Tributo a Manuel Pinho (com um só dedo)
Protagonizado pela Vice-Primeira Ministra belga, Laurette Onkelinx:
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Protagonizado pela Vice-Primeira Ministra belga, Laurette Onkelinx:
O grito de liberdade que alastra no Norte de África e vai no Médio Oriente é galvanizador. É impossível ficar indiferente. Multidões pedem reformas políticas, sociais e económicas JÁ! Mas onde irá desaguar a onda é um mistério. Anos depois da conferência de Viena sobre a Declaração Universal de Direitos Humanos - a quem ninguém ligou peva, literalmente - as teses relativistas, defendidas, entre outros, pela generalidade dos países árabes, cedem perante as universalistas. Mas por muito que isto signifique um avanço promissor ao encontro de tudo o que há de mais fundo e comum no homem, há que pensar. O grito mais sagrado das democracias modernas – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – andou até nas ruas de Xangai, durante a Guerra do Ópio, mas não pegou - como se sabe e vê. Os russos saltaram do feudalismo para o comunismo, o futuro-mais-que-perfeito, e tiveram de recuar com a implosão da URSS, desaguando nessa coisa informe que agora têm que é o regime Medvedev-Putin. Pelo contrário, todos os sobressaltos dos países da América Latina, desde as independências, têm um enquadramento cultural, quase diria um alinhamento, bem claro. É bem possível que as revoluções, para produzirem alguns efeitos imediatos, mesmo contando com os passos que dão atrás, tenham de assentar numa matriz e caminhar por etapas, que é o que me escapa nestas aparentemente em curso. Todos os fenómenos políticos têm ancoradoros históricos nas culturas e nas mentalidades, não bastam as motivações. Quais são os destes? Pergunto, porque não sei.
A subtil diferença entre gastar e saber quanto se gasta e gastar porque-o-contribuinte-paga:
Os custos de construção do novo hospital pediátrico de Coimbra derraparam 8,5 milhões de euros.
(Não interessam os casos concretos, são só uma ilustração; o ponto é outro.)
Vai-se ao campo e não se tem electricidade. Aprende-se que é porque caiu um raio muito grande mesmo no centro da aldeia. O leitor não quereria estar por perto de um acontecimento como este. Para lhe dar uma ideia de quão perturbador pode ser, numa área de cinco metros em redor teria sido muito difícil usar o seu telemóvel.
Por uma vez, é bom não ter de culpar o governo. Mas o homem que ficou com a casa destruída não concorda. Ele acreditara que um raio saberia distinguir um pára-raios das suas góticas antenas de TV. Quer muito poder imputar responsabilidades a alguém (isso revela, é claro, um desejo reprimido de dormir com a mãe e matar o pai). Mas quando é assim, diz o senhor da luz que vem dar apoio psicológico e substituir o disjuntor, quando é assim, quer dizer, a Natureza ou Deus ou seja lá quem for que lança os raios, é muito difícil: eles alegam causas naturais e pronto.
Agora já há electricidade no campo. Dou graças. Uma hora sem energia numa noite glacial, aqui, é equivalente a cinco horas de uma actividade divertida, como a lipoaspiração ou um telefonema de marketing. E para o raio também não deve ser fácil. Já pensou? Ele tem tão pouco tempo para si.
Ouço e leio alguns cínicos de turno, à esquerda e à direita, recomendando palavras de precaução contra as imagens impressionantes que nos vão chegando do Cairo e repetem as de há duas semanas na Tunísia. No momento em que escrevo estas linhas, mais de um milhão de pessoas afluíram já à Praça de Libertação, no coração da capital egípcia, para reclamarem aquilo a que todos os povos de todas as latitudes deviam ter direito: liberdade. Sem adereços, sem adjectivos. A simples, pura, antiga e sempre desejável liberdade - palavra tantas vezes pervertida quando vem da boca de políticos que fazem tudo para a espezinhar. Políticos como Hosni Mubarak, um dos tiranos há mais tempo em funções no continente africano.
"As pessoas deixaram de ter medo", diz uma jovem, algures na multidão, à reportagem da BBC. Algo impensável ainda há poucos dias no mais populoso dos países árabes. Como era impensável também, para os defensores da "estabilidade" a todo o preço, que a ditadura de Ben Ali ruísse como um castelo de cartas poucas semanas após um jovem desesperado se ter imolado pelo fogo. Chamava-se Mohamed Bouazizi. Mal podia imaginar que aquelas trágicas labaredas que lhe custaram a vida iriam desencadear um incêndio sem precedentes por todo o mundo árabe.
Ontem à noite, também na BBC, um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros da Jordânia advertia: "Se aconteceu na Tunísia, pode acontecer em qualquer outro país." A crise económica, particularmente dura entre os jovens, transformou drasticamente a relação entre estado e sociedade nos países árabes, submetidos durante décadas a regimes assentes na repressão e na corrupção - um cocktail só tornado possível, em muitos casos, graças à generosa ajuda ocidental: só no ano passado, Mubarak recebeu 1300 milhões de dólares em ajuda militar dos Estados Unidos.
Chegou-se a um ponto sem retorno, o que parece apavorar alguns "pragmáticos" de serviço, receosos do extremismo islâmico e de outros vírus que poderão contaminar o Egipto - onde vive um terço de toda a população árabe - à boleia dos ventos da liberdade. Conheço bem estes argumentos: já os escutei em 1989 e 1990, quando o império soviético ruía. Muitos preferiam o mundo arrumadinho em dois blocos imóveis para poupar o planeta a "novos conflitos". Falavam do lado de cá, gozando da liberdade que não queriam conceder aos do outro lado - como se os direitos humanos não devessem ter expressão universal. Foram os mesmos que, pelo mesmíssimo motivo, mal contiveram expressões de alívio quando viram o exército chinês reprimir ferozmente manifestantes pacíficos na Praça Tiananmen. O mundo ficava mais "previsível", menos "perigoso".
Não perceberam nada então, tal como não querem perceber nada agora: é hoje impossível delimitar fronteiras geo-estratégicas à expansão dos direitos humanos. Nem travar o espírito refomista contra os regimes que esmagam as liberdades. A ditadura teocrática iraniana certamente acompanha com a máxima apreensão o que está a suceder no Cairo. Porque, nestes dias em que as manifestações são convocadas através da Internet, em Teerão pode acontecer o mesmo a qualquer altura. Como já sucedeu em Junho de 2009. E as imagens que hoje chegam do Cairo são capazes de contagiar vários outros países - Líbia, Argélia, Marrocos, Jordânia, Síria, Iémene, Omã e Arábia Saudita.
Os militares egípcios já garantiram que não virarão as armas contra o povo. A gigantesca manifestação que neste momento ocorre funciona, até por isso, como um genuíno plebiscito à liberdade.
Hoje deu-me para aqui.
Para filosofar.
O que pensará o meu cão da vida dos donos, dos humanos em geral?
Porque correm tanto? (Parecem sempre tão apressados… Não deixara de reparar já que, com frequência, carregam num botão de uma engrenagem – da qual saem as pessoas quando vêm visitá-lo, e em que costuma andar, quando vai à rua passear os donos – que, fechando a porta mais depressa, permite ganhar uns preciosos dois segundos nos seus percursos). Para onde? Para quê?
Costumam sair cedo pela manhã (todos os dias ouve a bebé dos vizinhos), só voltam no final da tarde, às vezes já noite. O que andarão a fazer?
Estranha forma de vida a dos humanos. Parece não lhes bastar ter comida e água na gamela, receber festas dos donos, ir passear… de vez em quando receber uns biscoitos.
Para além de ter já escutado por várias vezes – também naquela espécie de caixa fininha que os donos têm na sala, onde por vezes aparecem uns cães, estranhamente sem cheiro –, diversas pessoas falar com bastante entusiasmo do seu trabalho, e da carreira (para dizer a verdade, não percebeu muito bem se, realmente, o que as excitava mais não seria uma coisa a que chamam dinheiro, que os parece fazer salivar como quando recebe um osso novo – para que o quererão tanto? Para fazer uma grande pilha com ele? Aquilo parecia-lhe só papel, sem um interesse por aí além), ultimamente ouvia, cada vez com maior insistência, falar em ser famoso ou em ter poder. O que seria “ter poder”? Para que lhes serviria?
Bastante mais raramente ouvia falar de humanos que, aparentemente, não se preocupando tanto com o tal “dinheiro” ou “poder”, iam atrás dos seus sonhos e deles faziam o seu ideal de vida (vinha-lhe à memória um nome de que tinha ouvido o dono falar, um tal de João Garcia, que parece que andou a subir a todas as grandes montanhas do mundo… oh, como ele gostaria também de subir às montanhas!).
E, ainda menos, de outros humanos que dedicavam uma parte da sua vida a ajudar outros, que precisavam muito. Lembrava-se vagamente de ter ouvido falar de alguns que iam para bastante longe (muito mais do que os passeios a que estava habituado!), para Moçambique, prestar assistência em escolas ou hospitais, ou para o Cambodja, criar uma empresa que dava trabalho e pagava salários justos a mulheres muito pobres.
Provavelmente, tinha andado distraído, ocupado com a sua nova bolinha. Tinha de passar a prestar mais atenção!
Dentro de uns anos – e não passarão muitos – alguém fará de nós um número, um fantasma, o que quer que seja, condescerá de que fomos importantes sem saber provavelmente em quê, para uma mudança que também não se saberá em que é que deu. Esgravatar no tema pode ser no entanto um bom exercício sobre o valor do efémero antes de passarmos à arqueologia. Vamos ver o que é que Impressões, que vai estrear na Malaposta, tem para nos dizer sobre isso, para além do sangue que sempre correu desde que o homem fez de si mesmo o pior sócio. Porque pelo meio também terá havido momentos bons, digo eu, dentro, sei lá, de um valor cósmico qualquer, raios! Confesso que estou curioso.
Cuidado com a fé que move montanhas em zonas de paisagem protegida.
O DELITO DE OPINIÃO pode hoje revelar, com a devida prova fotográfica, uma informação considerada secreta: o TGV está completamente parado.
Com este, são já dez mil textos publicados aqui no DELITO. À média de quase cinco mil por ano. Prometemos prosseguir, sem moderar a velocidade.
Tenho o prazer de anunciar que hoje vem escrever connosco o Leonel Vicente. Do blogue Memória Virtual.
Referi aqui há dias a importância de começar bem um livro. Deparo-me agora mesmo com outro bom exemplo: um excelente arranque que me faz logo ter vontade de prosseguir a leitura.
Refiro-me às frases iniciais de Churchill, pequena biografia do grande Paul Johnson agora lançada em Portugal pela editora Alêtheia. Passo a transcrevê-las, com a devida vénia. Por serem exemplares - em matéria de elegância, concisão e sábio envolvimento com o leitor.
"De entre as figuras que se impuseram no século XX, fosse para o bem ou para o mal, Winston Churchill foi a mais importante para a humanidade, e foi também a mais amável de todas. É uma alegria escrever a biografia de Churchill, como o é também ler coisas sobre ele, pois não há outra personalidade da qual se possam extrair tantas lições, em especial para a juventude: a tirar partido de uma infância difícil; a aproveitar ao máximo todas as oportunidades, físicas, morais e intelectuais; a ousar em grande, para reforçar o êxito e ultrapassar os inevitáveis fracassos; e a ter ambições elevadas, aplicando-lhes toda a energia e paixão, sem deixar de cultivar a amizade, a generosidade, a compaixão e a elevação moral."
Está feita a apresentação do biografado em breves linhas. Início exemplar de uma obra que nos prende desde o primeiro instante.