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A Avenida Duque de Loulé é um símbolo de um Portugal que eu rejeito. Durante o dia é uma rua normal de escritórios, com um estacionamento difícil mas ordenado. A partir da onze da noite transforma-se numa república das bananas, com descapotáveis topo de gama de cores garridas largados em terceira fila nas paragens de autocarros. O foco de atracção dos lustrosos proprietários destes bólides, e dos igualmente lustrosos seguranças privados que lhes abrem as portas dos veículos, é a correnteza de bares de alterne de um lado da rua. Não me move nada contra o negócio - cada um paga as contas como pode - mas repugna-me a presença constante e submissa de dois polícias - contratados, com serviços pagos à parte - que zelam para que ninguém incomode os autores das infracções. Como moro ao lado e qualquer rodita em cima do passeio perto da minha casa me custa um ror de dinheiro, considero seriamente a hipótese de trocar de carro para um Z3 amarelo e começar a deixar as chaves ao porteiro do Night and Day. Claro que, à hora a que saio de casa, já as meninas dos clubes dormem a sono solto e o meu Z3 amarelo fará uma triste figura abandonado no meio da avenida, mas sempre tiro a limpo a que horas é que a lei muda em Portugal.
Ao ReVisões.
Teerão é hoje, como nunca, uma cidade amordaçada, à mercê das tenebrosas milícias bassidji do tirânico regime islâmico cada vez mais divorciado da realidade, cada vez mais repressor. Desde a fraudulenta eleição de 12 de Junho, contestada até por sectores da nomenclatura clerical, a ditadura teocrática mandou prender centenas de opositores - políticos, jornalistas, estudantes - e proíbe agora todas as manifestações de protesto. Com a complacência (e até o aplauso) de uma direita europeia que aprecia regimes 'fortes' (e anti-Israel) e uma esquerda que apoia as mais desprezíveis tiranias desde que tragam o selo anti-EUA.
"Prometeram-nos a liberdade, mas quem disser uma palavra vai parar à prisão. Quanto à república islâmica, a palavra república compreende as noções de democracia e de liberdade. Onde estão elas?" Este sombrio diagnóstico não foi feito por um falcão de Washington, mas pelo aiatolá Hossein Ali Montazeri, uma das figuras mais prestigiadas da elite religiosa do Irão, em declarações hoje transcritas pelo Le Monde.
Outros dirigentes religiosos, citados pelo mesmo jornal, não escondem críticas ao regime ilegítimo de Teerão, tornado ainda mais ilegítimo pela fraude eleitoral nas presidenciais. Como o aiatolá Golpayegani, que se insurge contra a "grande mentira [actual] que atenta contra os próprios fundamentos do islão".
Le Monde chega mesmo a titular em manchete: "Os aiatolás contra Ahmadinejad". Isto enquanto alguns, por cá, continuam a defender e justificar a corrupção política vigente na chamada 'República Islâmica' do Irão, que perverte em simultâneo os ideais islâmicos e o próprio conceito de república. Com a mesma lógica que usaram para aplaudir cegamente as ditaduras comunistas da Europa de Leste no tempo da Guerra Fria: tudo quanto merecia reprovação dos Estados Unidos justificava o aplauso pró-soviético. Estes órfãos de Brejnev ainda não perceberam que esse mundo acabou há exactamente 20 anos e nunca mais regressará.
Chegou novamente a minha vez de indicar o blog da semana cá do burgo. Na primeira ronda, há uns meses, escolhi O Divagador, pela juventude e pela irreverência, por ser uma esperança da blogosfera actual.
Desta feita centro os nossos holofotes num blog com história e num blogger consagrado, o Hoje Há Conquilhas do Tomás Vasques.
Habituei-me desde cedo a ler o Tomás e a identificar-me com a sua postura, seriedade e coerência. Tenho-o como um exemplo. Por isso o destaco.
Ao Tomás Vasques deixo um abraço, a todos os outros o conselho de que redobrem as suas visitas ao Hoje Há Conquilhas.
No interessante editorial do Público desta manhã, a propósito da falta de memória de Manuela Ferreira Leite e do silêncio de anos de Henrique Granadeiro sobre a venda à PT pelo Estado da rede fixa de comunicações, em Dezembro de 2002, Paulo Ferreira interroga-se sobre as consequências na nossa vida pública da obscena promiscuidade entre a política e os negócios e alerta, como não me canso de fazer de há muitos anos a esta parte com apreciável insucesso, para o “mortífero pântano em que o país está mergulhado: o tráfico de favores ilegítimos, as alianças de ocasião, a conta-corrente sempre por saldar”. Não sei se há favores legítimos quando estamos a falar de política e da coisa pública, mas é evidente que o ambiente democrático tem sido conspurcado de forma absolutamente inaudita.
Super G Constellation
(Nova Iorque – Londres, em 1955)
Acho muito bem que o dirigente político socialista - Henrique Granadeiro - tenha recordado um dos negócios que Ferreira Leite fez enquanto ministra das finanças para combater o défice. Alguns foram verdadeiramente maus, como o negócio com o Citigroup ou a venda da rede fixa à PT (não tão mau quanto o i sugere, uma vez que compara valor contabilístico com valor real de um activo, não tarda e ainda vão noticiar que quando o Lehman Brothers faliu o valor contabilístico do grupo era positivo). Acho também muito bem que o partido no governo tenha navegado a onda com conferência de imprensa à mistura, uma conferência onde, embora ainda nada tenha visto a referir o assunto, o porta voz do PS terá certamente aproveitado para comentar a notícia de sábado do Expresso, não vá o PS deixar a ideia que pouco lhe importa que o primeiro-ministro falte à verdade em plena Assembleia da República.
Mas o reavivar das receitas extraordinárias de Ferreira Leite é benéfico porque, a bem da verdade, julgo que fará por recordar o que esteve na origem das mesmas: um pequeno problema de défice excessivo que o governo socialista de António Guterres, onde Sócrates era figura de cartaz, nos deixou. Problema menor que em nove anos, seis dos quais com os socialistas no poder, ainda está por resolver. Pode ser também, mas acho que já estou a pedir demais, que alguns façam por comparar as receitas extraordinárias que todos sabemos que foram utilizadas por Ferreira Leite para combater o défice, com as receitas extraordinárias que alguns fazem por esquecer que foram utilizadas por este governo para o mesmo efeito.
Esta manhã, numa breve vista de olhos pela imprensa, o jornalista Pedro Coelho disse na SIC-Notícias uma coisa extraordinária sobre a condenação do campeão da fraude norte-americano: «Teve azar ao ser julgado em tempo de crise.» Eu é que nunca tinha pensado nisso, mas agora, vendo melhor, acho que sim: se não fosse a crise, o ex-superbanqueiro não teria apanhado 150 anos. No máximo, Maddoff ficaria preso uns 147, 148 anos; vá lá, 149 no máximo. O homem teve mesmo azar: ele nada teve que ver com a crise e foi logo apanhar com ela em cima.
"ENLACE MATRIMONIAL"
Por estes dias tenho lido Dietrich Schwanitz e o seu aclamado "Cultura". É um livro curioso, uma espécie de mini-enciclopédia, onde o autor resume os grandes acontecimentos históricos, os grandes livros, as grandes obras de arte, enfim, os principais elementos da nossa herança cultural. O texto é escorreito, rico e recorre à ironia q.b.
O meu problema com este tipo de obras "genéricas" é que o autor, por mais culto e preparado que seja, nunca consegue ser um especialista em todas as áreas do saber, o que conduz a lamentáveis equívocos - que de certa forma minam o propósito da obra (oferecer-nos um resumo informado de vários temas tratados de forma complexa noutros livros mais "específicos").
Dou um exemplo numa área que conheço bem: a Revolução Americana. Escreve Schwanitz: "Após a conclusão da Paz com a Inglaterra, em 1783, reuniu em Filadélfia a Assembleia Constituinte (1787). A figura dominante era o antigo ajudante de Washington, Alexander Hamilton, que encabeçava os chamados federalistas que se propunham fortalecer o governo central da União. O seu adversário era Thomas Jefferson, [...] cuja tónica incidia na independência dos vários Estados federados." (p. 162).
Temos aqui dois problemas graves: Hamilton era de facto uma das figuras principais dos federalistas, mas a sua prestação na Convenção de Filadélfia resumiu-se a um único discurso em quase 4 meses, não tendo elaborado uma só moção ou proposta concreta, pelo que o seu contributo para a criação da Constituição foi quase nulo. Por outro lado, Jefferson é identificado como uma figura preponderante neste evento, mas Jefferson era embaixador em Paris, não tendo estado presente na dita Convenção, nem se envolvido na discussão e aprovação da mesma (Jefferson só regressaria aos EUA no final de 1789).
Dir-me-ão que isto é pouco relevante e que são erros inevitáveis. Talvez. Mas fica sempre a pergunta: se neste tema, que por acaso domino, o autor cometeu estes erros, o que me garante que não o tenha feito noutros assuntos que não domino, e onde tomo a informação por boa? Em suma, parecem-me louváveis estes esforços de "síntese cultural", mas de modo algum substituem o trabalho do especialista e da "análise minuciosa" que as diversas áreas do saber exigem.