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Delito de Opinião

O convite visto à lupa

João Carvalho, 31.07.09

A Ana Lourenço conseguiu ter, na SIC-Notícias, os dois protagonistas do caso do convite socialista a Joana Amaral Dias. Esta, no Jornal das 9, puxou daquele ar sobranceiro habitual para dizer que já tinha explicado tudo antes, que entendeu não falar mais e ir uma semana de férias e que a imprensa demorou muito tempo a procurar a verdade. Como é que isto se conjuga não sei, mas ouvi-a rejeitar qualquer contacto mais intimista ou baseado na amizade, porque só tinha estado com Paulo Campos uma vez e a proposta que este lhe lançou foi feita por telefone. Acrescentou ainda que não teve qualquer dúvida em recusar a ideia, por ter sido muito crítica em relação ao PS durante estes quatro anos e tal.

Depois, na hora seguinte, a Ana Lourenço chegou à fala com o secretário de Estado das Obras Públicas. É inenarrável a conversa que mantiveram, com Paulo Campos a referir-se a ele próprio na terceira pessoa, à jogador de futebol: «O Paulo Campos disse», «o Paulo Campos fez», «o Paulo Campos aconteceu»...

Foi um longo momento atabalhoado e quase me vi com pena dele. Foi quando decidi puxar da lupa e observar a historieta ao pormenor. Disse ele que falou com ela duas vezes: um telefonema inicial dele para saber se ela estaria disponível e um telefonema posterior dela para lhe dizer que não estava disponível.

Visto o caso assim à lupa, tirei duas conclusões. A primeira é que a Ana Lourenço merece ser felicitada pela pachorra para aguentar aquilo sem o mais pequeno ar de enfado ou ironia, excepto quando Campos, membro do governo, disse que nem sabia o que é o IDT (o Instituto da Droga e Toxicodependência).

A segunda conclusão tem mais peso em todo este embrulho. Joana Amaral Dias confirma que foi contactada, jura que nunca lhe passaria pela cabeça algo que não fosse declinar o convite e... foi por certo pensar para mais tarde ela própria telefonar e responder. Registe-se.

Orgulhosamente só?

Carlos Barbosa de Oliveira, 31.07.09

“Sei que represento as mulheres portuguesas e tenho muito orgulho nisso” – afirma Maria Cavaco Silva numa entrevista a ser publicada amanhã no “i”.
Não sei se as mulheres portuguesas  também se sentem orgulhosas com a sua representante, mas gostaria que me explicassem  o que  significa “cuidar da interioridade” dos filhos. É que a mulher do PR (ou deverei dizer esposa, João?)  diz que gostava de deixar essa marca aos filhos…

O inimigo principal

Pedro Correia, 31.07.09

 

O PCP, fiel aos últimos 34 anos da sua história, continua a eleger o PS como alvo preferencial. Repare-se na edição desta semana do Avante! O editorial do órgão central dos comunistas portugueses considera que os socialistas propõem aos portugueses uma "irmã gémea da política que o PSD, se for governo, se propõe aplicar". Nas páginas de opinião, Jorge Cordeiro, membro da Comissão Política e do Secretariado do partido, refere-se às próximas autárquicas em Lisboa nestes termos: "O que a cidade tem justamente a temer por parte de Santana, tem-no em igual medida a temer por parte do PS." Anabela Fino faz um diagnóstico terrível: "A contra-revolução ganhou terreno, voltou ao Poder e paulatinamente foi reinstaurando (e ainda o está a fazer) a velha ordem capitalista, sob a larga capa da democracia, que ao fim de 33 anos de mau uso foi encolhendo, encolhendo e deu nesta duocracia actualmente em vigor."

Henrique Custódio, para não ficar atrás, salienta que Sócrates quis impor ao País um "conto do vigário" . E Jorge Messias, na coluna 'Religiões'(?), proclama, urbi et orbi: "Assim vai a vida de Sócrates... é como um balão que se esvazia! Fala e pavoneia-se mas não convence ninguém. E quando acontece a um político e homem de chicanas (tal como Sócrates revela na verdade ser) fazer streap-tease mesmo à beira das urnas e não captar simpatias, não convencer ninguém, a sentença popular fica ditada de antemão. Esperamos que nas próximas eleições Sócrates seja humilhado e não devemos lamentar que isso aconteça."

Ou seja: o PCP proclama a vários vozes no seu jornal oficial, sempre visando Sócrates, o que nem ousa insinuar em relação a Manuela Ferreira Leite, poupadíssima nesta edição do Avante!

Alguém se admira? Os comunistas disseram o mesmo de Mário Soares, Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, António Guterres e Ferro Rodrigues. Não aprenderam nada, não esqueceram nada: para eles o PS é e continuará a ser o adversário principal. Vivem em 1917, imaginam-se bolcheviques em eterna disputa com os mencheviques. Antes do suicídio de Maiakovsky, da implacável censura estalinista a Eisenstein e da picareta aplicada no crânio de Trotsky. A bem da revolução.

Ainda sobre o dia de hoje

Ana Vidal, 31.07.09

 

Tudo se inventa, hoje em dia. Qualquer teoria é defensável desde que não tenha de ser provada. E no que toca a teorias de auto-ajuda, a oferta é quase infinita. Há até um maduro que defende qualquer coisa de tão extraordinário como o "parto orgásmico". Isso mesmo, leram bem. Um orgasmo durante o parto... querem coisa mais aliciante, tão "a calhar" naquele momento? Uma amiga grávida mandou-me a notícia por mail, e eu não queria acreditar no que lia...

 

Vale a pena ouvir o que diz o iluminado Ricardo Herbert Jones (deixo aqui estes dois excertos para quem não tiver paciência para ler todo o artigo, o que eu, aliás, entendo perfeitamente):

 

"O orgasmo durante o nascimento só pode ocorrer quando todas as variáveis de segurança, afeto, tranqüilidade e equilíbrio emocional estiverem garantidas. Desta forma, o orgasmo será a conseqüência deste ambiente de positividade, e não sua busca objectiva."  

 

"Parto orgásmico é um mergulho profundo no ser feminino. É a descoberta do prazer de parir; o segredo mais bem guardado, no dizer da parteira americana Ina May Gaskin. É uma possibilidade para qualquer mulher desde que possa despir-se das capas de medo criadas pela cultura patriarcal que tenta dominar a força criativa da mulher, culpabilizando-lhe o prazer e domesticando o feminino."

 

O blá blá blá continua aqui, para quem ainda não estiver devidamente esclarecido.

 

Tenho só a dizer-lhe, caro Ricardo Herbert Jones, que só um homem se lembraria de uma destas. Porquê? Porque só um homem pode dizer todas as asneiras que lhe vierem à cabeça sobre um assunto que desconhece em absoluto, sabendo que jamais terá de vivenciá-lo para provar a sua teoria... 

 

Tenha primeiro um filho, meu amigo - e de parto natural! - e depois venha falar-me de orgasmos durante essa experiência light...

 

(Nota: repescado do Porta do Vento, a propósito do post do Carlos com bolinha vermelha)

 

 

A indignação vesga da CGTP

Pedro Correia, 31.07.09

O meu aplauso para Manuel António Pina, um dos melhores colunistas da imprensa portuguesa. Também ele é contra a indignação selectiva da CGTP, que encara as violações dos direitos humanos só com um olho aberto enquanto mantém o outro convenientemente fechado, não vá o PCP incomodar-se: "Quem, como a CGTP, não repudiará 'a ditadura e brutal repressão' nas Honduras e as 'numerosas detenções e mortes denunciadas por entidades de defesa dos direitos humanos'? Por isso, procurei no site da central o que, em nome dos seus 'princípios e valores fundamentais', a CGTP teria também feito (ou dito, ou apenas murmurado) face à 'ditadura e brutal repressão' e 'numerosas detenções e mortes' em Xinjiang e Teerão e 'às inaceitáveis violações dos direitos humanos' dos povos da China e do Irão denunciadas por 'entidades de defesa dos direitos humanos'. Pesquisei 'Xinjiang' e obtive zero resultados; pesquisei 'Irão' e obtive 15 futuros do indicativo do verbo 'ir' e uma referência às 'ameaças dos EUA ao Irão'."

Em total sintonia com o que eu já tinha escrito aqui.

Ó p'ra mim, tão inchado!

Carlos Barbosa de Oliveira, 31.07.09

 

 

Eu ainda não escrevi sobre o programa de governo apresentado pelo PS, porque estava  à espera que algum dos meus companheiros de Delito reconhecesse os meus méritos na sua elaboração. Não estou a brincar! Alguém do aparelho anda a visitar o meu Rochedo e a aproveitar-se das minhas ideias.
Ainda não li o programa todo, mas uma das medidas  anunciadas  é esta, que eu já propusera em Março. 

Socialismo natal

Adolfo Mesquita Nunes, 31.07.09

Tenho andado pela Rua Direita a explicar, com um conjunto de pessoas, porque vou votar CDS nas próximas eleições. Tarefa que me tem deixado com pouco tempo para outras andanças e outros comentários. 

Mas esta recente proposta de José Sócrates dar 200 euros por cada rebento (em boa hora destacada pela Leonor e pelo Pedro), para além de merecer a nossa gargalhada, merece uma série de outros comentários.

A proposta do PS não é apenas disparatada nem eleitoralista, que também o é. É uma medida puramente socialista, de quem acha que pode resolver os problemas da natalidade com subsídios e incentivos directos e discriminações positivas. Como sempre, ficam por resolver todas as outras barreiras que, desde a lei do arrendamento à rigidez laboral passando pelo regime fiscal, impedem as famílias de, querendo, terem mais filhos. E assim se deitam uns bons milhões de euros ao lixo. É isto o socialismo.

De facto, e repito o que já escrevi, há duas alternativas nesta matéria. De um lado, as medidas de apoio directo à natalidade como veículo privilegiado de acção, que é o lado socialista. De outro, eliminação de todas as discriminações negativas que afectam a família e que a impedem de, em liberdade, escolher ter um filho ou não, que é o meu lado.

É por isso que a medida socialista é má, para além de eleitoralista. O problema não é o montante ser pequeno. É a política estar errada, como aliás se comprova por um qualquer estudo comparativo de políticas de natalidade.

Coerências

Sérgio de Almeida Correia, 31.07.09

O Tribunal Constitucional (TC) chumbou, e bem, as normas do Estatuto dos Açores que obrigavam o Presidente da República a ouvir os órgãos regionais em caso de dissolução. Era um resultado esperado. O PS nacional foi a reboque do PS/Açores e acabou por dar cobertura a alguns complexados regionais que entendem que a relação entre o país e as autonomias deve ser feita com o apoucamento das instituições da República. Enquanto Alberto Martins veio agora deitar água na fervura e apelar a uma tardia prudência, as declarações do deputado Ricardo Rodrigues revelam o erro em que continuam a laborar alguns deputados e a sua falta de estatura e senso político. Foi mais um problema desnecessário e artificialmente criado pela direcção do grupo parlamentar e a direcção nacional do PS, pelo que querer atacar o TC de nada servirá. Jorge Miranda já tinha alertado para a evidência com a clareza a que nos habituou e fundamentação irrepreensível. Atacar o TC e acusá-lo de tomar decisões políticas, como parece ser a estratégia que se segue, é mais um perfeito disparate. Mas o PSD, que depois de ter votado favoravelmente o diploma por duas vezes acabou na votação final por se abster e a seguir suscitar a fiscalização sucessiva, também não sai melhor. Quem ontem tivesse ouvido Marques Guedes ficaria a pensar que o PSD esteve contra a aprovação do Estatuto "chumbado" tal a rapidez com que esse partido quis retirar dividendos políticos do "chumbo". Expressivo é também o silêncio de Alberto João Jardim. Agora que até tinha um bom pretexto para "malhar" no TC e defender as "autonomias" está calado. Será para não colocar em xeque a faltosa da festa do Chão da Lagoa?    

Paranóia gripal

Sérgio de Almeida Correia, 31.07.09

Ao longo de mais de 20 anos de advocacia nunca deixei de cumprimentar um magistrado antes do início e do final de uma diligência. Por educação e por respeito para com a justiça e a magistratura portuguesa. Na passada 2ª feira, uma ilustre juíza, no final dos cumprimentos da praxe, virou-se para os advogados e disse que "qualquer dia talvez seja melhor eliminar esta parte", esclarecendo que o seu receio se devia à gripe A. Ontem, quando os advogados entraram já lá estava a senhora magistrada. O colega mais velho que seguia à frente do cortejo disse "boa tarde" sem fazer qualquer menção de se abeirar da bancada, mas acrescentando logo de seguida, entre o jeito de pergunta e a afirmação irónica, "então ficamos assim". Eu aguardei para ver a reacção. A senhora magistrada esboçou um tímido sorriso e assentiu. Ficámos mesmo todos assim. Sem jeito. Os cumprimentos estavam feitos. 

Inteiramente de acordo

Pedro Correia, 31.07.09

Brincalhões

Leonor Barros, 31.07.09

Não é preciso ser-se génio para perceber que esta medida não leva a nada e que não constitui um real apoio ou incentivo à natalidade. O rendimento médio dos portugueses é um indicador fiável de que a necessidade de apoio é premente e que deve repercutir-se no imediato. Daqui a dezoito anos as necessidades são outras, 252 euros com juros, segundo a Deco, servirão para muito pouco. Apelidá-la de “medida divertida” é um eufemismo simpático para mais uma medida vã.

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