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Uma família entra em guerra contra um povo inteiro. Não hesita em virar os fuzis contra cidadãos desarmados. Perde o apoio da sua própria rede diplomática. Vê a bandeira que arriou voltar a ser hasteada nos mastros. Recebe a censura generalizada da comunidade internacional - incluindo o voto unânime do Conselho de Segurança das Nações Unidas, arriscando-se a responder perante o Tribunal de Haia por violação grosseira do direito internacional.
A acção criminosa desta família que acumulou milhões ao longo de quatro décadas no poder tem a reprovação do mundo inteiro? Nem por isso. Hugo Chávez e Daniel Ortega estão solidários com ela. O que diz tudo sobre um e outro.
Há blogues de que se fala pouco mas que merecem uma visita atenta e demorada. São blogues mais pausados, que nos falam de coisas diferentes, bem escritos, bem paginados. Como este Coisas do Arco da Velha, que elejo como blogue da semana.
Pedro Santana Lopes acha "estranho" que Pedro Passos Coelho não consiga colocar o PSD "muito mais distanciado do PS das sondagens". A última sondagem, recorde-se, dá maioria absoluta ao PSD. Mais. Com ou sem maioria absoluta, todas as sondagens ao longo dos últimos meses dão sempre a vitória ao PSD.
No entanto, Santana Lopes gostava que existisse maior distância entre os dois partidos. Fala quem sabe da matéria: em 2005 o PSD sob a sua liderança conseguiu a proeza de ter uns ridículos 28% e permitir que o PS tivesse 45% dos votos e a sua primeira e única maioria absoluta até hoje.
João Pereira Coutinho, hoje no Correio da Manhã: «A revolução de 1789 acabou por degenerar no Terror jacobino. Por que motivo, então, esta evidência é tão difícil de perceber no caso árabe?»
Vasco Pulido Valente, hoje no Público: «O que havia em França em 1789-94 era uma total ausência de instituições capazes de promover e defender as liberdades. (...) Como hoje na África do Norte.»
Espero que os nossos "líderes de opinião" transitem rapidamente do século XVIII para o século XIX. A ver se daqui a uns alguns meses começam a compreender finalmente o que se passa no mundo árabe do século XXI.
«O filho do líder líbio Muammar Kadafi afirmou hoje que a situação na Líbia é "excelente" em três quartos do território.» Alguém sabe quantos quartos a Líbia tem?
Nada tem de especial suspender um TGV. Em França...
... e nos EUA já há muito que se suspendem comboios.
Mais uma a cair. Temporariamente, diz a CP, para obras - e, entretanto, sem alternativa rodoviária. Considerando o passado recente da CP, alguém acredita mesmo que a ligação de Intercidades entre Castelo Branco e Covilhã volte a abrir?
Há pouco mais de uma semana foi Armando Vara que passou à frente dos utentes de um Centro de Saúde. Agora é a segurança do Ministro da Justiça que viola normas elementares de respeito por uma situação de vida ou de morte. No caso de Vara, o juízo de condenação é pessoal e intransmissível. No caso de Alberto Martins, quero crer que o Ministro não terá responsabilidade directa na ordem dada no sentido de afastar uma ambulância em serviço. Todavia, mesmo que assim seja, estas situações são sinais dos tempos. Os que detêm o poder não estão ao serviço dos cidadãos. Servem-se do poder contra tudo e contra todos. O ambiente que dá origem a estes desmandos é o do arrivismo e da prepotência. O salto à Vara, sem respeito pelas mais elementares regras de civilidade, é uma actividade tão condenável quanto recorrente. Para praticá-lo não são mecessárias especiais aptidões físicas ou intelectuais. É, todavia, necessário apresentar uma acentuada fraqueza de carácter. A vara que permite ascender a cargos para os quais não existem competências adequadas é a mesma que permite saltar sobre os cidadãos no dia-a-dia. A segurá-la está sempre a mão de um boy. Chame-se ele Armando, Alberto ou Videirinho.
O Fianna Fail, partido de governo da Irlanda, teve o pior resultado eleitoral de sempre nas legislativas, obtendo apenas 15,1%.
Jose Sócrates foi ontem ao Parlamento responder a uma canção e a uma manifestação que está marcada, através do Facebook, para o próximo dia 12. A sua intenção era responder à letra. Mas, acabou por retratar-se a si próprio. À geração que alguns dizem ser parva respondeu a governação do chico-esperto. O melhor que Sócrates tem para oferecer é o anúncio de medidas que já tinham sido apresentadas. Não é surpreendente. Sócrates é mesmo assim. Falta-lhe produto. Interno, bruto e verdadeiro. Sobra-lhe o marketing em que já ninguém acredita. Por isso, o debate de ontem foi para lamentar. A geração a que Sócrates se dirigia tem características próprias. Umas serão melhores do que as das gerações anteriores. Outras, nem por isso. Mas, se existe característica que a distingue é o facto de ter ao seu alcance informação abundante. Se há coisa que essa geração não tolera é treta. Com informação sobre qualquer assunto ao alcance de um click, os vendedores de banha da cobra têm que se esforçar mais do que há uns anos atrás. Já não é suficiente fazer propaganda com medidas requentadas. Ontem, Sócrates não foi à Assembleia da República dar o correctivo quinzenal à bancada parlamentar do PSD. Pelo contrário, foi reconhecer perante o país e, em particular, perante uma geração, que não tem nada de novo para lhes dizer. Portugal está em graves dificuldades. A geração que Sócrates pretendia embrulhar esbarra numa conjuntura de bloqueio do acesso ao mercado de trabalho. Quanto ao Primeiro-Ministro, esse está mesmo à rasca.
«¡Viva Libia y su independencia! Kadafi enfrenta una guerra civil»
Hugo Chávez, hoje, no seu (dele) twitter.
Houve um tempo em que uma certa direita, incapaz de resistir a regimes musculados, apontava o Egipto de Mubarak como exemplo de bom governo no mundo árabe. Esse tempo terminou, irrevogavelmente, a 11 de Fevereiro. Houve também um tempo em que uma certa esquerda, num apaixonado flirt com o “socialismo árabe”, mencionava Kadhafi como figura de referência. Esse tempo está prestes a terminar: com o seu patético discurso de ontem, o homem que durante 41 anos dirigiu a Líbia com mão de ferro demonstrou ter perdido definitivamente o contacto com a realidade.
Um elo uniu Mubarak e Kadhafi ao soar a hora da derrocada: perdida a tradicional pose de bravata, ambos invocaram os riscos do extremismo islâmico como chantagem suprema perante a comunidade internacional. O líbio chegou a apontar o dedo acusador à Al-Qaeda como fonte dos distúrbios no seu país. Repetindo, no fundo, o argumento de Luís XV na França pré-revolucionária: “Depois de mim, o dilúvio.” O problema, tanto no Egipto como na Líbia, é que o dilúvio chegou antes e não depois.
Publicado no DN
No Jornal i, verdades velhas.
Mas é claro que o quorum foi escasso e ficou tudo na mesma.
(Nota: escrevi isto há um ano, a propósito disto, e assim o assunto vai andando a ritmo de caracol... Agradeço o link do i.)