações. Basicamente, está nas mãos, quer de Seguro, quer dos inimigos de Seguro. António Costa apenas pode ser o António Costa de que o PS precisa se for como que aclamado no partido. Só se for consensual no PS pode aspirar a ser consensual no país.»

 

Ana Sá Lopes, i: «Houve um tempo em que António Costa defendia que quem perdia as eleições deveria continuar a liderar o PS. Aconteceu depois da derrota de Sampaio nas legislativas de 1991, quando Cavaco Silva conseguiu a segunda maioria absoluta.»

 

Fernando Sobral, Jornal de Negócios: «Depois desta decisão de António Costa, o PS nunca mais será o mesmo. Mesmo que Seguro conserve o poder.»

Ma Man Kei

Sérgio de Almeida Correia, 29.05.14

Nasceu em Nanhai, nas proximidades de Foshan, provincía de Guangdong, em 1919. Nessa altura viviam-se tempos conturbados na China. Dois anos antes tinha Sun Yat-Sen instalado o governo militar de Cantão. Seu pai fora mercador, um dos muitos que se revoltara contra o governo corrupto dos Qing. Após a morte do pai, em 1934, ficou a tomar conta dos seus negócios, mas quando em 1938 as tropas imperiais japonesas tomaram Cantão, fugiu para Hong Kong. Três anos depois instalou-se em Macau, aproveitando o estatuto de neutralidade deste antigo território português. A partir de então desenvolveu múltiplas actividades empresariais e políticas, tendo enriquecido e granjeado prestígio e influência. Em Macau, mas também na China, da qual, após a revolução, se tornaria no representante local dos seus interesses. Esteve  envolvido durante mais de meio século em todos os acontecimentos importantes de Macau, tornando-se, juntamente com Ho Yin, num dos líderes da comunidade chinesa. Em 1950 foi escolhido para presidente da Associação Comercial de Macau, em cuja sede, ainda antes do 25 de Abril de 1974, se vendiam abertamente e sem que a PIDE pudesse fazer alguma coisa os exemplares do Livro Vermelho do Presidente Mao. Na crise de 1952 integrou a delegação enviada pelo governador Almirante Marques Esparteiro para negociar com os representantes do Exército Popular de Libertação o restabelecimento do fornecimento de víveres à então colónia portuguesa. Teve  papel crucial na crise do "Um, Dois, Três" e após 1974 viria a tornar-se deputado da Assembleia Legislativa de Macau, órgão para o qual foi eleito em sucessivas legislaturas por sufrágio indirecto, em representação dos interesses económicos. Abandonou a Assembleia Legislativa na última legislatura. Nesse percurso foi ainda vice-presidente da Comissão de Redacção da Lei Básica da RAEM, vice-presidente da 8ª, 9ª, 10ª e 11ª Conferência Política Consultiva do Povo Chinês, da qual fez parte até agora, e foi nessa qualidade que integrou o Presidium do Congresso Nacional Popular do Partido Comunista Chinês. Amigo de Portugal e dos portugueses, reconhecido pela China como um "capitalista patriota", já depois de doente e internado no Hospital Militar de Pequim viu a sua influência uma vez mais confirmada com a visita que recebeu, em 2007, de Hu Jintao. Faleceu na madrugada de segunda-feira, com 95 anos, e as suas exéquias terão lugar no próximo domingo em Macau. Deixou sete filhos, um dos quais é o actual presidente da Associação Comercial de Macau, duas filhas e um império comercial. Um dos seus netos é actualmente deputado na Assembleia Legislativa de Macau.

 

(notas coligidas com o auxílio do Hoje Macau, do Ponto Final e do Macau Daily Times)

Gente

Sérgio de Almeida Correia, 29.05.14

Um título de jornal: "Itália: 40 mil imigrantes dão à costa em 2014". Fiquei a pensar.

Até nestas pequenas coisas, nos títulos dos jornais, são mal tratados. "Dão à costa", como o petróleo depois dos desastres marítimos, a nafta ou as baleias. Bem sei que alguns chegam já sem vida, vogando à deriva pelo mar, até que alguém os recolha. Mas não serão eles, também, gente como nós?

Pós-eleitoral (6)

Pedro Correia, 29.05.14

 

Olhar para os 31,5% do PS contra a direita unida (PSD+CDS) no escrutínio para o Parlamento Europeu e ver neles um sinal imperioso para fazer rolar cabeças no partido vencedor é passar ao lado do essencial. Além de injusto para António José Seguro: ele foi um dos dirigentes socialistas que mais se aguentaram em toda a Europa, obtendo o terceiro melhor resultado para a sua família política nos Estados da eurozona.

Encaremos os factos: a esquerda socialista venceu eleições em apenas sete dos 28 países que integram a União Europeia: Eslováquia, Itália, Lituânia, Malta, Portugal, Roménia e Suécia.

Só em Malta, Itália e Roménia a votação nos socialistas foi superior à do PS.

 

Vejamos os resultados:

Alemanha - Partido Social Democrata: 27,3%

Áustria - Partido Socialista Austríaco: 24%

Bélgica - Dois partidos socialistas (francófono e flamengo): 19%

Bulgária - Partido socialista KB: 18,5%

Chipre - Partido Democrático: 10,8%

Croácia - Partido Social Democrata: 30%

Dinamarca - Partido Social Democrata: 19,1%

Eslováquia - Partido social-democrata SMER: 24%

Eslovénia - Partido Social Democrata: 8%

Espanha - Partido Socialista Operário Espanhol: 23%

Estónia - Partido Social-Democrata: 13,6%

Finlândia - Partido Social Democrata: 12,5%

França - Partido Socialista: 14%

Grécia - Oliveira (coligação de PASOK e aliados): 8%

Holanda - Partido Trabalhista: 9,4%

Hungria - Partido Socialista Húngaro (MSZP): 10,9%

Irlanda - Partido Trabalhista: 5,3%

Itália - Partido Democrático: 40,8%

Letónia - Partido Social Democrata: 13%

Lituânia - Partido Social Democrático da Lituânia: 17,3%

Luxemburgo - Partido Operário Socialista Luxemburguês: 21,6%

Malta - Partido Trabalhista: 53%

Polónia - Aliança Democrática de Esquerda: 9,4%

Portugal - Partido Socialista: 31,5%

Reino Unido - Partido Trabalhista: 25,4%

República Checa - Partido Social Democrata Checo: 14,2%

Roménia - Partido Social Democrata: 37,6%

Suécia - Partido Social Democrata: 24,5%

 

 

Em pano de fundo, bem expresso nestes números, está um modelo político em profunda crise: a social-democracia europeia. O PS de François Hollande fica reduzido a quase metade da percentagem da Frente Nacional. Milleband, o wonder boy do trabalhismo pós-Blair, queda-se pelos 25% no Reino Unido. O outrora poderoso PSOE afunda-se no pior resultado de sempre em Espanha, sem nada capitalizar de dois anos de feroz oposição ao Governo conservador de Rajoy. Até o SPD alemão não ultrapassa uns exíguos 27%.

Como escreveu Ana Sá Lopes no jornal i, numa excelente análise às europeias, "a social-democracia não serviu para nada durante a grande recessão, não se constituiu como alternativa a nada e o falhanço de Hollande é só o mais espectacular de todos".

 

Poderia a lista encabeçada por Francisco Assis ter feito melhor num cenário de dispersão de votos, potenciador das candidaturas que se esgotam no protesto?

Dificilmente.
É certo que Ferro Rodrigues alcançou 44% nas europeias de 2004. Mas os tempos eram outros, à esquerda e à direita. Alguém imagina um Marinho Pinto emergir então com a força que agora obteve? Alguém supunha que um grupo inorgânico como o Podemos, fenómeno emanado das redes sociais, surgisse como quarta força mais votada em Espanha e terceira em Madrid, como agora aconteceu? E em qualquer outro contexto Beppe Grillo chegaria a obter um quarto dos votos em Itália?


Somos sebastianistas: pensamos sempre que um indivíduo faz a diferença. Mas neste caso não faz. O problema é mais grave e mais fundo: as duas principais famílias políticas europeias estão gravemente feridas, talvez de forma irremediável, enquanto os egoísmos nacionais regressam em força com a sua oratória guerreira.

As forças extremistas e eurófobas ganham passo à medida que as áreas políticas centrais vêem o seu espaço diminuir drasticamente. Em Espanha, pela primeira vez, os dois principais partidos somados já totalizam menos de 50% dos votos expressos.

A cura, se existir, não virá de nenhum homem providencial e "carismático", de toga messiânica, dançando um De Profundis em valsa lenta.

Agitar antes de abrir.

André Couto, 28.05.14

Estranhei, sem questionar publicamente, como se anuncia o voto favorável a uma Moção de Censura ao Governo, de iniciativa do PCP, sem antes se ler o texto. Depois do anúncio feito, quero ver como é que os deputados do PS vão subscrever o parágrafo que versa sobre "o retrocesso económico e social a que conduziu a política de direita executada nos últimos 37 anos por sucessivos governos".

Dois erros de Seguro

Helena Sacadura Cabral, 28.05.14


Seguro cometeu, a meu ver, dois erros lapidares. O mais recente foi prometer que iria repor pensões e não aumentar os impostos.  O segundo, há pouco menos de um ano, foi o de não aceitar a proposta de Cavaco Silva para subscrever um acordo com o PSD, que tinha como contrapartida a antecipação das legislativas para 2014. Se assim  não tivesse acontecido, António José Seguro podia estar neste momento em São Bento como primeiro-ministro. E não no Largo do Rato a viver uma dificílima crise interna.                                       

A hostilização de Cavaco só se explica pela vontade de agradar aos seus detractores no partido. Ora é precisamente esta ala interna - que teve de tolerar Seguro mas nunca, de facto, o aceitou - que, agora, julga ter chegado o momento do PS e do seu líder cumprirem o seu destino.  O primeiro, sob outra batuta, de alcançar uma maioria absoluta nas próximas legislativas. O segundo, de ir viver a sua vida!

 

Em tempo: um comentador referiu, com muita razão, o terceiro erro, mais recente ainda, que foi o discurso de Domingo, empolando a magra vitória alcançada.

Os cálculos de António Costa.

Luís Menezes Leitão, 28.05.14

 

Conheço António Costa há mais de trinta anos, desde os tempos da Faculdade de Direito, e sempre verifiquei nele a existência de uma grande ambição política, que alia a um enorme calculismo, gerindo o seu percurso ao milímetro. No PS Costa soube sempre estar do lado do vencedor das eleições internas, fosse ele Soares, Constâncio, Sampaio, Guterres, Ferro Rodrigues ou José Sócrates. Precisamente por isso a sua ascensão no PS foi sempre imparável, tendo estado sempre muito próximo dos sucessivos secretários-gerais e atingido quase sempre elevados lugares no Governo. Foi Secretário de Estado e depois Ministro dos Assuntos Parlamentares no primeiro governo de Guterres, tendo depois passado para Ministro da Justiça no segundo. Se nos Assuntos Parlamentares demonstrou capacidade política e facilidade de relacionamento com o Parlamento, factores essenciais num governo minoritário, já na Justiça não deixou saudades. Ainda hoje o sector se ressente das reformas disparatadas que António Costa então lançou. Precisamente por isso nesse Governo o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Ricardo Sá Fernandes, resolveu intervir na área de Costa a propósito do caso Camarate, o que levou Costa a demitir-se com estrondo. A demissão só foi revogada depois de Guterres ter demitido Ricardo Sá Fernandes, o que demonstrou o peso político que Costa tinha.

 

O abandono de Guterres do Governo não perturbou a ascensão de Costa, que avançou logo para deputado europeu como nº2 da lista de Sousa Franco. A vitória de Sócrates em 2005 dá-lhe o lugar de nº2 do partido e do Governo, ainda que com uma pasta relativamente irrelevante, como a da Administração Interna. Com a defenestração de Carmona Rodrigues em Lisboa, António Costa vê a hipótese de encontrar um lugar que lhe permitiria posicionar-se para a sucessão de Sócrates, distanciando-se do seu governo, ou até para as presidenciais, à semelhança do percurso de Jorge Sampaio. A sua gestão de Lisboa tem sido um desastre, mas Costa tem um capital de simpatia e sempre teve boa imprensa, e os adversários que lhe apresentaram sempre foram muito piores que ele, o que tem levado os lisboetas a escolher o mal menor.

 

A vitória de António José Seguro no PS correspondeu, porém, à primeira vez em que Costa passou a ter como líder do seu partido um inimigo político. Por outro lado, os apoiantes de Sócrates desesperavam com o distanciamento de Seguro em relação ao seu antigo líder, pelo que naturalmente empurraram Costa para a liderança, no que pareceu um drama de Shakespeare. Mas o calculismo de Costa prevaleceu e não avançou contra Seguro. Não tinha a vitória assegurada e se avançasse corria o risco de perder o comboio das presidenciais, onde as sondagens o davam como a única alternativa da esquerda a Marcelo.

 

Esse comboio foi, porém, perdido há dias com o inesperado avanço de Guterres. Com o seu mandato na Câmara esgotado, Costa percebeu por isso que tinha que apear Seguro, para o que contribuiu o resultado decepcionante das eleições europeias. Se esses resultados fossem de legislativas Seguro seria amanhã Primeiro-Ministro num governo de bloco central com o PSD, projecto que anda a ensaiar há bastante tempo, que corresponde aos desejos de Cavaco, e parece ter pelo menos a complacência de Passos Coelho. Para a grande maioria dos militantes do PS isso seria, porém, um cenário de terror, só admitindo um governo à esquerda com o PCP, à semelhança de Sampaio em Lisboa, ou pelo menos com Marinho Pinto. Costa percebeu assim que tinha uma alternativa política a Seguro e decidiu apresentá-la aos militantes.

 

Se houver congresso, os militantes do PS vão votar assim entre duas alternativas: um governo PS+PSD liderado por Seguro ou um governo PS+PCP (ou Marinho Pinto) liderado por Costa. Quanto à actual maioria, os seus 27% representam em primeiro lugar o descalabro do CDS, a quem as sondagens dão pouco mais de 2% e corre o risco de desaparecer do mapa político. O PSD vai sair disto com cerca de 24% dos votos, destinado apenas a servir de muleta a Seguro, já que não o será seguramente de Costa. No fundo, estar-se-á a repetir agora do lado do PSD a sina do PS que depois de uma austeridade extrema ficou reduzido em 1985 a 20% dos votos, só vindo a recuperar 10 anos depois. Não sei é porque é que se insiste nesta deriva.

Não ter a noção do ridículo

Sérgio de Almeida Correia, 28.05.14

Não temos condições para andar todos os dias a brincar aos congressos quando em dois anos tivemos duas vitórias que infligiram duas derrotas históricas à direita

 

Não sei o que diria se tivesse obtido uns módicos 44,53 % nas europeias, mas tenho pena que tenha sido necessário haver uma recondução em 2013 e fosse preciso esperar por "duas derrotas históricas à direita" para se ver o óbvio. A ver se desta vez não acaba tudo em águas de bacalhau, com abraços e palmadinhas nas costas. Como da última vez.

Pós-eleitoral (5)

Pedro Correia, 28.05.14

1. Domingo, falaram as urnas: Passos derrotado. Segunda, falaram os "analistas": houve empate. Terça, falaram as pulsões autofágicas no PS: Passos venceu. Razão tinha o outro: o mundo muda muito em 48 horas.

 

2. 32% será resultado "frouxo". Mas o que diremos dos escassos 14% obtidos pelo Partido Socialista francês, de François Hollande, outrora proclamado por Soares e tutti quanti como um dos faróis da esquerda europeia?

 

3. A um ano das legislativas, e após ter andado a carregar o piano desde 2011, ninguém imagina Seguro a ceder um milímetro a solistas de violino. Mesmo que venham ungidos do Vau e aspergidos de Nafarros. Óbvio ululante, como dizia Nelson Rodrigues.

Aprenderam pouco...

Helena Sacadura Cabral, 27.05.14
No meu tempo de aluna de Economia passeavam-se pela Universidade uns filhos família cujo nome, pronunciado em voz alta, dizia tudo da sua origem. Vestiam e falavam de maneira especial e de um modo geral conviviam em grupo fechado, olhando os restantes colegas como representantes de uma classe social que pouco ou nada lhes dizia. Tinham-me algum respeito porque era eu que fazia as "sebentas" de algumas cadeiras, porque era a melhor aluna e porque, sem bem saberem porquê, usava um nome conhecido da História. E, de nomes, parece que percebiam. Mas não pertencíamos ao mesmo mundo. Isso era tão claro para mim quanto para eles...
Há dias quando fui tomar a bica ao local habitual, vejo parar um Maserati - lindo, confesso - e sair de lá um homem dos seus 35 anos, bastante alto, indumentária casual, cabelo claro e passada confiante. Dir-se-ia um ilustre representante da fidalguia do dinheiro.
Não me enganei. Com efeito, ao fazer a encomenda - dado o tom de voz, todos ficámos a conhece-la -, lá veio o nome. Nesse momento, ao ouvi-lo, reconheci o pai, na voz, no rosto e, claro, no apelido.
Saíu com a mesma ligeireza com que entrou. O Maserati arrancou em beleza e, por instantes, na sala reinou um silêncio incómodo, que apenas foi interrompido por um pedido meu de mais um rissol, emblemática escolha de classe social, que fazia toda a diferença com o rol que ouvíramos antes.
Enquanto comia o pastel, pensei como depois de 40 anos passados sobre o 25 de Abril, as classes dominantes usam sempre o mesmo apelido e pouco ou nada aprenderam. Ou, dito de outro modo, como pouco ou nada, os obreiros da revolução lhes ensinaram!

A noite em que todos perderam

José Gomes André, 27.05.14

Com excepção da CDU e de Marinho Pinto, todos perderam. O PS obtém uma vitória curta, face às expectativas de congregar o voto de protesto contra a coligação PSD/CDS. A Direita sofre uma derrota histórica, que poderá abalar os alicerces do Governo (vem a caminho uma remodelação ministerial?). O Bloco continua a via da implosão. Perdeu as causas fracturantes para o PS e ao rejeitar ser hipotético parceiro dos socialistas tornou-se politicamente irrelevante. A abstenção atingiu valores elevadíssimos, resultado de um crescente (e preocupante) desânimo popular com a política (e com a Europa!) e do desgaste dos partidos tradicionais. O Governo sai fragilizado, mas a oposição não recolheu combustível suficiente para apelar de forma convincente a eleições antecipadas. A “força da rua” mostra-se nos “media” e nas redes sociais, mas o país real parece sobretudo amorfo e indiferente.

A CDU obtém um resultado notável, mas o seu discurso ideológico continua demasiado radicalizado para poder figurar como eventual parceiro de governação para o PS (e o facto de os comunistas terem feito campanha agressivamente contra os socialistas só adensou o abismo entre ambos). Marinho Pinto consegue a proeza de ser eleito para o Parlamento Europeu sem que se lhe conheça uma ideia sobre a Europa. Os eurocépticos ainda são irrelevantes em Portugal, mas o poder mediático do populismo já se faz sentir. 

[publicado ontem no Diário Económico].

 

P.S. A euforia de Seguro e Assis não passou de uma encenação para tentar vender a imagem de uma Direcção ganhadora. Correspondeu na verdade a um autêntico "canto do cisne". A vitória foi curta (como qualquer pessoa notou desde logo). Segue-se pois uma guerra civil no PS...