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Delito de Opinião

Descubra as diferenças

Ana Margarida Craveiro, 30.04.10

Esta semana, André Abrantes Amaral e Antonieta Lopes da Costa em debate com Ana Margarida Craveiro e Adolfo Mesquita Nunes.


Juntos, analisam alguns dos principais temas da actualidade:

- ‘Rating’ ao fundo – Os mercados financeiros ficaram nervosos após o corte do ‘rating’ da república portuguesa pela Standard & Poor's. Depois da Grécia, seremos nós?

- Corrupção absolvida? – O administrador da Bragaparques, Domingos Névoa, foi absolvido pelo Tribunal da Relação de Lisboa da tentativa de suborno de um vereador do município lisboeta. A decisão parece ter abalado a já pouca confiança que os cidadãos têm nos tribunais. Será caso para tanto?

- Recuos do governo –  O governo aprovou uma alteração à lei do funcionamento dos tribunais, prevendo a suspensão dos prazos judiciais, no período entre 15 e 31 de Julho. Esta alteração e o novo estatuto do aluno, entretanto também apresentado, são mais sinais da fraqueza deste governo?

 

Hoje, às 18.05, repetição no domingo às 19.05, em 90.4 FM.

Não há coincidências (6)

Ana Vidal, 30.04.10

Um contra o outro (2010) - Deolinda

 

Interrompo os clássicos para dar-vos conta de um episódio (recorrente em mim, como já aqui expliquei) que voltou a acontecer-me recentemente. Desta vez, num concerto do grupo Deolinda. Gostei de vê-los/ouvi-los ao vivo e percebi que o seu grande trunfo é a comunicação directa com o público. Não sendo o tipo de música que oiço em casa, reconheço que Ana Bacalhau tem uma fortíssima presença em palco e pôs toda a gente a cantar e a dançar. Mas... mal tinham arrancado os primeiros acordes desta canção (foi a primeira do alinhamento, se não me engano) e eu já estava a ouvir outra. Uma outra letra, em inglês, que nem sequer recordava bem, mas - diga-se em abono da verdade - com muito menos graça e qualidade do que a letra portuguesa. Para além de um sopro familiar de António Variações no refrão, havia uma melodia conhecida a buzinar-me ao ouvido, que atravessava toda a canção. Cheguei a casa e fui investigar, claro. Encontrei as Baccara e o seu Yes, sir, I can boogie. Estava explicado.

 

Acredito piamente que Pedro da Silva Martins, apresentado no novíssimo álbum dos Deolinda como autor de todas as letras e músicas, não tivesse feito de propósito. Há memórias que nos ficam escondidas num canto qualquer do subconsciente e se insinuam, feiticeiras, nas criações que acreditamos serem nossas. Com as melodias isso deve acontecer muito. Pero que las hay, las hay... e o single de estreia de "Dois Selos e um Carimbo", Um contra o outro - cuja semelhança com uma canção anterior é mais subtil do que as que tenho aqui trazido - será talvez um bom exemplo disso. Ironicamente, começa assim a letra: "Anda/ Desliga o cabo/ Que liga a vida/ A esse jogo/ Joga comigo/ Um jogo novo/ Com duas vidas ...".

 

Ora bem, o que se passou comigo foi eu não ter conseguido desligar o cabo. Por isso fui parar à vida anterior deste "jogo com duas vidas".

 

 

Yes, sir, I can boogie - Baccara

 

Esta canção, que foi um êxito estrondoso desde o primeiro momento - o mais significativo na carreira das Baccara, se não o único - teve inúmeros covers. O último conhecido data de 1977, num álbum de êxitos chamado Top of the Pops, Volume 62 , que usou a canção sem atribuir os créditos devidos aos músicos originais. O último? Não. O último, para mim, é o refrão de "Um contra o outro", a canção dos Deolinda. Deixo ao vosso imperial polegar o julgamento da minha tese.

Primeiro, o PS; depois, o país...

José Gomes André, 30.04.10

O Governo recusa-se a cancelar os projectos faraónicos do TGV e do novo aeroporto. No momento actual, esta atitude deve-se a pura teimosia: não só seria demasiado custoso ao PS dar a mão à palmatória, como quase humilhante explicar ao eleitorado o porquê de mais uma traição ao seu programa eleitoral. Nesta contabilidade, o Governo socialista volta a colocar as suas prioridades político-eleitorais à frente dos interesses do país. Que se registe, para memória futura.

A aliança mais rápida de sempre

Ana Margarida Craveiro, 29.04.10

Aquela espécie de Bloco Central informal desfez-se umas 24 horas depois. As notícias sobre o entendimento das gravatas lisas foram manifestamente exageradas.

Agora fora de brincadeiras: acho muito bem que Passos Coelho mande José Sócrates dar uma volta ao bilhar grande. O entendimento do PSD, enquanto partido de centro-direita, não pode passar por mais socialismo. Foi isso, em parte, que nos meteu nesta embrulhada, e o PSD não pode, nem deve, pactuar com uma solução que, afinal, é parte do problema. Quanto a mais negociações, é como o povo diz: à primeira todos caem, à segunda só quem quer. Qualquer futuro entendimento tem de ter um caderno de encargos e linhas vermelhas bem explícitas por parte do PSD.

Quadratura do círculo

Pedro Correia, 29.04.10

 

Num interessantíssimo texto publicado n' O Cachimbo de Magritte, Pedro Picoito anuncia uma original condição de militante: desde a eleição de Pedro Passos Coelho, passou a uma espécie de exílio interior, remetendo-se à clandestinidade dentro do partido a que teima em pertencer. Continuará a pagar as quotas do PSD, ao que se presume, mas suspende o voto. Invocando, entre outros motivos relevantes, o facto de Passos Coelho usar gravatas muito parecidas com as do actual primeiro-ministro.

Ignorante que sou nestas andanças partidárias, presumia eu que o primeiro dever estatutário de um militante é votar no partido de que faz parte. Pedro Picoito esclarece-me que não: afinal é possível permanecer simultaneamente dentro, pagando quotas, e também fora, não votando no partido em que se milita. Atitude diferente, portanto, da que assumiu o Duarte Calvão, que devolveu à procedência o cartão laranja mal Passos foi eleito com uns expressivos 61% dos votos.

Entendo a decisão do Duarte. Mas, pela mesma lógica, tenho alguma dificuldade em entender a atitude de Pedro Picoito, que equivale à quadratura do círculo: como militar num partido cujo líder se detesta ao ponto de merecer o epíteto de relógio parado? Por mim, se fosse pessoa para aconselhar alguém, recomendar-lhe-ia uma solução marxista, tendência Groucho: nunca pertencer a um clube que o aceitasse como sócio. Como os proletários do século XIX, nada teria a perder senão as grilhetas.

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