Sugestão: um livro por dia
À Noite Logo se Vê, de Mário Zambujal
Romance
(edição Clube do Autor, 2013)
"Por vontade expressa do autor, a presente edição não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990"
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À Noite Logo se Vê, de Mário Zambujal
Romance
(edição Clube do Autor, 2013)
"Por vontade expressa do autor, a presente edição não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990"
Pedro Magalhães agora em blogue com nome próprio.
À boleia com Catarina Serra Lopes Pelo Mundo...
Rui Ângelo Araújo estreia-se como romancista.
Desceu o pano na União de Facto.
Pinto da Costa sobre o Guimarães - Benfica: «Foi o dia do invisual».
«The girl wrote a story. "But how much better it would be if you wrote a novel," said her mother. The girl built a dollhouse. "But how much better if it were a real house," her mother said. The girl made a small pillow for her father. "But wouldn't a quilt be more practical," said her mother. The girl dug a small hole in the garden. "But how much better if you dug a large hole," said her mother. The girl dug a large hole and went to sleep in it. "But how much better if you slept forever," said her mother.»
Manuel António Pina dizia que qualquer texto pode, no limite, ser reduzido a uma palavra apenas. A nova-iorquina Lydia Davis ainda não chegou a tanto (ou tão pouco), mas não por falta de tentar:
“It has been so long since she used a metaphor!”
Percebe-se melhor a opção de Lydia Davis pelo conto curto quando se conhece dois factos: 1) é preguiçosa, e 2) traduziu Proust. Mas nem todos os contos de Lydia Davis são tão curtos quanto o supracitado. Os maiores estendem-se por uma dúzia de páginas. Outros, sendo de facto curtos, apenas porque conhecem o porteiro entram na categoria de contos. Não há propriamente respeito pelas regras do género. Os personagens só excepcionalmente têm nome, ou por nome têm todo um programa (“Old Mother”, “the Grouch”). Os locais são de geografia incerta. O narrador, quase sempre uma mulher, pode ou não ser a autora (que sei eu), mas em muitos casos é impossível ignorar uma voz autobiográfica. E por sobre todos os textos, não importa o quão desconcertantes ou desesperados, adeja um sentido de humor apurado. Certo é que cada conto - ou o que se lhes chame – é como que um monobloco, uma entidade tão acabada e expurgada de elementos supérfluos que qualquer adição ou subtracção, parece-me, a tornaria uma coisa completamente outra.
“My mother's dream is that someday she will save enough money to leave me and live in the country.”
Eu queria ser mais crítico, escrever uma recensão digna do nome, falar em como o estilo cirúrgico de Lydia Davis contém e transforma, mas de todo anula, as emoções; fico com a sensação de que já escrevi palavras a mais quando o que queria dizer era tão-só "Leia Lydia". Ponto. E desculpe as citações em inglês, mas tenho apenas a versão na língua original.
“I have decided to take a certain book with me when I go. I am tired and can’t think how I will carry it, though it is a small book. I am reading it before I go, and I read: 'The antique bracelet she gave me with dozens of flowers etched into the tarnished brass.' Now I think that when I go out I will be able to wear the book around my wrist."
E tu, caríssimo Fernando, diz cá – por que páginas vens tu passeando os olhos nestes dias?
A MORTE É UM ACTO SOLITÁRIO
de Ray Bradbury
Sou um leitor antigo e fervoroso de romances policiais. Tudo começou ao descobrir na biblioteca dos meus pais uns títulos que nada tinham a ver com os restantes: falavam de cadáveres desaparecidos, de vinganças implacáveis, do intolerável prazer de matar. Eram livros da Colecção Vampiro, como cedo vim a saber. Não tardei a frequentá-los com regularidade.
Ainda me lembro do primeiro que li, teria talvez uns dez anos: chamava-se O Detective Imperfeito, de Rex Stout. Não com o célebre Nero Wolfe, o mais sedentário investigador de crimes de que há memória, mas com um tal Tecumseh Fox, que nunca mais voltei a encontrar em nenhuma outra obra mas cujo peculiar nome nunca mais esqueci.
Devorei toda a literatura do género que me veio parar às mãos. Começando por Maurice Leblanc e o seu inapagável herói Arsène Lupin, por influência da série francesa então exibida na RTP: cheguei a ter a colecção quase completa destes livros lançados pela Editorial Notícias. Com títulos tão arrepiantes como O Mistério da Agulha Oca, Os Dentes do Tigre e A Ilha dos Trinta Ataúdes. (Onde estará hoje essa colecção? Não faço a menor ideia.)
Seguiram-se muitos outros autores, muitos outros títulos. Desde logo Agatha Christie, a Rainha do Crime. Todo o Conan Doyle, com e sem Sherlock Holmes. Quase todo o Simenon. Muito Erle Stanley Gardner -- com a infalível dupla Perry Mason-Della Street --, incluindo as obras escritas com o seu pseudónimo A. A. Fair.
Depois recuei aos primórdios, a Edgar Allan Poe, considerado o fundador do género. Li outros patriarcas do policial: G. K. Chesterton, Edgar Wallace, E. Phillips Oppenheim, S. S. Van Dine, John Dickson Carr. Actualizei-me com as novelas de Lionel White, Fredric Brown, Mickey Spillane, James Hadley Chase, Elmore Leonard e James Ellroy -- expoentes daquela escola de detectives a que os norte-americanos se habituaram a chamar hard-boiled, usando em regra a primeira pessoa do singular na boca do protagonista-narrador e adoptando uma atitude de generalizado cinismo perante a sociedade e os homens.
De vez em quando descobria uma obra-prima do género, como Disparem sobre o Pianista, de David Goodis, que esteve na origem da película homónima de François Truffaut, um excelente film noir que foi a segunda longa-metragem rodada pelo realizador francês, com um surpreendente Charles Aznavour no principal papel.
Li o britânico Nicolas Freeling. E o canadiano Ross Macdonald. E o suíço Friedrich Dürrenmatt. E o catalão Manuel Vásquez Montalbán, genial criador do detective Carvalho. E Ruth Rendell, legítima herdeira de Agatha Christie. Derivei para os romances de espionagem, deslumbrando-me com John Le Carré e decepcionando-me com Ian Fleming. Também fiquei decepcionado com Leslie Charteris, o criador do Santo. Nunca me converti a certos autores. Ellery Queen, por exemplo. Ou Peter Cheyney. E Dashiell Hammett sempre me deixou indiferente.
Li também os portugueses, quase todos com pseudónimo. Dennis McShade (Dinis Machado), Dick Haskins (António de Andrade Albuquerque), Artur Cortez (Modesto Navarro). Mais tarde, Francisco José Viegas -- em nome próprio -- com o seu inspector Jaime Ramos, homónimo do maior caceteiro do PSD Madeira, braço direito de Alberto João Jardim.
Regressei ciclicamente às origens. A Rex Stout, Agatha Christie, Simenon. Apaixonei-me pelas obras de Raymond Chandler -- e só lamentei que não tivesse sido um escritor mais prolífico: Philip Marlowe é uma das maiores criações literárias norte-americanas da primeira metade do século XX. Tendo apenas equivalente em Lew Archer, o detective saído da inspiração de Ross Macdonald (e que viria a ser interpretado no cinema por Paul Newman, réplica dos anos 60 e 70 ao Marlowe interpretado por Humphrey Bogart na década de 40).
Andava eu no auge da minha paixão pelos policiais, em meados dos anos 80, quando se tornou notícia com impacto mundial a conversão ao género de um dos autores mais emblemáticos da ficção científica: Ray Bradbury (1920-2012) A notícia justificava-se por serem dois géneros praticamente estanques, representados durante décadas em Portugal pelas colecções Vampiro e Argonauta, ambas com público muito fiel. Geralmente quem lia uma não lia a outra. Nem vale a pena dizer qual era a minha facção.
Mas eis que Bradbury, autor das Crónicas Marcianas, cometia a heresia de trocar a ficção científica, que lhe dera fama e proveito, pelo policial após vários anos de aparente inactividade. E com um título de estreia que me pareceu excelente: A Morte é um Acto Solitário (Death is a Lonely Business), lançado entre nós em 1987.
Não tardei a comprar o livrinho de capa preta, da Biblioteca de Bolso Dom Quixote. E lancei-me à leitura.
Primeira decepção: um corpo de letra demasiado reduzido. Sempre achei uma falta de consideração pelos leitores editarem-se livros nada recomendáveis a quem possua o mais leve indício de miopia ou tenha já a vista irremediavelmente fatigada.
Mas insisti, ainda embalado pela beleza do título. Recordo-me bem das páginas iniciais, que nos transportavam à praia de Venice, na Califórnia. Numa noite carregada de maus presságios.
Prometia, mas tardou em cumprir. Virava as páginas, o enredo adensava-se de tal forma que se tornava um quebra-cabeças para o leitor. Voltei atrás, recomecei, insisti. Em vão. Para cúmulo, a letra parecia-me cada vez mais pequena -- à dimensão do fio da história.
Parei a meio. Ou antes disso.
Não foi preciso contratar nenhum detective para chegar a esta conclusão: a estreia de Bradbury no policial não passava afinal de um pastiche mal sucedido de Chandler. E eu sempre preferi os originais às cópias, seja em que género for.
Hoje, já há muito extintos os ecos entusiásticos da imprensa sobre Death is a Lonely Business, Bradbury é recordado por ter sido um grande autor de ficção científica. Voltou tudo ao seu lugar: uma espécie de tardia vingança da colecção Argonauta contra a Vampiro.
No Correio de Minho (o órgão de comunicação social oficial de Mesquita Machado e do partido socialista mais isento e pluralista de Braga) na edição online (notícia de 27 de Setembro):
Má Despesa Pública nas Autarquias, de Bárbara Rosa e Rui Oliveira Marques
Investigação
(edição Alêtheia, 2013)
Ficámos agora a saber, pelo próprio, que Mário Soares nunca ganhou uma eleição legislativa em Portugal.
Aqui deixo os meus desejos para as eleições autárquicas de Domingo (senhores da CNE, antes que se ponham com ideias, saliento que são 23.50 do dia 27):
- Braga: vitória de Ricardo Rio
- Porto: vitória de Rui Moreira (ou até de Pizarro, se tivesse de ser)
- Gaia: derrota de Abreu Amorim
- Lisboa: já que Costa não pode perder, que Seara leve uma abada.
No Domingo à noite volto ao tema.
1. Repara bem nos rostos dos cartazes e deixa-te conduzir pelo teu sentido estético.
2. Antes de te decidires, informa-te bem sobre quem figura em número dois nas listas. Nunca se sabe: podes votar num e sair-te outro.
3. Se puderes, dá uma oportunidade a quem ainda não a teve.
4. Na dúvida, opta por uma mulher. Elas costumam ser melhores gestoras.
5. Mantém à distância um candidato que te trata por tu sem te conhecer de parte alguma.
6. O voto mais inútil é aquele a que muitos chamam útil.
A honestidade em política não é uma qualidade, é uma disfunção.
Dos grandes líderes. Do Mr. Brown, n' Os Comediantes.
Mudar de vida ou mudar de parceiros. Do Luís Naves, no Fragmentário.
Língua dominante. De Maria do Rosário Pedreira, no Horas Extraordinárias.
Indigências & cidadania. Do Pedro Rolo Duarte.
Crónica do Farol. Da Ana Cristina Leonardo, na Meditação na Pastelaria.
Dodge City (1939). De Henrique Fialho, na Antologia do Esquecimento.
Uma noite no sótão: um hálito de Laura Dern. Do Manuel S. Fonseca, no Escrever é Triste.
Hipóteses de vingança. Do Pedro Mexia, no Malparado.
(em actualização)
Os independentes verdadeiros e os verdadeiros dependentes vão a votos. Se o PSD perder por pouco, tirolilo, se o PS ganhar por pouco, tiroliloló. Juntaram-se os dois à esquina. Seguro disse, ai, ai, ai. Passos assegurou que etc.
A redução da despesa, a redução da desp. Não haverá mais rotundas. O memorando murmurando talvez um segundo resgate, quer mais cortes. Cortes é nas pensões. Inevitável. Inevitável emigrar. O desemprego e os emigras, à pocura de migralhas.
Os mercados ameaçam, iô. João Semedo exige. Portas jura. Mas os juros da dívida sobem. Pires de Lima garante que a Economia lai,lai,lai. Sócrates sorri, o professor Marcelo adverte e a Grécia em fundo, a Alemanha em cima, uma Almegrécia desalmada. Nem rotundas, nem piscinas, nem pavilhões, nem sequer propaganda na televisão. A Comissão Nacional de Eleições proibiu. Apesar de tolo, foi um descanso. Zzzzzzzzzzzzzzzzz
Se tens o poder, exerce-o. Ninguém espera menos que isso de ti.