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Delito de Opinião

É preciso saber...

Helena Sacadura Cabral, 30.06.12

Ora aqui está uma canção que me acompanha há muitos e muitos anos, cuja letra jamais esqueci, porque considero que contém uma autêntica lição de vida, quer sejamos novos, velhos, ou assim assim.
Saber sair a tempo - dos deslizes possíveis, das amarguras eventuais, das falsas alegrias, enfim, daquilo que nos pode tornar infelizes -, é uma escola de vida e meio caminho andado para se ser mais feliz. Há muito que a pratico e não me tenho dado nada mal!

Elvas e as suas muralhas

João Carvalho, 30.06.12

 

As muralhas de Elvas passaram a ser hoje património mundial classificado pela UNESCO na categoria de bens culturais. Uma classificação justíssima para um extenso conjunto de património histórico construído que inclui todas as fortificações da cidade, um forte do século XVII e outro do século XVIII, três fortins do século XIX, três muralhas medievais, uma muralha do século XVII e o aqueduto.

Trata-se da maior fortificação abaluartada do mundo. O conjunto remonta, nos seus primórdios, ao reinado de D. Sancho II e tem um perímetro com cerca de dez quilómetros e uma área que ronda os 300 hectares.

Cenário de contadas e recontadas batalhas e de encontros e desencontros luso-espanhóis, Elvas pode ser uma bela visita de férias, pela exemplar conservação patrimonial que versa grandes momentos da nossa História e agora com o interesse a que acresce a honrosa classificação.

Macau: laços de ternura

Pedro Correia, 30.06.12

Nunca me esquecerei da imagem. Numa luminosa manhã de Inverno, descia a colina de São Januário em direcção ao Jardim de São Francisco quando os vi, subitamente, numa curva do caminho. Andavam num ritmo oscilante, medindo cada passo transposto na calçada. Pareciam um casal como tantos outros. Mas não eram. Ali à minha frente estava a real explicação para a presença multissecular de Portugal em Macau.

O senhor idoso, de longo bigode grisalho, era inequivocamente português; a senhora idosa que seguia a seu lado, envergando seda estampada, tinha traços fisionómicos claramente chineses. Iam de braço dado, unidos num elo que parecia indestrutível, como se aquela fosse a primeira manhã do mundo.

Fiquei a vê-los passar na lenta ascensão rumo ao hospital, situado no topo da colina – uma das sete de Macau. Iam decerto a uma consulta médica. Já não me lembro se conversavam: talvez lhes bastasse um ténue fio de ternura para estabelecerem comunicação, como acontece a tantos casais idosos. Este quadro humano teve, para mim, o efeito de uma revelação: aquele português e aquela chinesa de braços entrelaçados, apesar do óbvio desgaste dos anos, eram uma metáfora viva da própria Cidade do Nome de Deus.

O nosso maior vínculo a Macau não vem estampado em nenhum manual de história: ali deixámos pouca fé, nenhum império, quase nem vestígio de negócios da China. Se contássemos, por exemplo, com o dinamismo empresarial para perpetuar os pergaminhos lusos naquelas paragens, bem podíamos esperar sentados. Até a comercialização dos nossos pastéis de nata se deveu à inspirada iniciativa de um súbdito britânico…

“Outros países têm igrejas, palácios, museus ou mesmo cataratas do Niágara e Vesúvios para mostrar. A China tem, em vez de tudo isso, um muro”, lamentava Alberto Moravia. De certa forma, só os portugueses conseguiram suplantar o muro: fomos o único povo ocidental que se uniu à etnia chinesa para formar uma comunidade mestiça. Os macaenses comprovam tal facto.

Os discursos oficiais de louvor ao entendimento luso-chinês são levados pelo vento, os interesses económicos mudam ao sabor das circunstâncias, as garantias seladas em acordos podem ser rasgadas, até as pedras ameaçam ruir. Só os laços de sangue perduram. Falam mais alto e calam mais fundo do que tudo o resto. Esta voz do afecto em que fomos pioneiros há-de continuar a repercutir, como eco de longínquo búzio, o doce nome de Macau.

 

                         

Imagens: Ruínas de São Paulo (em cima), Porto Interior e Ilha Verde há cerca de cem anos (ambas do blogue Macau Antigo)

 

DSK e Sinclair

Helena Sacadura Cabral, 30.06.12

 

O ex-director do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, que actualmente enfrenta uma investigação sobre um suposto envolvimento com uma rede de prostituição em França, estará em processo de divórcio com a mulher, Anne Sinclair.

Sinclair, de 63 anos, retomou a sua carreira como directora editorial da edição francesa do “Huffington Post”, depois de ter abdicado da sua profissão para apoiar as ambições políticas do marido, dirigente do Partido Socialista Francês e até ao episódio do Hotel Sofitel em Nova Iorque, o favorito para enfrentar Nicolas Sarkozy nas presidenciais francesas.                                         

Depois de 20 anos juntos, Sinclair – que se apaixonou pelo antigo ministro das Finanças depois de o ter entrevistado – manteve-se firme ao lado do marido durante todo o escândalo da alegada violação de uma funcionária do Hotel Sofitel de Nova Iorque, em Maio de 2011.                                

Em Março deste ano, a justiça de Lille acusou DSK de “proxenetismo agravado em rede organizada” no âmbito de um processo relacionado com festas e orgias no hotel Carlton. Uma vez que o sexo com prostitutas não é crime em França, o que está a ser investigado é a suspeita de que essas orgias possam ter sido organizadas por empresários amigos de DSK e financiadas com verbas de empresas de Lille – que a par de Paris e Washington terão sido palco das festas.

 

Se tudo isto for verdadeiro - confesso que ainda duvido -, mais uma vez se prova que sexo e política é uma mistura explosiva...

Da vida dos insectos

Bandeira, 30.06.12

José Bandeira


Uma cidade é sempre duas: a que se vê à luz do dia e a que se adivinha de noite. Banalidade, eu sei, sempre foi assim e tal. Mas a luz do néon, mesmo se sem o fulgor e o fascínio de outrora, quase sempre surpreende no caminho escuro. Olhando-a por algum tempo sobrevém-nos a melancolia. E tem-se um vislumbre do encanto sórdido que atrai o insecto para a sua própria morte.


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(Guimarães, 2012, foto José Bandeira)

"E aí está o xis". Ou pelo menos um deles...

Ana Lima, 30.06.12

Quando regressava hoje a casa, no final de um mês em que, em anos anteriores, a minha conta bancária estava um pouco mais aliviada, ouvi uma notícia extraordinária. Pois parece que o governo teve que alargar o prazo para os contribuintes portugueses, com contas no estrangeiro não declaradas em Portugal, regularizarem a sua situação tributária. Isto porque, a "corrida" ao RERT (Regime Excepcional de Regularização Tributária) registou uma afluência tal nos últimos dias que os próprios serviços "entupiram".

Ora sendo o RERT um regime especial de incentivo à regularização de dívidas fiscais relativas a contas e participações financeiras não declaradas por contribuintes portugueses, sedeadas fora da União Europeia (paraísos fiscais incluídos), ele permite também a "Exclusão da responsabilidade por infracções tributárias que resultem de condutas ilícitas que tenham lugar por ocultação ou alteração de factos ou valores que devam constar de livros de contabilidade ou escrituração, de declarações apresentadas ou prestadas à administração fiscal ou que a esta devam ser revelados, desde que conexionadas com aqueles elementos ou rendimentos", ou seja uma espécie de amnistia fiscal aos contribuintes com património não declarado no estrangeiro. O regime impõe uma taxa única de imposto de 7,5% sobre os valores, não faz qualquer pergunta sobre a sua origem e não implica o seu repatriamento.

O que eu considero extraordinário nem é o facto deste regime existir. Ele é mais favorável ao Estado que o anterior, que previa uma taxa de apenas 5%, e o valor do imposto pago até agora, segundo as Finanças, supera já os 150,1 milhões de euros, sendo a receita superior à acumulada nos dois regimes de regularização anteriores. Boas notícias para os cofres do estado, portanto.

Mas o que não deixa de me espantar é a existência de tanto dinheiro nesta situação. Se 150,1 milhões de euros são 7,5% há, por esse mundo fora, muito dinheiro que, se tributado cá, seria certamente uma grande ajuda. E estes milhões dizem apenas respeito aos pagamentos de quem quis regularizar a situação. Imaginemos os outros...

Não pude deixar de me lembrar desta canção da Gal Costa que deixo aqui. Outro país, outros tempos. É verdade, mas, não estamos assim tão longe e, tal como na canção, assim não se pode (mesmo) ser feliz.

 

De pequenino se torce o pepino e se começa a odiar a escola

Leonor Barros, 29.06.12

De acordo com o novo calendário escolar ou proposta dele, as crianças do 4º ano poderão vir a ter aulas até 5 de Julho. Esta extensão de calendário será apenas para as crianças com dificuldades, pobres delas, duas vezes castigadas, uma porque têm dificuldades, seja lá o que isso for num quarto ano de escolaridade, mas depois de ter ouvido que uma criança ia mal preparada do infantário para o primeiro ano do Básico vale tudo, a segunda porque não terão descanso nem tempo para ser o que são: crianças. Algo me diz que é escola a mais e infância a menos. Feliz de mim e de outros como eu que tinham tempo para brincar na rua em Junho quente, sem preocupação de aulas no dia seguinte, Verões que se arrastavam lânguidos e felizes. 

Muito mais do que um desporto

Pedro Correia, 29.06.12

 

Fértil em imagens iconográficas, este Euro 2012 acaba de fornecer-nos mais uma: o abraço emocionado de Mario Balotelli - herói da meia-final de ontem entre a Itália e a Alemanha, que afastou a equipa germânica do embate final contra a Espanha em Kiev - à sua mãe adoptiva. O futebol é muito mais do que um desporto: este abraço, ganhando a força de um símbolo, adquire dimensão universal.

Quando a norma equivale ao erro

Pedro Correia, 29.06.12

«Invejo a burrice, porque é eterna.»

Nelson Rodrigues

 

O que dantes era emendado como erro básico de ortografia, próprio de gente burra, agora é mantido solenemente em artigos de jornal por vir com a chancela quase oficial da agência Lusa, primeiro órgão de informação a substituir o português pelo acordês. Os resultados estão à vista: a palavra contacto, que nem o "pacto de submissão" aos interesses das editoras brasileiras previa, é amputada duas vezes no mesmo texto de origem (e felizmente emendada no título do jornal). Na dúvida, opta-se pela burrice à boleia do tal acordo destinado a suprimir consoantes.

Começa-se pelas chamadas "consoantes mudas" e logo se transita para a caça às sonoras, que assim deixam de o ser. Até cada um passar a escrever como lhe der na real gana. Sem norma, com imensas "facultatividades", sem a noção básica da etimologia. Como António Guerreiro sublinha aqui, a propósito de panóptico, palavra que «nunca teve outra pronúncia que não fosse a da 'norma culta'» e que apesar disso passou alarvemente a escrever-se panótico por imposição dos "corretores ortográficos" em acordês.

À falta de um vocabulário ortográfico comum - promessa nunca concretizada pela brigada acordista - passa a valer tudo: erro e norma tornam-se irmãos siameses. «O AO, estúpido como é - de uma estupidez cómico-grotesca -, promove constantemente erros de hipercorrecção, sem fornecer meios que os possam evitar. E, hipertélico, acaba por ir além dos seus próprios fins e anulá-los. Sem o 'p' a palavra refere-se à audição, e não à visão, ou então é utilizada no campo da química para designar um corante», sublinha Guerreiro, crítico literário do Expresso.

Sábio - nesta matéria, como em tantas outras - era Fernando Pessoa. Que escreveu, cheio de razão: «A ortografia é um fenómeno da cultura, e portanto um fenómeno espiritual. O Estado nada tem com o espírito. O Estado não tem direito a compelir-me, em matéria estranha ao Estado, a escrever numa ortografia que repugno, como não tem direito a impor-me uma religião que não aceito.»

Sobretudo quando procura impor uma norma que equivale ao erro.

Publicado também aqui

Dificuldades de comunicação

Ana Lima, 29.06.12
Perante esta imagem duas hipóteses se colocam: ou, numa tentativa de tornar mais compreensível a linguagem hermética das explicações dos homens de Bruxelas, Durão Barroso tem aproveitado o seu tempo para aprender língua gestual (tendo começado pela LGA, a alemã) e, a partir de agora, nas conferências de imprensa, enquanto Van Rompuy se exprime verbalmente, o presidente da Comissão Europeia acompanha-o, utilizando este outro sistema de comunicação; ou, por analogia com a publicidade a uma marca de iogurtes destinados ao público infantil, e num assomo de optimismo, embora desmentido pela sua expressão, mostra que "falta um bocadinho assim" para que se chegue a um acordo exequível.
Seja como for, nem com esta ajuda extra parece possível, ao cidadão comum, entender como vai este pacto contribuir para o crescimento e o emprego.
  
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