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Delito de Opinião

Reflexão do dia

Pedro Correia, 29.09.11

«Estou a ficar velho por causa do acordo ortográfico. Aos 37 anos, sou um daqueles velhinhos que teimam em escrever 'pharmácia' porque no tempo deles era assim. Bem sei que é cedo demais para estas teimosias, mas resisti até onde pude. Eu tentei não ser reaccionário. Não tentei com muita força, mas tentei. Continuei a escrever como sempre, mas os revisores da Visão tinham depois o trabalho de corrigir o texto de acordo com a nova ortografia. Vou pedir-lhes que deixem de o fazer. Eu sou do tempo em que se escrevia recepção. Não adianta fingir que sou do tempo em que se escreve receção para nos aproximarmos dos brasileiros -- que, curiosamente, vão continuar a escrever recepção

Ricardo Araújo Pereira, na Visão

Subsídios para a extensão do conceito de grafitologia-Anexo único

Ivone Mendes da Silva, 28.09.11

Ontem, os nossos luíses, eheh, pareço uma aristocrata francesa antes de revolução, dizia eu que os nossos luíses se digladiaram aqui sobre os grafitis com ilustrados argumentos. Lamentámos todos que o certame tivesse sido interrompido pelo jantar de um e pelas aulas de outro. Hoje, porém, voltei a lembrar-me do assunto: ao passar rapidamente os olhos pelos títulos da imprensa  online, leio que Durão Barroso afirmou que se devia dizer: "Amo-te, Europa." Eu achei muita piada a este arroubo de matriz mitológica. Após tal enunciação, só falta, num gesto de apaixonado de primeira viagem, ir pichá-la numa fachada. Pública, talvez, não sei.

Adjectivos, depressa!

Leonor Barros, 28.09.11

Se alguém estiver em posse de adjectivos fortes, sem eufemismos e bem expressivos, é favor entregá-los ao Ministro Nuno Crato e a este Governo. Digam que vão da minha parte. E avisem-nos que é feio, muito feio, criar expectativas e a quarenta e oito horas do Dia do Diploma falhar redondamente ao compromisso. É muito tranquilizante saber que o Estado não é uma pessoa de bem e que está parco em valores e palavra. E por favor, poupem-me ao discurso de que o país não pode, blá blá blá, que estamos pobrezinhos, que sim, a economia, os mercados, e o diabo a sete e de uma vez por todas levantem os rabos do encosto cómodo que não lhes permite vislumbrar os dois milhões de pobres que existem neste país. Quinhentos euros podem fazer a diferença. Tenho a certeza de que fariam.

Habituem-se

Luís Menezes Leitão, 28.09.11

Eu não concordo muito que o Estado dê prémios pecuniários aos alunos, mas acho absolutamente inconcebível que um prémio já atribuído possa ser retirado a 48 horas de antecedência da cerimónia, quando os alunos já tinham sido avisados que o iriam receber. Imagino a enorme decepção que todos os alunos contemplados irão sofrer quando forem à cerimónia e não receberem prémio algum. E o que terão que passar as suas famílias para compensar a sua desilusão.

Mas há que reconhecer que com esta decisão o Ministério da Educação acaba de prestar um grande serviço pedagógico aos alunos. Ficaram desde já a saber que é este o Estado Português com que terão de conviver em adultos: um Estado que a todo o tempo pode desrespeitar os seus compromissos, cortar unilateralmente os salários aos seus funcionários, as pensões aos seus pensionistas e aumentar retroactivamente os impostos que cobra. Os alunos podem assim desde já habituar-se a que é este o país em que vivem e pensar em emigrar para o estrangeiro. Só essa lição vale mais que o prémio.

Um, dois, três e nascer outra vez

Teresa Ribeiro, 28.09.11

Envelhecer já não é encarado como um fenómeno natural. Agora chamam-lhe arte. Não me parece mal. Se considerarmos os testemunhos dos clientes das plásticas e até dos que fazem questão de celebrar o aparecimento das rugas como algo libertador, até podemos considerá-lo uma arte de palco. Às vezes esses que se manifestam contra a corrente exibem tal alegria com os seus duplos queixos e cabelos brancos que por vezes os confundo com os outros. Há alegrias tão contentinhas que até parece que levaram silicone nos entrefolhos.

As obsessões colectivas são sempre inquietantes e ridículas. Inquietantes, porque não há como evitar que se tornem nossas, nem que seja só um bocadinho, e ridículas porque os comportamentos obsessivos, que o diga Woody Allen, têm um enorme potencial de comicidade.

Já li muito sobre a arte de envelhecer ou, em versão mais musculada, sobre o combate ao envelhecimento. Das bulas dos cremes hidratantes que nos prometem a juventude aos 40, até às receitas dos famosos sem idade, mas este fim-de-semana, de entre uma série de entrevistas a figuras públicas maiores de 60, destacou-se uma frase cintilante: "Estou a programar o meu futuro para ser livre, como fui quando era pequenina". Quem a disse foi uma rapariga chamada Ana Bola. Ao lê-la percebi porque a idealização da minha carcaça velha a escarafunchar, de cócoras, na terra, plantando couves ou alfaces para dar à coisa um propósito adulto, me persegue há tantos anos. É um projecto que tem muito mais sentido do que alguma vez lhe atribuí. Revela até uma estética - trata-se de um círculo que se fecha - que não me fica nada mal. Mas sobretudo este meu sonho de acabar os meus dias numa quinta, ou até mesmo num quintal, a tratar de bichos e couves, apresentou-se-me, à luz desta confissão da Ana Bola, como um sinal de resistência saudável a esta cultura fóbica que desenvolvemos contra nós próprios, todos velhos em potência. Não é à toa que ela tem envelhecido tão bem, sempre a esbanjar uma energia de catraia. Ah, grande Bola, que me iluminaste. O envelhecimento "combate-se" é assim! Assim e com alguns cremes, vá...

SS Gairsoppa, um naufrágio nas páginas dos jornais

Rui Rocha, 28.09.11
 

No Diário de Notícias- 270 toneladas de prata, no valor de 170 milhões de euros, num navio encontrado a 4700 metros de profundidade.

No Jornal de Notícias - 240 toneladas de prata, no valor de 150 milhões de euros, num navio encontrado a 4000 metros de profundidade.

No Diário Digital: 200 toneladas de prata, no valor de 170 milhões de euros, num navio encontrado a 4700 metros de profundidade.

No Sol - 240 toneladas de prata, no valor de 170 milhões de euros, num navio encontrado a quase 5000 metros de profundidade.

No Dinheiro Digital - 220 toneladas de prata, no valor de 160 milhões de euros, num navio encontrado a 4700 metros de profundidade.

No Público: 240 toneladas de prata, no valor de 170 milhões de euros, num navio encontrado a 4700 metros de profundidade.

 

E, last but not the least, a notícia choque no Correio da Manhã: Barco afundado poderá lucrar 34 milhões de euros. Bom proveito lhe faça, lá nas profundezas, que a mim dói-me muito a cabeça.