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Delito de Opinião

Óbvio!

Cristina Ferreira de Almeida, 31.05.09

Um dia explicava não sei o quê às crianças quando me saiu a frase "... e como o casamento entre pessoas do mesmo sexo é proibido...". Ia continuar quando os vejo de olhos arregalados: - "É proibido?!? Porquê?!?". Não consegui explicar. A verdade é que também não sabia.

Lembrei-me disso e fiquei orgulhosa quando o meu nome foi projectado no ecran do cinema S. Jorge como uma das primeiras 800 assinaturas de um movimento que pede igualdade de direitos no acesso ao casamento. Até me sinto ridícula de tão óbvia que me parece esta reclamação, mas a verdade é que muitas coisas que nos parecem hoje óbvias tiveram que ser conquistada. Toca lá a assinar, vá.

 

http://www.igualdade.net/

Cultura Vital

João Carvalho, 31.05.09

O candidato-mor do PS viu-se obrigado a deixar de lado a agenda politiqueira. Primeiro a prometer e primeiro a deixar os temas que queria que fossem exclusivamente europeus, Vital Moreira anunciou hoje que ia flectir no rumo que tem mantido e dedicou o dia à cultura. Numa Europa que é assumida e felizmente multicultural, nada mais acertado para começar a responder às dúvidas e expectativas dos eleitores...

Onde está a Ana Gomes?

Ana Margarida Craveiro, 31.05.09

A ler: o editorial de Henrique Monteiro sobre a tortura aqui em Portugal. O que nos distingue dos outros é que, mesmo perante assassinos de crianças, como é o caso, temos critérios mínimos de decência. Direitos mínimos, como o não ser espancado, torturado. No dia em que a tortura é provada, mas não implica prisão de ninguém, estamos um bocadinho mais próximos dos "Irões" e "Yemens". Um passo pequeno, mas significativo.

As Anas Gomes deste mundo só gostam de tortura sobre coitadinhos do outro lado do mundo. A tortura dentro de portas, apoiada por um sistema judicial podre, não interessa grande coisa.

Europeias (34)

Pedro Correia, 31.05.09

 

MMS: ONDE MORA O MÉRITO?

 

Li o programa do Movimento Mérito e Sociedade às eleições europeias.

 

Principais propostas:

- Uma verdadeira política fiscal comum

- Salário mínimo uniformizado no espaço europeu 

- Políticas de acesso à saúde e à educação uniformizadas no espaço europeu

- Cidadãos europeus com os mesmos direitos e deveres na UE

- Igualdade de acesso à cultura, saúde e justiça

- Melhoria do ensino do português além-fronteiras

- Incentivos e benefícios às remessas provenientes dos portugueses a viver na Europa

 

Comentários:

- O MMS tem o programa eleitoral mais bem escrito de todos quantos li até agora.

- O facto de estar bem redigido não impede que este programa seja, essencialmente, um conjunto de generalidades e abstracções.

- 'Igualdade' e 'uniformizado' são palavras-chave neste programa do Movimento Mérito e Sociedade. Percebe-se onde está a Sociedade. Só apetece perguntar onde está o Mérito. 

O pequeno ditador

Leonor Barros, 31.05.09

Domingo de manhã é um dia improvável para visitas ao supermercado. Contudo acontece, raramente, mas acontece e por isso neste Domingo cumpriu-se a improbabilidade e a excepção.

Entre o burburinho que presumo habitual, uma fila desencorajadora no peixe e os carrinhos a abarrotar, cruzei-me com uma mãe carregando o filho de um lado e o carrinho de compras no outro. O ar de desânimo e estafa no rosto da mulher bem jovem denunciam o suplício que passará entre dois pólos da sua existência, a vida doméstica de um lado, e do outro, a maternidade, empurrada como quem empurra o mundo, o contraste infeliz com a manhã tépida e apaziguadora de sol. Mais um volta e ouço o grito de uma outra mãe, o eco lá para o corredor das bolachas Francisco! Ó Francisco! e depois a reincidência num tom ainda mais elevado Francisco! Avisto entretanto o Francisco, uma criança de uns quatro, cinco anos previsivelmente, a empurrar o carrinho de compras, cada vez mais alheado ao chamamento da mãe. Impávido e sereno o Francisco seguia o seu caminho como se nada, rigorosamente nada, fosse. Francisco! Desta feita, o Francisco ia já bem ligeiro a afastar-se da vista da mãe. A progenitora acorreu à criança para que não a perdesse de vista e arremessou-lhe com mais uma ralhadelas sonoras, a que o Francisco correspondeu com uma altaneira ignorância do alto da sua ínfima idade. Francisco, o que é que tínhamos combinado? Nada. Mãos adentro de uma prateleira, ia lampeiro buscar algo da sua preferência. Já que o obrigaram a ficar pelo menos traria algo consigo. Mais uma admoestação e nada. A mãe corre lesta para o carrinho, furiosa e descontrolada, e retira algo a que o Francisco finalmente reage com o choro imediato. A mãe, com o desespero estampado no rosto, cede e diz-lhe Então pronto! Surpreendente que aos quatro, cinco anos aquela mãe não consiga impor-se, ceda às chantagens do pequenote e que fique desesperada. Menos surpreendente é, pois, que quando adolescentes não lhes consigam fazer nada.

Ler

Pedro Correia, 31.05.09

Ao mesmo.  Do João Gonçalves, no Portugal dos Pequeninos.

Memória. Da Helena Matos, no Blasfémias.

A voz do dono. De Filipe Tourais, n' O País do Burro.

O que temos de aturar. Do Filipe Nunes Vicente, no Mar Salgado.

Cortinas de fumo. De Gabriel Silva, no Blasfémias.

Para que serve a requalificação do Terreiro do Paço? De Fernando Penim Redondo, no Dote Come.

Zeca. De Bruno Vieira Amaral, n' O Cachimbo de Magritte.

Guerra e Paz 2. Da Joana Carvalho Dias, no Hole Horror.

Odeio-te, Philip Roth, odeio-te! De Eugénia de Vasconcellos, na Mátria Minha.

Terra Nova: a independência que descambou num fiasco... De A. Teixeira, no Herdeiro de Aécio.

Liberdade de expressão (2). Do Tomás Vasques, no Hoje Há Conquilhas.

Pyongyang também é aqui. De Rui Bebiano, n' A Terceira Noite.

"Como é que Deus permite isto?" Do Henrique Raposo, no Clube das Repúblicas Mortas.

Can't tell the truth cause it all comes out wrong. De Pedro Jordão, em The Heart is a Lonely Hunter.

 

(em actualização)

Passada com o presente

Teresa Ribeiro, 30.05.09

A minha cesta dos jornais está sempre a transbordar das notícias que eu imagino que estou a perder e que afinal não perdi porque a Internet, as televisões e as rádios as afogaram. Das leituras que ficam para trás distinguem-se algumas colunas de opinião, artigos onde se coligem dados que me interessa arquivar e uma ou outra entrevista que eu quero ler, ou voltar a ler, com vagar. A que Alfredo Mendes deu ao Público a 26 de Fevereiro li no próprio dia em que saiu, mas depois deixei-a ficar. Não para arquivar - a história de um despedimento já não é notícia - nem sequer para reler. Talvez apenas porque a ideia de a meter no lixo me incomoda.

Fotografaram-no bem. Naquela foto de página está tudo: a mágoa e sobretudo o espanto de quem se vê, ao fim de mais de 30 anos de profissão, a ser entrevistado e fotografado por colegas. De repente do outro lado. Não a fazer perguntas de gravador na mão, mas inquirido por dois profissionais de um meio que o regurgitou. Diz que foi despedido durante uma conversa que durou dois minutos. Trabalhava no Diário de Notícias há  32 anos e foi um dos 122 trabalhadores do grupo Controlinveste que receberam, no princípio do ano, guia de marcha.

A dignidade com que se fez ao boneco que ironicamente sela a sua carreira de jornalista é parte do meu problema. Não consigo, mesmo que respeitosamente demore no gesto mais que os tais  dois minutos, mandá-lo para o lixo. Acabo a passar os olhos por dois ou três tópicos desta entrevista e lembro-me que o que mais me perturbou foi ler a descrição que ele fez da forma como foi acolhido na profissão, tinha então 16 anos: quando meti na cabeça que havia de ser jornalista mandei uma carta para o Jornal de Notícias. "Se dentro de uma semana não tiver resposta, escrevo para o Comércio do Porto", lembra-se de ter pensado. Mas a resposta veio mesmo, assinada pelo então subdirector do JN, Freitas Cruz. Era um convite para ir à redacção. Diz que ficou extasiado. No dia aprazado deslocou-se ao JN e aguardou cerca de quinze minutos. De repente apareceu-me um senhor muito aflito, a pedir desculpa pela espera. Era Freitas Cruz, que o aconselhou a seguir estudos mas acabou a convidá-lo para colaborador desportivo.          

Um director a recebê-lo? Um director a desculpar-se porque fez perder um quarto de hora a um miúdo de 16 anos? Parece ficção. Apetece-me embrulhar a cena e metê-la na série Passado Presente aqui do Delito, com a etiqueta Disto já não há. Que contraste entre esse mundo distante que Alfredo Mendes nos deixa entrever e aquele que o dispensou em poucos minutos. Enquanto devolvo a história dele à minha cesta pergunto-me como foi possível chegar a isto. Ao mesmo tempo que me interrogo reparo que está calor, é sábado e estou a perder demasiado tempo com a minha sempiterna pilha de jornais. Com os malditos jornais. Raios os partam! 

Hoje, no i

Ana Margarida Craveiro, 30.05.09

Merecem a abstenção que têm

Ana Margarida Craveiro



Primeiro facto: os eurodeputados tendem a alinhar-se mais por famílias políticas do que a navegar por linhas nacionais. No parlamento europeu, há política à moda antiga. Segundo facto: a abstenção nas eleições europeias seria menor se houvesse uma politização das eleições, com estratégias europeias a ir a votos. Sucede que o eleitorado não conhece essa politização, logo, não vota. Conhecer as várias Europas propostas é meio caminho para tornar a Europa uma disciplina de política interna - como ela é - e não uma matéria de relações internacionais – como ela já não é. Mas em Portugal nada mudou. De forma medíocre, esta campanha não passou as nossas fronteiras. A abstenção assim o atestará, de novo.
A pequena Europa do passado tinha vencedores consensuais. Hoje, a competição pelo poder é feita a 27, com maiorias de esquerda ou direita. Ou seja, existe uma verdadeira democracia na Europa. A nossa campanha desrespeitou essa democracia europeia com a politiquice portuguesa do costume.
 

Desculpa de mau pagador

Paulo Gorjão, 30.05.09

Vital Moreira deu um tiro no pé. Insiste em não perceber que deu um tiro no pé e continua com o dedo no gatilho e com a pistola apontada ao pé. Sejamos claros. Até ao momento -- que eu saiba -- o PSD enquanto partido político não teve qualquer conduta menos própria. Dito de outra maneira, enquanto exerciam funções, os titulares dos órgãos nacionais -- e em particular da comissão política nacional --  em momento algum procuraram tirar proveito próprio recorrendo ao nome do PSD. Ou seja, nada, literalmente nada, compromete o bom nome do PSD. Logo, de um ponto de vista institucional, Manuela Ferreira Leite não tem nada que condenar politicamente o que quer que seja. Por inúmeras razões, não lhe fica bem explorar o caso BPN desta forma.

Europeias (33)

Pedro Correia, 30.05.09

 

 

 

PPM: UM REI NA CASA BRANCA

 

Li o programa do Partido Popular Monárquico às eleições europeias.

 

Principais propostas:

- Trabalhar em benefício da cultura, da tradição, dos produtos e ideias portuguesas

- Exigir medidas responsáveis e eficazes contra o crime económico

- Exigir o fim da pesca por arrastão nas águas portuguesas

- Integração das minorias étnicas

- Referendo ao Tratado de Lisboa

 

Comentário:

O programa deste partido é um autêntico mistério. Não pelo facto de não propor praticamente nada em concreto: outros que se apresentam a estas eleições também nada propõem aos portugueses. Verdadeiramente enigmático, para mim, é que um partido que se intitula monárquico e poderia fazer a diferença neste particular não inclui uma só linha, uma só palavra, em defesa da monarquia. Poderia mencionar Isabel II de Inglaterra, ou Juan Carlos de Espanha, ou Margarida da Dinamarca. Mas não. A grande referência internacional deste desconcertante PPM é Barack Obama. "A América, através da recente eleição do seu primeiro Presidente negro, já deu o primeiro sinal de que esta é a hora de apostar em algo que há cinco anos seria impensável", destaca o Partido Popular Monárquico no preâmbulo do seu programa - quase apetece chamar-lhe Partido Popular Obármico, dada a devoção que parece dedicar ao inquilino da Casa Branca. Alguém sabe informar-me se Obama usa coroa?

Berlusconi proíbe livro de Saramago

Carlos Barbosa de Oliveira, 30.05.09

A editora de Berlusconi censurou um livro de Saramago. Estou ansioso por ver as reacções daqueles que acusaram Chavez de ditador por, pretensamente, (digo pretensamente, porque já se provou que tudo se reduziu a uma montagem grotesca) ter proibido a entrada de Mario Vargas Llosa na Venezuela.

Povavelmente vão dizer que foi um acto normal em democracia...

Alexandra, Abraão e Isaac

Cristina Ferreira de Almeida, 29.05.09

 

O juiz que entregou Alexandra à mãe biológica reconhece que decidiu o destino da "menor" com base em relatórios e pareceres, sem nunca ter falado com nenhuma das partes. Nisso, não difere de muitos juízes, nem o seu processo de decisão difere de muitos processos. A única diferença de Gouveia Barros é que, apesar de tudo, se mostrou incomodado com a evolução do caso e falou com os jornalistas sobre a sentença. Estranhamente, é por ter falado que vai responder perante o Conselho Superior de Magistratura.

Não defendo que as decisões judiciais devam ter por base os sentimentos populares sobre cada caso - até porque, ao contrário do que acontece no futebol, não temos um vídeo que esclareça a justeza de cada acordão. Mas acho que a Justiça não pode viver isolada de um compromisso: o dos valores sociais que entendemos serem comuns.

Barack Obama expôs essa necessidade brilhantemente num discurso que gostaria de lincar mas não consigo. Disse ele que se, à saída da Igreja onde discursava, as pessoas vissem Abraão com uma faca na mão para matar Isaac - em resposta à prova de lealdade que Deus lhe pediu - certamente não ficariam à espera da mão de Deus. Denunciariam Abraão e esperariam que a Comissão de Protecção de Menores lhe retirasse a guarda de Isacc. "Faríamos isso porque não ouvimos o que Abraão ouve, nem vemos o que Abraão vê. Então, o melhor que podemos fazer é agir de acordo com aquilo que todos nós vemos e com aquilo que todos nós ouvimos", disse Obama.

Creio que, neste caso, o compromisso de que Obama fala poderia ter feito toda a diferença na vida de Alexandra. 

 

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