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Delito de Opinião

Mater

Laura Ramos, 01.05.12

 
Onde conseguimos arrumar a dor - apenas arrumar - e depois seguir adiante?

Acredito que é uma tarefa que só depende da inteligência.

Não direi que desprezo os piegas.

Mas digo que admiro a força racional dessa inteireza que nos leva a administrar a perda com a audacidade desconfortável da lucidez intacta. E o conforto humano das lágrimas privadas.

Sabemos que nunca mais nada voltará a crescer no lado que nos comeram. Mas fazemo-nos de novo à vida sem desculpas.

Talvez as mulheres aprendam este verbo por herança ancestral.

 

Esta é a minha pequena homenagem à Helena: sem disfarçar a satisfação que sinto quando as pessoas não me desiludem.

É tão raro. E tem um nome: exemplo.

1º de Maio - há futuro para os sindicatos?

Rui Rocha, 01.05.12

 

O dia do trabalhador serve, naturalmente, para comemorar a luta histórica pelos direitos laborais. Mas, não estaria mal que servisse também para reflectir sobre o papel dos sindicatos. Ao longo do tempo, e socorro-me aqui de Olivier Blanchard, as organizações sindicais assumiram as funções principais de i) prover aos seus membros em caso de desemprego, ii) representar os interesses dos trabalhadores a nível nacional, iii) extrair rendas das empresas e do Estado, iv) proteger os trabalhadores da exploração empresarial. Ora, se bem virmos, há uma clara erosão do papel dos sindicatos em qualquer dessas dimensões. Na verdade, a protecção social no desemprego foi progressivamente assumida pelo Estado mesmo nas geografias em que os sindicatos tinham alguma tradição nessa matéria. A representação é também um ponto crítico na análise do movimento sindical. Desde logo, os sindicatos não representam, ou representam mal, uma parte significativa da força de trabalho. Em geral, os desempregados não encontram propostas válidas no movimento sindical. Da mesma forma, os precários também não são a sua prioridade. Em rigor, os sindicatos não representam os trabalhadores. Representam os que têm trabalho estável e, tendencialmente, os menos jovens. E, mesmo assim, com algumas limitações. Na verdade, a esmagadora maioria dos trabalhadores não está sindicalizada nem participa na eleição dos representantes. A legitimidade dos sindicatos estabelece-se de cima para baixo, muito mais por força da lei do que por um real enraizamento do movimento junto dos trabalhadores. Por outro lado, a extracção de rendas do Estado e das empresas já conheceu melhores dias. A contracção dos salários da função pública aí está a demonstrá-lo. Da mesma forma, a protecção dos trabalhadores perante a exploração empresarial foi, também ela, progressivamente assumida pelo Estado. Perante uma denúncia, a inspecção do trabalho é, em geral, muito mais eficaz e detém meios coercivos que não estão ao alcance dos sindicatos. Perante tudo isto, sobra a questão sobre o futuro dos sindicatos. É uma pergunta sem resposta evidente. Mas, é evidente que os sindicatos, se quiserem ter futuro, terão de mudar. Apesar da concorrência do Estado, a luta contra a exploração no local de trabalho parece ser a via de sobrevivência mais evidente. Mas para que seja viável, é necessário que os sindicatos e os sindicalistas regressem aos locais de trabalho e aceitem o risco de encontrar uma nova legitimidade que se estruture de baixo para cima.

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