Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Delito de Opinião

Néctares e zurrapas

Leonor Barros, 01.10.10

"Eu penso que os políticos são como os vinhos. Não sabemos porquê. Há boas épocas em que o vinho é esplêndido e outras épocas em que o vinho não presta. Nesta altura nós temos políticos que não prestam."

 

Mário Soares

 

E que zurrapas que por aí andam.

E agora nós?

João Carvalho, 01.10.10

Foram resolvidos os problemas dos homossexuais. Estão bem encaminhados os problemas dos transexuais. Somos nós agora? Quando é que o PS se dedica a solucionar os problemas dos heterossexuais? Excesso de impostos, quebra do poder de compra, desemprego, fome, frio... Tudo coisas simples e lineares, tal como nós somos. Quando?

A jornalista incómoda

Pedro Correia, 01.10.10

 

Hugo Chávez em directo, ao vivo e a cores: uma jornalista que lhe faz uma pergunta incómoda numa conferência de imprensa é "ignorante" e "vive na lua". No caso, foi a jornalista Angelina Flores, correspondente em Caracas da Rádio França Internacional e da emissora RCN, da Colômbia. A pergunta foi esta: "Como se explica que com uma diferença de só 100 mil votos [em mais de 15 milhões], a oposição tenha obtido menos 37 deputados [33 após o apuramento dos resultados finais, 65 contra 98 num Parlamento de 165 deputados] do que o oficialismo [chavista]?" A jornalista ficou sem resposta após a longa arenga do Presidente, incapaz de explicar como as recentes alterações à lei eleitoral venezuelana fizeram aumentar a correspondência entre votos e mandatos apenas nas zonas do país onde Chávez recebe mais apoio.

O 'atrevimento' levou o Ministério da Informação venezuelano a emitir um comunicado em que pede aos correspondentes estrangeiros para "não actuarem como mais um elemento político". Angelina tornou-se entretanto uma atracção no youtube: o vídeo da conferência de imprensa já recebeu 700 mil visitas. Vale a pena.

 

Convidado: PEDRO COIMBRA

Pedro Correia, 01.10.10

 

 

Uma região, quatro  transições

 

Quando estava a tentar decidir qual o tema que iria abordar aqui no Delito de Opinião, ocorreu-me a ideia de escrever acerca da Região Administrativa Especial de Macau, isto é, de Macau pós-1999.

Especificamente, acerca das várias transições políticas que desde então ocorreram.

É de todos conhecida a transição de poderes ocorrida na noite de 19 de Dezembro de 1999.

Essa seria a primeira transição, a mais visível, a mais noticiada.

A China retomava a administração de um pedaço do seu território, que tinha estado até então sob administração portuguesa.

Não sigo as teorias que falam num retomar de soberania porque ainda não estou convencido que Portugal alguma vez tenha exercido um poder soberano em Macau.

Mas esse é um outro tema, que poderá eventualmente ser tratado noutra ocasião.

Nesta primeira transição, a Mãe Pátria colocava o poder nas mãos de alguém que andava a ser preparado, quase que desde o berço, para esse destino.

Seguindo a tradição de fulanizar o poder, a China confiava a Edmund Ho Hau Wah a tarefa de assegurar uma governação pacífica, de mostrar ao Mundo as virtualidades da fórmula “um país, dois sistemas” que Deng Xiaoping imaginara.

Pequim, omnipresente, auxiliava na sombra, atrás do biombo.

Com alguns trunfos guardados (a liberalização do mercado do Jogo e a atribuição de vistos individuais a visitantes de várias províncias chinesas), o sucesso económico estava garantido.

Com este, e por arrastamento, a paz social, a contenção de alguma agitação política, importada de Hong Kong e Taiwan.

 

Este quadro é subitamente alterado, com grande estrondo e alarido, com o rebentar do escândalo de corrupção que envolveu o então secretário das Obras Públicas, Ao Man Leong, logo afastado do cargo e entretanto condenado a 28 anos de prisão.

Entrava-se na segunda transição.

Esta menos visível em termos mediáticos.

Só Ao Man Leong foi afastado do cargo que ocupava, mas Pequim, ainda que com punhos de renda, deixou claro que, doravante,  nada mais seria como antes.

A mão do Poder Central tornou-se mais visível, a vigilância da vida política e económica local bem mais apertada.

E ficou claro que assim seria até 2009.

Alguns desmandos na vida local, uns mais visíveis que outros, não seriam mais tolerados.

A tarefa das autoridades locais era agora simplesmente assegurar a gestão corrente da Região.

Chegou 2009, as lutas políticas começaram a ser perceptíveis, e Chui Sai On, o actual Chefe do Executivo, soube posicionar-se de tal modo que se tornou impossível fazer-lhe frente na corrida ao lugar de topo da Administração da Região.

 

 

A terceira transição.

Chui Sai On é empossado enquanto em Pequim se repete  à exaustão a palavra harmonia.

Que se transforma num conceito chave na governação dos dois lados da Porta do Cerco.

Sintomático deste facto, os órgãos de poder então empossados, poucas alterações apresentam.

Em boa verdade, apenas o afastamento da Comissária de Auditoria, Fátima Choi, vítima não de uma má imagem junto do público e da imprensa (não seria a única...), mas sim das ferozes críticas feitas à gestão dos Jogos da Ásia Oriental.

Debaixo da tutela e da supervisão de Chui Sai On.

 

Hoje em dia sente-se o  forte odor do aproximar da quarta transição.

Com a noção do tempo que só o povo chinês tem, o actual Chefe do Executivo vem, paulatinamente, colocando as pedras no tabuleiro conforme pretende.

Parece clara a intenção de se rodear de pessoas da sua confiança, num processo que tem que ser gerido com toda a cautela para não colocar em causa o referido conceito de harmonia.

Os tempos que se avizinham serão fertéis em novidades.

Que se começam a vislumbrar, mas que se tornarão um pouco mais claras depois da apresentação das Linhas de Acção Governativa no próximo mês de Novembro.

Em bom rigor, as primeiras realmente preparadas por este Executivo.

O desenvolvimento da quarta transição, a ter lugar no ano de 2011, promete ser dos mais interessantes de acompanhar.

 

Pedro Coimbra

O PS visto pelo PS para o PS

João Carvalho, 01.10.10

É nas más horas que se vê quem nos apoia e quem não abandona o barco, o grande Miguel Torga, Transmontano de nascença, dizia "maldito seja quem nega aos seus nas horas apertadas".

Todos sabemos do mau momento que Portugal e toda a Europa atravessam, o Governo e o nosso 1º Ministro, Engº José Sócrates, têm lutado contra as adversidades e contra aqueles que pela ambição do poder querem contrariar o rumo certo a qualquer preço.

Não vislumbro qualquer alternativa mais credível  e por isso é minha convicção que José Sócrates continua a ser o Timoneiro deste Transatlântico que os nossos adversários querem afundar.

Compete-nos a nós, Socialistas, ajudá-lo a manter o rumo.

Este é o conteúdo de um comunicado-carta, ou carta-desabafo, ou desabafo-comunicado dirigido aos camaradas pelo membro do C.N. e da Comissão Política Nacional do PS Orlando Gaspar, um velho socialista do PS-Porto.

Torga deve ter dado uma volta na tumba. Deixando passar em claro os probleminhas gramaticais e a pobreza do texto, característica de quem nada tem de substancial para dizer, resta confirmar que o camarada Gaspar, uma vez mais, apenas serve de ilustração a este PS indescritível.

Dir-se-ia que o mau momento que Portugal e toda a Europa atravessam (se a Europa o ouvisse ia ser o diabo) só não é pior porque o 1º Ministro, Engº José Sócrates (é sempre bom deixar claro de qual é que estamos a tratar) se farta de lutar. Em vão, como se sabe: o Transatlântico (com a mesma maiúscula de Timoneiro) já era; foi empenhado com as jóias e ficou-nos esta velha traineira que já só sai para esmolar chicharro aos outros pesqueiros.

Orlando Gaspar tem razão quando diz: não vislumbro qualquer alternativa — nunca foi o seu forte. Mas ajudá-lo a manter o rumo, a Sócrates? Ele que vá sozinho, que conhece bem o caminho para o abismo. E, como dizia o outro, que mande de lá saudades, que é coisa que cá não deixa.

Dito por eles tem outra força

Sérgio de Almeida Correia, 01.10.10

"Eu penso que os políticos são como os vinhos, não sabemos porquê. Há épocas em que o vinho é esplêndido e outras em que não presta. E nós, nesta altura, temos políticos que não prestam." - Mário Soares, na SIC

 

"E a desgraça é que não é só Sócrates, que talvez desapareça de cena mais depressa do que se julga. As privilegiadas cabecinhas do PSD também não produziram nada para além de uma receita inaplicável e estafada, que no seu juvenil entusiasmo supõem "liberal". Entretanto o país chegou ao caos". - Vasco Pulido Valente, no Público.  

O cerco ao Presidente (4)

Adolfo Mesquita Nunes, 01.10.10

Tenho vindo a descrever aquela que, na minha opinião, foi a estratégia seguida por José Sócrates para amarrar o Presidente da República ao seu Orçamento e para, obrigando o PSD a viabilizá-lo, esvaziar o PSD de algum capital de oposição.  

  

São dois os pontos centrais dessa estratégia: o primeiro diz respeito à dramatização de Sócrates a propósito da sua demissão em caso de não aprovação do Orçamento, destinada a pressionar Cavaco a tomar o Orçamento como seu; o segundo diz respeito à mentira contada por José Sócrates a Passos Coelho de que não estava disposto a tomar medidas de austeridade, destinada a provocar em Passos Coelho uma reacção exaltada e veemente o suficiente para, em caso de viabilização por pressão presidencial, enfraquecer o líder do PSD.

 

Quanto ao segundo aspecto, parece-me já evidente que essa mentira foi de facto contada. As medidas de austeridade apresentadas pelo Governo não podem ter sido pensadas em dois ou três dias pelo que é impossível que, quando se sentaram em negociações, Sócrates não estivesse já bem ciente das medidas que estava disposto a adoptar. Apenas as não revelou a Passos Coelho.

 

Quanto ao primeiro aspecto, a confirmação de que a possibilidade de demissão do Governo foi uma mera encenação chegou-nos do próprio Primeiro-Ministro, que ontem, quase sem querer,  disse que "nunca me passou pela cabeça qualquer intenção de me ir embora".

 

Têm-me feito chegar, a propósito desta minha série de posts, a ideia de que nada garante que o PSD viabilize o Orçamento. Aceito essa hipótese, mas não acredito nela, como explico aqui. De qualquer forma, esta minha teoria nunca poderá ser confirmada, mesmo que o PSD viabilize o Orçamento.   

Pág. 20/20