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Delito de Opinião

O Torgal Ferreira

jpt, 02.03.13

 

O Torgal Ferreira manda umas bocas aos homossexuais e a esquerda homofílica cala-se. Diz que os acusados (sejam lá do que sejam) têm de provar que estão inocentes e a malta cala (o provedor dos advogados, um advogado não castrado como perorou recentemente, fica-se no silvo do eunuco). E de novo vem vituperar o governo e apelar a manifestações ("ai se me pudesse manifestar", geme) de rua? Torgal Ferreira é general, e nessa condição diz o que quiser sobre os homossexuais e diz o que quiser sobre o sistema jurídico? Talvez. Mas quando critica publicamente o governo e apela a manifestações de rua o que se deve fazer? Voz de prisão, sem mais nem menos. Só a cobardia acossada de um sistema político degenerado permite isto.

 

Não, não, dizem os hipócritas dos argumentos a la carte, não é general, é "apenas" um bispo equiparado? Chame-se o Núncio Apostólico, em explícita linguagem diplomática, e ponha-se o vate em ordem - numa qualquer paróquia argelina ou saudita. E, já agora, acabe-se definitivamente com a pantomina (Inconstitucional? Ridícula.) do "capelão das forças armadas". E quando os beatos da "tradição católica", do "santo padroado" vierem resmungar com isso, responda-se-lhes, apenas, "torgal". Será argumento suficiente para acabar a discussão. Que nem sequer o merece ser.

A política tem horror ao vácuo

Pedro Correia, 02.03.13

 

Os italianos acordaram ontem com uma estranha sensação de vazio, como notava o correspondente em Roma do El País: "Não há Papa, não há Governo e o idoso Presidente da República, Giorgio Napolitano, já avisou que partirá mal termine o seu mandato, o que sucederá dentro de poucas semanas."

 

Em Itália desenham-se três cenários pós-eleitorais: um entendimento "à esquerda" (mas como considerar Beppe Grillo de esquerda se ele dispara em simultâneo contra a esquerda e a direita, e é contra a naturalização ipso facto dos filhos de imigrantes já nascidos em solo italiano, uma bandeira da esquerda no país?), uma "grande coligação" (com um putativo "abraço de urso" de Silvio Berlusconi ao líder do Partido Democrático, Pier Luigi Bersani, que este terá toda a conveniência em recusar, como aliás lhe pedem os militantes de base) ou novamente um Governo de catedráticos extra-política, versão Monti parte II, a designar pelo respeitado Presidente Napolitano, de 87 anos.
Esta última solução - que já não poderia contar com Mario Monti, humilhado nas urnas - perverte os resultados eleitorais e desrespeita a vontade popular. É bom que isto seja dito com clareza a todos quantos se arrepiam com o "populismo" à solta no espectro político europeu. Por mim, não diabolizo as opções populistas desde que decorram dentro do sistema democrático: as minhas precauções nesta matéria são sempre contra o populismo antidemocrático. O que não vai a votos.

 

Se as forças emergentes deste escrutínio (incluindo naturalmente o estreante movimento de Grillo, que obteve 8,5 milhões de votos, elegendo 54 senadores e 108 deputados) não produzirem uma solução governativa, o menor dos males é ouvir novamente os eleitores.

Sempre mais democracia, nunca menos democracia.

Foi, de resto, o que sucedeu na Grécia, em Junho do ano passado. E com bons resultados, atendendo às circunstâncias.

Felizmente a democracia - como a política em geral - tem horror ao vácuo.

Que se linche o teu irmão

Pedro Correia, 01.03.13

Por muito menos, este senhor proclamou-se vítima de um linchamento. Agora, estando sob mira pública um irmão na fé, e sem o menor assomo de caridade cristã, ei-lo a acender a fogueira num tema onde todas as precauções são devidas sendo a natureza humana o que é e tendo provocado os assassínios de carácter que já provocou. Repare-se no nível intelectual desta argumentação: "Ouvi que ele tinha tido um comportamento dessa ordem." E desta, que inverte o ónus da prova: "Não possuo quaisquer elementos que provem que isso não é verdade."

Se não é linchamento, imita bem. Sobretudo após o categórico desmentido do visado, a quem não pode ser negado o direito à defesa. E do louvável acto de contrição já assumido por outro interveniente na polémica.

Merece forte penitência por tão ruim pecado, senhor bispo.

 

Duas horas no nevoeiro (1)

José António Abreu, 01.03.13

No dia 2 de Outubro de 2008 eu estava de férias. Apesar disso, levantei-me por volta das sete da manhã, acto que pode não suscitar particular admiração na maioria dos humanos normais (trinta e oito por cento dos leitores do Delito, segundo o analisador de estatísticas) mas, vindo de alguém que passou a adolescência a duvidar que as manhãs de sábado e de domingo fossem outra coisa que não um mito, é digno de registo. Depois de ir à casa de banho, de me vestir e de comer qualquer coisa (julgo), peguei na sacola com a máquina fotográfica e saí de casa. Meti-me no carro e desci pela rua do Cavaco (a que, do lado de Gaia – para os que ainda não sabem, moro em Gaia –, passa sob a Ponte da Arrábida) até à beira-rio. Estacionei o carro e segui a pé em direcção à Ponte Luiz I. Pelo caminho, fui tirando fotos. Trinta e uma aparecerão aqui durante o mês de Março, ao ritmo de uma por dia, sempre à hora a que foram tiradas. Talvez devesse ter sido mais exigente e escolhido menos fotos, de forma a diminuir a possibilidade de repetição. (Podia ter feito isto em Fevereiro, por exemplo, que só reclamava vinte e oito.) Ou, por uma questão de coerência temporal, talvez devesse ter adiado esta série de posts até Outubro. Mas toda a gente já conhece o meu reduzido grau de exigência (até passo por apoiante entusiástico do actual governo) e, quanto à lógica, aceitei que era diminuta há um quarto de século, ao deparar-me, no segundo ano de universidade, com uma professora de Métodos Estatísticos que fazia o processo mental de Hercule Poirot parecer um discurso de Jorge Sampaio (aquilo não era uma mulher, era um computador com mamas). Ou quiçá eu vá fazer isto nestes moldes tão provavelmente errados e, em termos mais genéricos, ainda hoje ande a tomar um montão de decisões erradas por, na tal noite de 1 para 2 de Outubro de 2008, ter dormido pouco. Não faço ideia. Seja como for, a série está apresentada. Podem dizer a verdade ou mentir na caixa de comentários, desde que comecem por "Uau, fantástica" e nunca alterem a opinião durante o resto do comentário. Eu aguento.

(Nota: para evitar uma dose excessiva de fotos no blogue, durante o corrente mês será suspensa a série de "fotografias tiradas por aí".)

 

07:38:32

A Europa "grillada".

Luís Menezes Leitão, 01.03.13

 

No Brasil usa-se muito a expressão "grilado" no sentido de aborrecido ou preocupado. É precisamente o estado de espírito que grassa na Europa depois do extraordinário resultado obtido por Beppe Grillo nas eleições italianas e do regresso à ribalta de Silvio Berlusconi. Na Alemanha o líder do SPD, Peer Steinbrück, em mais uma demonstração da tradicional arrogância germânica, referiu ter ficado chocado com a vitória de dois palhaços. Talvez lhe devessem ter respondido que os italianos gostam mais de palhaços do que de fantoches. Mário Monti, embora tenha feito um bom governo, não passava de um fantoche dos mercados, nunca tendo sido eleito por ninguém. Foi Primeiro-Ministro e como se viu vale eleitoralmente menos que qualquer cómico que surja na política italiana. Ora, nesta fase de crise não há nada pior que um Governo sem legitimidade democrática. Os aspirantes a Monti que se lembrem disso.

 

E, no entanto, o desespero pode levar os eleitores a fugir completamente aos partidos tradicionais, mesmo que seja para eleger palhaços. Há uns anos, ficou célebre no Brasil o slogan do palhaço Tiririca: "Vote no Tiririca, pior do que está não fica". E de facto o palhaço Tiririca lá foi eleito para o Congresso, tendo depois renunciado porque o achou um aborrecimento. Beppe Grillo não é, porém, um Tiririca. Goste-se ou não, é alguém que apresentou um projecto eleitoral e conseguiu 25% dos votos, tendo que ser tomado em consideração para a formação de qualquer governo. Não estou a ver como vai ser possível, no entanto, os outros partidos entenderem-se com ele. Mas uma repetição das eleições seria como dizer ao eleitorado que se enganou, o que até poderia reforçar a votação de Grillo.

 

Por cá, tenho igualmente receio que o eleitorado, completamente desesperado por uma governação sem soluções, e com uma crise que todos os dias se agrava, também caia em qualquer canto de sereia de que "pior do que está não fica". Depois dos protestos contínuos a que temos assistido nos últimos dias, vamos ver no que vai dar a manifestação do próximo sábado. 

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