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Delito de Opinião

Modo de Vida (36)

Adolfo Mesquita Nunes, 01.04.14

O tempo vai passando de tal forma que a noção de começo quase nos parece antiga e, de certa forma, desaprendida. Num tempo de começos, volto aqui.

 

O começo de um livro é precioso. Muitos começos são preciosíssimos.
Mas breve é o começo de um livro – mantém o começo perseguindo.
Quando este se prolonga, um livro seguinte se inicia.
Basta esperar que a decisão de intimidade se pronuncie.
Vou chamar-lhe fio ___ linha, confiança, crédito, tecido.

 

O começo de um livro é precioso, Maria Gabriela Llansol (Ilustrações Ilda David', Ed. Assírio & Alvim)

Coisas que só acontecem em países do terceiro mundo na véspera de feriados e fins-de-semana

Sérgio de Almeida Correia, 01.04.14

 

Na semana passada foi a greve dos aeroportos alemães a anunciar o cancelamento de voos. Esta semana é a greve de 3 (três) dias dos pilotos  de uma organização chamada “Vereinigung Cockpit” (VC), ou seja, o sindicato respectivo. O resultado são só 3800 (três mil e oitocentos) voos cancelados. A razão da greve, que começa na quarta e terminará sexta-feira, de maneira a que o fim-de-semana seja de arromba, foi a falta de entendimento sobre uma questão tão "corriqueira", imagine-se, como aumentos salariais. E como se isso não bastasse para indispor os passageiros que optaram por viajar nessa companhia aérea, o número de chamadas telefónicas deu-lhes cabo do sistema. Como há dias se soube que os lucros ficaram aquém das expectativas, não havendo perspectiva de a curto prazo serem despedidos alguns dos seus 118.000 trabalhadores - uma ninharia - , dir-se-ia tratar-se de uma companhia aérea da Europa do sul.

Aos que em Portugal pugnam por mais alterações à lei da greve, e que em pleno século XXI ainda se queixam do defunto Conselho da Revolução, ficaria bem que agora dissessem uma palavra sobre o assunto. Quanto mais não fosse, por exemplo, para defenderem uma aproximação da lei da greve nacional, sei lá, à lei colombiana. Todos os que ficaram, e ficarão, em terra compreenderiam a oportunidade da intervenção. E a necessidade de se aumentar esses tesos dos pilotos alemães.

O indignado

Pedro Correia, 01.04.14

Mário Soares, no seu habitual espaço de opinião do Diário de Notícias, surge hoje especialmente indignado. Desde logo com a coligação governamental. E não faz a coisa por menos: este é um "Governo de corruptos". Eis um passo em frente, depois de lhes ter chamado "delinquentes". Esqueceu-se já do tempo em que enaltecia sem rodeios o "sentido de Estado" de Passos Coelho...

Mas o homem que, em plena crise económica dos anos 80, apresentou em Outubro de 1984 um dos diplomas mais imorais alguma vez gerados pela democracia portuguesa -- que viria a ser a Lei 4/85, destinada a premiar com subvenções vitalícias o conjunto da classe política portuguesa -- mostra-se também muito zangado com os jornalistas em geral e as televisões em particular. "A RTP está governamentalizada -- imagine-se! -- e os jornalistas fazem tudo para agradar aos patrões", exalta-se o antigo primeiro-ministro, cujos governos se notabilizaram por respeitar profundamente a liberdade editorial dos órgãos de informação que tutelavam. Embora não ao ponto de concederem tempo de antena regular -- em horário nobre -- a políticos cuja única agenda é criticar o Governo. Puxo pela memória e não me lembro de um caso.

 

Soares indigna-se também com o primeiro canal de TV privada que surgiu em Portugal (quando enfim se rompeu o monopólio estatal da televisão, já ele estava longe de funções governativas). "A decisão de despedir Mário Crespo da SIC, onde tinha um numeroso público de todos os quadrantes políticos, foi um erro grave para a empresa", escreveu o antigo Presidente da República, aludindo assim à anunciada decisão do jornalista de solicitar a passagem à reforma.

Soares gostaria que Crespo, aos 66 anos, continuasse a trabalhar. É verdade que já em 2006, em sintonia com a tróica dos nossos dias, ele próprio defendia o alargamento da idade da reforma para além dos 65 anos. Muito antes de saudar o "vento democrático" que a seu ver sopraria em toda a Europa logo após a eleição de François Hollande para o Eliseu. E ainda antes de elogiar Sócrates por "endireitar as contas públicas e reduzir o défice". E muito antes de voltar a elogiar Passos Coelho, já não me recordo a propósito de quê.

Nem verdadeiramente interessa neste 1º de Abril.

Ler

Pedro Correia, 01.04.14

Primavera. Da Tânia Raposo, no Not quite the sun, not quite the moon.

O "precedente do Kosovo". De Miguel Madeira, no Vento Sueste.

Pobreza, mas de pensamento. Do Filipe Nunes Vicente, no Nada o Dispõe à Acção.

A entrevista. Do Mr. Brown, n' Os Comediantes.

JRS x JS - 2º round. De Rui Ângelo Araújo, n' Os Canhões de Navarone.

Bloco interpela Governo. De J.M. Correia Pinto, na Politeia.

A virtude da Teodora. De José Gabriel, no Aventar.

Economia pode dar a volta, mas os eleitores não voltam. Do Luís Naves, no Fragmentário.

Uma verdade inconveniente? Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.

Topo de gama. De J. Rentes de Carvalho, no Tempo Contado.

Simbologia no Partido Socialista. Do Luís Novaes Tito, n' A Barbearia do Senhor Luís.

Em memória de José Medeiros Ferreira. De Cristóvão de Aguiar, n' A Destreza das Dúvidas.

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