Keret House,
em Wola, Varsóvia
(Polónia)
A Keret House está a ser instalada no distrito de Wola, em Varsóvia — e dizer "instalada" não é uma mera opção da escrita: trata-se da casa mais estreita do país (talvez da Europa, talvez do mundo inteiro) e não possui frente bastante para atingir a dimensão mínima prevista no código municipal para ficar registada como habitação, pelo que está autorizada apenas como simples "instalação" de arte.
O recente projecto do gabinete Centrala, assinado por Jakub Szczęsny, deverá estar concluído já em Dezembro deste ano e prepara-se para ser apresentado e candidatar-se a prémios de urbanismo.
Encaixada num reduzido, inútil, inestético e inexplicável vão entre dois prédios, a exígua moradia assenta numa áerea de 14,5 metros quadrados, com dimensões interiores que variam entre os 122 centímetros e os 22 centímetros. A casa, com um só postigo na frente e um respiro em cima, foi concebida para lugar de trabalho do escritor israelita Etgar Keret (à direita) — que reside em Tel Aviv e gosta de estar em Varsóvia — mas igualmente capaz de servir como habitação-estúdio para quaisquer visitantes, entre jovens criadores e intelectuais de diferentes origens que o proprietário habitualmente recebe.
Para lá das estruturas em betão que resguardam a construção, alguns acabamentos interiores são flexíveis e/ou escamoteáveis. As escadas possuem controlo remoto para se manterem recolhidas ou poderem ser utilizadas.
Com inspiração na tecnologia que se aplica em embarcações, a Keret House dispõe de equipamentos próprios que lhe garantem as necessidades básicas e a tornam independente dos sistemas urbanos de abastecimento. A excepção é a energia eléctrica, cujo fornecimento será proveniente de um dos edifícios vizinhos.
Branca por fora e por dentro, a "coisa" parece uma placa de esferovite caída no intervalo entre dois prédios. Contudo, como exercício de arquitectura, deve reconhecer-se que é invulgar. O morador só não pode adoecer, porque o sobe-e-desce escadas, se já não é fácil em habitações normais com mais do que um piso, neste caso limita perigosamente o próprio e até quem chegar de fora para lhe deitar a mão.
Pelo mesmo motivo, é pouco aconselhável a quem espera envelhecer: sem a fonte da juventude por perto, o melhor é procurar uma casa térrea (de simples rés-do-chão) que seja normalzinha. À medida que avança, a idade do ser humano torna-se pouco dada a fantasias que exijam grande esforço físico quando o corpo exige repouso.
Pese embora a graça de mostrar aos amigos (um de cada vez, claro está) uma propriedade tão insólita e inesperada, a Keret House ainda será mais mal-amada quando toda a gente começar a sentir inveja das sardinhas, que sempre são enlatadas em espaços mais amplos. Por falar nisso: quando o inquilino abrir uma lata dentro de casa, o cheiro a peixe há-de ser insuportável...