Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

A cópia

João Campos, 25.03.13

 

Há alguns dias, enquanto fazia zapping, detive-me por alguns minutos num dos canais de notícias (TVI? É difícil dizer; para quem não os segue com regularidade são todos iguais). Passava um daqueles programas de comentário político muito na moda para ex-governantes; no caso, era Marques Mendes quem botava faladura. E fiquei surpreendido pelos gestos, pelo tom, pela postura. Pergunto: é só de mim, que não tenho por hábito acompanhar este tipo de programas, ou o homem tornou-se numa cópia (necessariamente inferior) de Marcelo Rebelo de Sousa?

Hasta siempre, Bebo Valdés

Pedro Correia, 25.03.13

 

"La libertad cuesta muy cara, y es necesario, o resignarse a vivir sin ella, o decidirse a comprarla por su precio."

José Martí

"Dentro de la Revolución todo; contra la Revolución, nada."

Fidel Castro

 

Fala-se muito da privação dos direitos políticos em Cuba, submetida desde 1959 à férrea oligarquia dos irmãos Castro. Fala-se muito menos da repressão cultural na ilha-prisão, onde escritores, poetas e artistas tão diversos como Cabrera Infante, Virgilio Piñera, Nestor Almendros, Carlos Franqui, Jesús Díaz, Reinaldo Arenas e Heberto Padilla se viram condenados consecutivamente ao silêncio, à prisão ou ao exílio por ousarem desafiar os dogmas do regime. Houve já quem chamasse "genocídio cultural" ao meio século de tirania comunista que impõe a lei da mordaça a um povo que é, como poucos, vocacionado para a liberdade.

Pensei nisto há dois dias, ao tomar conhecimento de que um dos mais geniais pianistas do nosso tempo nos disse adeus. Era Bebo Valdés, falecido aos 94 anos após mais quatro décadas de exílio voluntário. Foi um dos reis da noite de Havana nos anos 40 e 50, tendo chegado a actuar com Nat King Cole. Quando os barbudos de Castro desceram a Sierra Maestra, substituindo uma ditadura por outra de sinal contrário, ele fez uma declaração que viria a condená-lo ao ostracismo: "Sou neutral em matéria política." Uma frase destas bastava para que lhe pusessem o rótulo de contra-revolucionário.

Quando Fidel mandou expropriar os 955 bares e cabarés existentes na capital cubana, em Março de 1968, Bebo percebeu que era tempo de partir. A mãe fê-lo prometer que não regressaria enquanto vigorasse a ditadura e ele cumpriu a promessa: disse adeus à ilha, tornou-se cidadão do mundo. A Havana que transportava consigo era uma Havana mítica, há muito sepultada na poeira da memória.

 

Bebo imprimiu à sua música a inconfundível nostalgia do exílio, latente em cada acorde que colhia do piano. Como ele, muitos outros acabaram a espalhar o som cubano pelas rotas do desterro.

Castro, implacável, proclamou que a arte teria de ser posta ao serviço da revolução, começando por proibir os cubanos de escutar os Beatles. De proibição em proibição, todo o som dos exilados acabou por ser alvo da censura oficial na rádio e na TV. Três gerações da ilha foram assim impedidas de ouvir o intérprete de La Comparsa. E também Celia Cruz, a rainha da salsa - que a Billboard Magazine chegou a considerar "a mais influente figura feminina da história da música cubana": exilada em 1959, nunca mais regressou à sua Havana natal. E Olga Guillot, a rainha do bolero, que partilhou palcos com Frank Sinatra: partiu em 1961 sem olhar para trás.

 

É enorme a legião de músicos ou futuros músicos cubanos que a revolução castrista expurgou. Inclui o trompetista Arturo Sandoval, exilado em 1990 durante uma digressão em Espanha com Dizzy Gillespie. Cachao López, um dos mestres do mambo, que rumou em 1962 para os Estados Unidos numa viagem sem regresso. Willy Chirino, que partiu em 1960, ainda adolescente, e hoje é um dos mentores do movimento pacifista cubano Eu não coopero com a ditadura. Gloria Estefan, que já vendeu mais de cem milhões de discos, permanece longe do país natal, onde nasceu há 55 anos. Paquito d'Rivera - provavelmente o melhor saxofonista contemporâneo - pediu asilo político aos EUA, em 1981, quando se encontrava em solo espanhol: o jazz, sua especialidade, era considerado "música imperialista" naqueles anos de chumbo do regime.

Votaram com os pés, abandonando um regime que os oprimia. Cada qual a seu modo, todos sabiam que a criação artística é inseparável da liberdade.

 

Chipre, take 2

José António Abreu, 25.03.13

A proposta actual:

The country’s second-biggest bank, Laiki, would be wound down. Viable assets and insured deposits would be put into a “good bank”. Another €4.2 billion worth of uninsured deposits would be placed into a “bad bank”, to be disposed of, with no certainty that big depositors will get any money back.

The treatment of the biggest bank, Bank of Cyprus, was a bit less harsh. It is to be restructured severely by wiping out shareholders and bailing in bondholders, both junior and senior. Uninsured depositors would probably incur haircuts of the order of 35%, said senior sources involved in the negotiation. The “good bank” emerging from Laiki would be merged with Bank of Cyprus.

 

Dos erros da semana passada:

After the upheavals of the past week, and months of earlier negotiations, the euro zone has ended up with a deal that is similar to the solution first proposed by the IMF, which was backed by Germany but rejected by Cyprus (and to some extent by the European Commission). The IMF had suggested winding down both Laiki and Bank of Cyprus and splitting them into good and bad banks. Now Mr Anastasiades has salvaged the shell of the Bank of Cyprus, but at the cost of encumbering it with bad assets. The scale of the bail-in that will be required to bring it to the target capital-ratio of 9% remains unclear.

It took a popular protest, and a threat by the European Central Bank to cut off liquidity to Cyprus by March 25th if a deal were not reached, to change Mr Anastasiades’s mind about trying to protect those big foreign depositors at the expense of small domestic savers.

[…]

Even France, usually the champion of “solidarity”, could not summon the will to bail out Cyprus’s “casino” banking, as Pierre Moscovici, the French finance minister, put it.

 

E para que não restem ilusões:

Nobody doubts that, after such a severe blow to its lucrative banking sector, Cyprus will be pushed into a harsh recession. Some sources in the troika tentatively estimate that GDP will shrink by about 10% before any hope of recovery.

 

Do Economist.

Asneira em dose dupla

Pedro Correia, 24.03.13

   

  

É uma questão de conflito de interesses mal resolvida. Ser administrador de uma empresa que elabora sondagens eleitorais e ao mesmo tempo apoiante declarado de uma candidatura a esse mesmo escrutínio são condimentos certos para dar asneira. Cumprindo os preceitos da Lei de Murphy, neste caso a asneira aconteceu mesmo. E em dose dupla. José Couceiro, derrotado nas eleições do Sporting, só conseguiu sagrar-se "vencedor" nas sondagens da empresa desse seu apoiante, numa afirmação viva do antigo preceito "não basta querer - é preciso poder".

As sondagens falharam redondamente. Nada que não tivesse ocorrido noutras eleições, nada que não se adivinhasse nestas também. Admira-me é haver quem persista em encomendar estudos de opinião a quem é recorrente no erro, talvez confundindo desejos com realidades. Se não é, parece. E no futebol, como na política, o que parece é.

Na altura, entre as hostes de Couceiro, houve quem tivesse embandeirado em arco. Sem motivo, como agora se vê. As referidas sondagens só iludiram quem gosta de ser tomado por parvo. Vistas à distância, têm apenas a vantagem de nos fazer rir. Num clube onde o riso escasseia, valha-nos ao menos isso.

Sócrates, el comentador

Rui Rocha, 24.03.13

  

Pelo visto, a imprensa espanhola está surpreendida com a contratação de José Sócrates pela RTP. O La Vanguardia, por exemplo, afirma que em Espanha a ninguém passaria passaria pela cabeça que Zapatero aparecesse na televisão em horário nobre para comentar a actividade política semanal. Parece-me, todavia, que se trata aqui de ver a coisa pelo ângulo errado. Não constitui surpresa que uma televisão aproveite a oportunidade para concretizar uma contratação que lhe garante, goste-se ou não, enorme notoriedade e o correpondente share de audiências. Seria assim em Portugal ou em Espanha. O que é verdadeiramente surpreendente é que a cara-de-pau e o ego desmesurado de alguém lhe subtraia o módico de vergonha necessário a perceber a desfaçatez implícita na decisão de expor-se publicamente depois de ter conduzido o país à bancarrota. É esse resto de contenção que falta a Sócrates e que Zapatero mantém.

Blogue da Semana

José Maria Gui Pimentel, 24.03.13

A China é, porventura, o país do Mundo que maior choque cultural provoca aos imigrantes ocidentais, o que faz dos blogues que relatam as suas experiências uma mina de histórias inesperadas. De entre os vários exemplos, o Peking Duck é, sem dúvida, uma boa escolha. 

 

Recentemente, tem sido muito discutido se é possível a um estrangeiro adaptar-se completamente à sociedade chinesa, uma polémica que foi espoletada pela decisão de dois expatriados -- Mark Kitto, primeiro, e Charlie Custer, depois -- de deixar o país, ou, melhor dizendo, pelos motivos que invocaram para o fazerem.

Novo ciclo no Sporting

Pedro Correia, 24.03.13

 

"A partir de agora mandamos nós. O Sporting é nosso outra vez!"

Primeiras palavras do presidente recém-eleito. O presidente de todos quantos se orgulham de ser sportinguistas.

Os sócios falaram, como há muito se impunha, nas terceiras eleições mais concorridas de sempre no Sporting. Contra todas as campanhas de ódio, contra o situacionismo militante, contra as providências cautelares do baronato, contra todas as manobras que tentaram silenciar um clube que se preza de ser livre.

Os sócios falaram pelo meio adequado: o voto democrático. Em números expressivos.

Bruno de Carvalho é o novo presidente do Sporting - o meu presidente também. Um clube que é dos sócios e não de nenhuma clique.

Cumprimentado de imediato com fair play pelos candidatos derrotados, Bruno de Carvalho personifica um novo ciclo que arranca sem demora. Agora há que começar a edificar o futuro em Alvalade.

Unidos como nunca. E sem olhar para trás.

Ler

Pedro Correia, 23.03.13

A pulsão natural para silenciar os adversários. Do Paulo Gorjão, na Bloguítica.

A ver se percebi bem. Do Alexandre Borges, no 31 da Armada.

Um desastre para todos. De José Medeiros Ferreira, no Córtex Frontal.

Terra Chã, 15 de Março de 2013. Do Joel Neto, n' A Vida no Campo.

A Eternidade do que é Imaterial ou de como o Futuro se faz Hoje. de Regina da Cruz, no Estado Sentido.

O que me cativa e comove. Do Pedro Rolo Duarte.

Aguardo com expectativa. Da Marta Romão, no Astro que Flameja.

O Drama da Europa. Do Luciano Amaral, na Crise Crónica.

Pior é sempre possível. Da Ana Cristina Leonardo, na Meditação na Pastelaria.

Nicolás Maduro, um Berlusconi de esquerda? Do Carlos Faria, no Forte Apache.

'Toy Stories'. Do João Lopes, na Sound + Vision.

Stairway to Heaven. De Pedro Góis Nogueira, no Desertações.

O dedo grande do pé. Do Manuel S. Fonseca, no Escrever é Triste.

Também tu? De Rui Ângelo Araújo, n' Os Canhões de Navarone.

Atenção, não faça isto em casa. De Nelson Reprezas, no Espumadamente.

 

(actualizado)

Poesia por Filipa Leal

Patrícia Reis, 23.03.13

"No fundo dos relógios"

"Demoro-me neste país indeciso
que ainda procura o amor
no fundo dos relógios,
que se abre
como se abrisse os poros solitários
para que neles caiam ossos, vidros, pão.
Demoro-me
no ventre desta cidade
que nenhum navio abandonou
porque lhe faltou a água para a partida,
como por vezes desaparece a estrada
que nos conduz aos lugares
e ali temos que ficar."

de Filipa Leal, _A Cidade Líquida e outras texturas_ 2006 (p. 22)