O amor não é o dos romances, as senhoras não têm veias azuis e desmaiam, caem à cama com doenças do foro pulmonar.
Os homens não andam de chapéu, não frequentam uma tertúlia, não se levantam quando uma senhora entra na sala.
Alguns mantêm amantes. As mulheres também os têm.
Dito tudo isto, na verdade um pouco banal, podemos concluir que nos dias correm, um ano de casamento equivale a um ano de vida de cão.
Isto quer dizer que, apesar dos meus 43, tenho quase 70 de casada. Uma raridade? Sim.
Há dias, um miúdo dizia, no recreio, que o fulano X era bestial, "já foi meu pai". O outro miúdo pareceu aliviado.As segundas e terceiras famílias são outra banalidade.
A crise financeira implica connosco, com o tudo que existe nas suas vidas. A crise emocional é provocada por nós e por esta permanente vertigem em que vivemos: ligados ao telemóvel, ao site, ao blogue, ao facebook, ao twitter.
Um casal jantava, há uns dias, sozinho, num restaurante dito "da moda". Ambos de telemóvel na mão.
Pensei: bom, devem estar à espera da comida. O repasto chegou. A animação com os telemóveis continuou.
Lembrei-me então do livro de Luísa Costa Gomes, Ilusão ou o que lhe queiram chamar (D. Quixote). O protagonista tem duas famílias, sendo que uma é avatar, ou seja, vive num jogo chamado Second Life. Triste?
Não sei se a maioria das pessoas o sente com tristeza, tenho a certeza de que é um belo livro, isso tenho.
Estar casado e manter um casamento é exigente e mais difícil do que conseguir um emprego ou promoção (isto se quisermos entender por emprego qualquer tipo de emprego, claro está). Todos os dias temos de escolher amar aquela pessoa, mesmo que já não a possamos nem ver? Não, nada de tão dramático. O casamento que dura é aquele em que as duas pessoas não se abandonam. Virar costas é simples. Ficar é que é mais implicado.
Tem dias, se quiserem.
Dizia-me uma poetisa que tudo isto é uma consequência evidente da libertação das mulheres e ainda bem. Que os casamentos arranjados, que os casamentos de 50 anos com manadas de sapos por engolir já não existem. Não respondi. Os casamentos brancos, com manadas de sapos e outras espécies, ainda existem. A taxa de divórcio diiminuiu. Por causa da crise. Há mais queixas de abusos.
Há mais silêncios. Silêncios maus.
O bom silêncio? É para aqueles que não se esquecem de dizer tudo.