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Delito de Opinião

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Pedro Correia, 30.09.10

Esgoto a céu aberto. Da Maria João Marques, n' O Insurgente.

Incompetente. Do Nuno Gouveia, n' 31 da Armada.

Sem crédito. Do Gabriel Silva, no Blasfémias.

Virar a mesa. De Pedro Pestana Bastos, n' O Cachimbo de Magritte.

Função pública, o primeiro alvo dos cortes anunciados. De Isabel Moreira, na Pegada.

O país às avessas. De Luís Menezes Leitão, no Albergue Espanhol.

Perguntas para bingo. Do Miguel Marujo, na Cibertúlia.

Canonizem-na. De Rui Passos Rocha, n' A Douta Ignorância.

Por vezes nascem na rua. Do Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.

Uma inovação terapêutica. Da Ana Matos Pires, no Jugular.

Ressaca da 'greve'. De Paulo Granjo, no 5 Dias.

O sucesso. Do Pedro Mexia, na Lei Seca.

Eu renuncio

Ana Margarida Craveiro, 30.09.10

- Renuncio a ter um sector empresarial público com a dimensão própria de uma grande potência, dispensando-me dos benefícios sociais e económicos correspondentes;

- Renuncio ao bem que me faz ver o meu semelhante deslocar-se no máximo conforto de um automóvel de topo de gama pago com as minhas contribuições para o Orçamento do Estado, e nessa medida estou disposto a que se decrete que administradores das empresas públicas, directores e dirigentes dos mais variados níveis de administração, passem a utilizar os meios de transporte que o seu vencimento lhes permite adquirir;

 

Mais, aqui. Renuncie também.

Sim, sim.

Luís M. Jorge, 30.09.10

A receita e a despesa, e tal. Mas este PSD tem que deixar passar o orçamento: se até ontem tinha margem de manobra, hoje já não a tem. A lindeza que prepare as lágrimas, o copo de água e o batráquio.

Deputados do ano (5)

Pedro Correia, 30.09.10

 

João Semedo (BE)

 

O melhor desempenho parlamentar no ano legislativo que terminou coube, quanto a mim, ao bloquista João Semedo. É um bom orador, capaz de demolir com sólida argumentação as teses contrárias. E tem uma notável capacidade de trabalho, como ficou bem evidente no relatório que elaborou na comissão de inquérito às interferências do Governo em órgãos de comunicação social. Foi um relatório sério, minucioso, desassombrado, que prestigiou a instituição parlamentar. João Semedo, médico de profissão e antigo dirigente comunista, é hoje seguramente um dos políticos que mais prestigiam o Bloco de Esquerda, o que o leva - sem qualquer favor - a ser respeitado por todas as forças partidárias representadas na Assembleia da República

Convidado: RODRIGO MOITA DE DEUS

Pedro Correia, 30.09.10

 

As forças da reacção I

É absolutamente falso que o objectivo da direita seja deixar os pobres morrerem à porta dos hospitais. Toda a gente sabe que se os pobres morrerem ficamos sem ninguém que trabalhe para os ricos. O objectivo do capitalismo é a exploração do homem pelo homem. A direita é a principal interessada em cuidados de saúde de qualidade para os pobres. O bom senso demonstra que se o homem quina não fica ninguém para explorar.

 

As forças da reacção II

Há que proteger a rede pública de ensino. Muito embora já não exista rede pública de ensino. O pré-escolar é gerido por privados e IPSS. O ensino básico é gerido pelas câmaras e o ensino secundário também começou agora a passar para as mãos das autarquias. E apesar do número de alunos diminuir todos os anos, e apesar da delegação de competências, o ministério da educação todos os anos aumenta o orçamento e aumenta o número de funcionários.

 

As forças da reacção III

Há que proteger o Serviço Nacional de Saúde. Aquele serviço que tem um custo/ano de 900 euros por habitante. O serviço Multicare, com estomatologia, tem um custo/ano de 530 euros por utente. Com a margem de lucro incluída. Sendo que a Multicare pertence ao mesmo accionista que gere o SNS. Temos redes privadas, redes públicas e redes em parceria público-privada. Hoje, mais de três milhões de portugueses têm acesso a cuidados de saúde privados. Seja através de seguros, seja através dos sub-sistemas. Três milhões de utentes que duplicam os seus encargos. Três milhões de utentes que pagam o SNS e praticamente não o usam. E não consta que os custos com o SNS tenham diminuído. Pelo contrário.

 

As forças da reacção IV

Ouvir Sócrates defender a rede pública de ensino depois de inaugurar a creche do Jumbo em Alfragide.

 

As forças da reacção V

Trinta e seis anos depois de Abril volta a ideologia e a semântica da época. De um lado quem quer mudar tudo. Quem quer revolucionar. Do outro, quem quer que tudo fique na mesma. Quem até prefere que o tempo volte para trás. Mas a relação de poder traz curiosas ironias. A relação de poder faz do centro-direita uma força revolucionária e da esquerda a força da reacção. O obscurantismo e o dogma ideológico.

 

Rodrigo Moita de Deus

Ceci n'est pas un post (3)

Ana Vidal, 30.09.10

 

Matéria

 

E no entanto, meu amigo, não é de evidências, mas de intangíveis, que se faz essa fugaz matéria a que chamamos amor. Faz-se de uma substância estranha, mutante e imprevisível, apenas materializada na surpresa que de repente nos devolve o espelho: um corpo que desconhecíamos, um olhar perplexo. Faz-se de um súbito sobressalto que nos invade as entranhas, um imperioso capricho da pele, um inapelável desassossego. Faz-se de um gesto irreprimível, todo languidez e impotência. Faz-se da essência dos rios, correndo em curso livre até se precipitarem num mar que nunca viram, mas sabem ser o seu único destino. E faz-se da placidez dos lagos. Faz-se da beleza terrífica de um incêndio, da voragem de um tornado, do mortífero poder de um raio. Faz-se de clarividência e de cegueira, de lucidez e de loucura. Faz-se de júbilo e de angústia. Faz-se de pudor e de lascívia. Faz-se do mais magnífico festim e da mais insuportável solidão. Faz-se de glória e de miséria, de riso e de pranto, de cobardia e de audácia, de música e de silêncio, de luz e de sombra. Faz-se de guerra e de paz. De vida e de morte. De tudo. De nada.

 

(Imagem: René Magritte - Liaison Dangereuse)

O cerco ao Presidente (3)

Adolfo Mesquita Nunes, 30.09.10

A oportunidade da apresentação das medidas de austeridade do Governo ajuda, salvo melhor opinião, a confirmar a minha teoria de que José Sócrates procurou encurralar Passos Coelho e Cavaco Silva. Senão vejamos.

 

Primeiro, José Sócrates enganou Passos Coelho, dando a entender que os socialistas não estavam na disposição de enfrentar a realidade adoptando medidas de austeridade. Com isto, provocou uma reacção histérica de Passos Coelho e pressionou uma posição de maior inflexibilidade do PSD.

 

Depois, aproveitando o histerismo de Passos e a aparente recusa de viabilização do Orçamento pelo PSD, Sócrates ameaçou com a demissão, criando o clima necessário para provocar a entrada em cena de Cavaco Silva. Com isto, obrigou Cavaco a sancionar as políticas orçamentais do Governo, porquanto se não admite que Cavaco tivesse andado a pressionar os partidos para aprovar algo que fosse mau para o país.

 

Tendo conseguido a intervenção de Cavaco, Sócrates decidiu-se por fim a anunciar as medidas de austeridade que, dias antes, escondera de Passos Coelho, suavizando as críticas de todos os sectores e quadrantes e escapando às pressões internacionais (pode lá acreditar-se que estas medidas foram pensadas em 2 ou 3 dias?). Com isto, fornece ao PSD o espaço necessário para, seguindo as directivas de Cavaco, e em nome do interesse nacional, viabilizar o Orçamento (o que não significa que não tenha de desdizer-se, uma vez mais...).

 

Tudo somado, José Sócrates vai ter o seu Orçamento, sancionado pelo Presidente da República e com a anuência do partido que aspira substituir os socialistas. Pelo caminho, fez Passos Coelho passar por histérico, obrigando-o, aliás, a desdizer-se uma vez mais (teremos, quem sabe, mais um pedido de desculpas). Nos dias que correm, com a miserável situação do país e perante a escancarada incompetência técnica do Governo, não deixa de ser admirável.

 

(Postado originalmente, com adaptações, no Aparelho de Estado.)

O ensino das línguas estrangeiras

João Campos, 30.09.10

A pequena polémica sobre o spoken engrish de José Sócrates pode ser um excelente ponto de partida para uma discussão muito interessante e, na minha opinião, muito importante. Não sei se alguém fala nisso, mas a verdade é que os programas curriculares de línguas estrangeiras do ensino básico e secundário não permitem aos alunos aprender a falar esses idiomas. Nem o Inglês, língua que goza de uma série de factores que creio facilitarem imenso a sua aprendizagem (a opção por legendagem nas séries e filmes, ao invés da dobragem). Ora se isto nem acontece num idioma com o qual todos contactamos desde tenra idade, como pode acontecer em idiomas menos presentes, como o Francês? Falo no Francês, entenda-se, porque no meu tempo era a segunda língua dos programas escolares. No meu caso, foi a primeira: tive Francês do quinto ao décimo-primeiro ano (sete anos, com sete níveis correspondentes), e Inglês do sétimo ao décimo-segundo (seis anos, seis níveis). A verdade é que, ao longo desses sete anos de língua francesa e seis anos de língua inglesa (durante os quais, com uma excepção no nono ano a Inglês, tive sempre professoras boas ou muito boas), nunca houve um treino metódico e intensivo para que aprendêssemos a falar aquelas línguas. Havia exercícios de gramática (imensos), de vocabulário. Escrevíamos redacções (raramente textos livres). Líamos textos. Falava-se o básico no idioma em estudo com a professora - mas apenas isso, o básico. Com sete anos de excelentes notas a Francês, acabei o Secundário incapaz de me exprimir com um mínimo de fluência na língua francesa; e o mesmo não aconteceu com o Inglês porque aprender a ler, escrever e falar correctamente Inglês foi um objectivo pessoal que estabeleci no décimo ano e que resolvi sozinho, nos meus tempos livres - e tudo graças aos meus gostos mais ou menos geek, quem diria.

Confesso que nunca tinha pensado nisto até ter passado umas férias em casa de amigos na Dinamarca. Amigos dinamarqueses, entenda-se, com filhos mais novos que eu. A mais nova, com treze anos na altura, já falava inglês quase tão bem como eu. As duas filhas mais velhas do casal, à época com 15 e 17, falavam inglês com absoluta naturalidade. Quantos adolescentes em Portugal dominam a língua inglesa?

Regressando a Portugal: a verdade é que chegam todos os anos às universidades imensos alunos incapazes de manter uma conversa ou escrever num idioma estrangeiro - falo no Inglês porque é o mais comum nos dias que correm. Mais grave: temos alunos a acabar cursos universitários exactamente nas mesmas condições [por favor: tive colegas de turma que acabaram Jornalismo (!) quando eu acabei e eram incapazes de chegar à terceira frase em Inglês; talvez até fossem a maioria]. No desastre que é o ensino em Portugal, fala-se muito do Português e da Matemática e perde-se imenso tempo em redor da famigerada "educação sexual"; mas não vejo ninguém referir o descalabro no ensino das línguas estrangeiras. É pena, pois faz falta. Como o nosso primeiro-ministro tão bem demonstrou.

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