Ser feliz em Londres
Em 2007, quando preparava o meu doutoramento, tive a oportunidade de fazer investigação na British Library, junto à estação de King’s Cross. O edifício, construído em 1997, é extraordinário, devido à sua funcionalidade: oito salas de leitura distribuídas por dois andares, uma pequena sala de concertos, um andar para exposições, salas de conferências, uma loja, uma livraria, restaurante, bar e bengaleiro – dispostos em redor da magnífica biblioteca de Jorge III, protegida por um vidro especial, a qual pode ser contemplada onde quer que nos encontremos no edifício.
A decoração é simples, mas com bom gosto. Os pormenores são deliciosos: sofás espalhados ao longo dos corredores convidam a uma pausa tranquila, enquanto se lê o jornal. Existem pequenas mesas de trabalho espalhadas por todos os andares, permitindo que jovens e velhos, estudantes ou simples curiosos, possam frequentar o espaço e dele tirar proveito sem restrições: seja para preparar um teste, navegar na Internet ou concluir um Sudoku.
As salas de leitura contêm um espólio impressionante – 13 milhões de livros, um milhão de jornais, 3 milhões de registos sonoros. A consulta é livre – basta mostrar o cartão de leitor (gratuito). O horário é alargado (9.30h-20h) e a biblioteca está aberta ao sábado até às 17h. As salas de leituras estão apetrechadas de dezenas de espaçosas mesas individuais de trabalho. Existem mais de cem computadores em cada sala, a partir dos quais se podem fazer diversos pedidos, usualmente atendidos num curto período. Um óptimo conjunto de revistas em formato electrónico e uma impressionante colecção de microfilmes estão à disposição do estudioso que necessita de materiais de difícil acesso.
Os funcionários são prestáveis, eficientes e conhecedores da biblioteca. Nunca hesitei em pedir informações sobre as colecções, a forma de requisitar jornais antigos ou tão simplesmente de como fotocopiar um determinado livro. Responderam-me sempre com eficácia – às vezes mesmo com um sorriso.
Frequentam a biblioteca centenas de pessoas – o que perante estas condições não surpreende. Num dos dias em que me encontrava na sala de leitura de Humanidades – e para meu grande espanto – pude mesmo ouvir através dos altifalantes a seguinte informação: “Lamentamos comunicar que a sala de leitura está neste momento lotada. Pedimos às pessoas que desejam um lugar sentado que aguardem alguns momentos”. “É a hora de ponta”, explicou-me uma funcionária. Surpreso, vi formar-se uma fila no exterior. Uma vintena de pessoas esperavam que alguém saísse, para poderem ocupar um lugar na sala de leitura.
Filas para entrar numa biblioteca: ora aí está uma coisa que não se vê todos os dias.