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Delito de Opinião

Congresso apagado

João Carvalho, 01.03.09

O congresso do PS foi interrompido ontem ao fim do dia pelo apagão no recinto em que decorria. Não houve capacidade tecnológica que resolvesse o caso e o dia acabou assim mesmo, porque a luz não regressou.

Cá fora, toda a gente tinha algo a dizer, com algumas figuras mais destacadas a aproveitar o transtorno para dar palpites em sentido figurado. Porém, não houve farol que iluminasse outro sentido que não fosse o da saída de cena.

Vital Moreira: quatro notas

José Gomes André, 01.03.09

 

1. Poderá ser uma escolha controversa, mas por favor não  repitam a observação de Pedro Marques Lopes na SIC-N: “É um intelectual que não sabe falar para as pessoas normais (sic)”. Os analistas queixam-se de que os políticos portugueses são medíocres, não têm qualidades éticas nem intelectuais, e que a vida partidária está divorciada da sociedade civil. Porém, logo zombam quando surgem candidatos como Vital Moreira, com um excelente percurso académico, integridade, indiscutível conhecimento dos temas e que não só não é um militante do PS como tem de facto um percurso de vida ligado à sociedade (e não particularmente aos partidos).

 
2. Concedo que Vital Moreira é um comunicador mediano e praticamente desconhecido para o grande eleitorado. Todavia, nas eleições europeias os nomes dos candidatos são de longe o menos importante (dão-se alvíssaras a quem, sem recorrer ao Google, se recordar dos cinco cabeças-de-lista do mais recente escrutínio para o parlamento europeu). A meu ver, esses problemas na ligação ao "cidadão comum" terão pouca ou nenhuma relevância no resultado eleitoral do PS.
 
3. Contudo, enganam-se também aqueles que elogiam o aspecto estratégico da decisão de Sócrates, aplaudida pela forma como enfraquece potencialmente a oposição à esquerda. Nada mais errado. Vital Moreira é de facto um nome à Esquerda, mas de forma alguma é o conciliador que os analistas logo se apressaram a elogiar. O seu passado comunista e o modo como deixou o PCP não o vai beneficiar em nada junto do eleitorado comunista. Bem pelo contrário: prevejo que sirva de incentivo para mobilizar o PCP numa luta que muito tem de simbólico (uma espécie de oportunidade para negar o movimento reformista no interior do Partido e punir os traidores internos – causas que mexem muitíssimo com os comunistas). Por outro lado, não me parece que um Professor Universitário com alguma idade seja especialmente apelativo para o eleitorado do Bloco: os jovens não o conhecem; as massas suburbanas não o vão querer conhecer (em tempos de crise não terão paciência para ouvir falar sobre direito constitucional ou tratados internacionais).
 
4. Teremos oportunidade de avaliar a sua candidatura, mas para já começou bem. Embora num tom demasiado vaidoso para o meu gosto, apresentou ideias interessantes sobre as questões europeias (a reforma das instituições, a necessidade de uma concertação internacional para enfrentar a crise económica) e foi suficientemente sincero para admitir que poderia ter um resultado fraco (havendo nas eleições europeias o chamado “voto de protesto”). Num Congresso dominado pela arrogância e por um optimismo quase infantil, foi quase entusiasmante ouvir estas observações moderadas e realistas.

Duelo final

Cristina Ferreira de Almeida, 01.03.09

O congresso do PS serviu para clarificar muito bem os inimigos políticos de Sócrates. Ou seja, os autores da campanha negra. O combate político vai subir de tom e descer de nível. É bom que Manuela esteja preparada porque, aos poucos, vai ficando frente-a-frente com Sócrates. José e Manuela, cada qual com o seu exército. O Primeiro-Ministro e a pivô do jornal de sexta-feira da TVI. 

À defesa e ao ataque...

Paulo Gorjão, 01.03.09

Concordo e acrescentaria mais duas ou três palavras. Não estamos propriamente perante um devaneio político. Joga-se à defesa porque se sente essa necessidade. Esta opção vem reconhecer que entretanto se esgotaram outras soluções, ainda que temporariamente. Jogar à defesa pode ser eficaz no seio da tribo, mas é uma solução táctica com eficácia limitada para além das suas fronteiras.

Não se ganham eleições com maioria absoluta a jogar à defesa. José Sócrates sabe isso melhor do que ninguém. Resta saber se conseguirá passar, de novo, da defesa para o ataque. Tenho dúvidas. Vão longe os tempos do cheque em branco.

Rosa murcha

Carlos Barbosa de Oliveira, 01.03.09

Eu tinha avisado aqui que poderia haver uma pequena surpresa em Espinho. O João Carvalho e o Pedro Correia perceberam onde ela podia estar  e acertaram!
Não sou bruxo, nem tenho bola de cristal, apenas tive a sorte de estar na hora certa, no local certo.
Acredito que, para muitos leitores, a escolha de Vital Moreira tenha sido uma surpresa. Não para mim, que conheço bem como Sócrates premeia os seus fiéis e me habituei a “ler” os encómios diários do Professor de Coimbra como um sinal .

De qualquer modo, apreciei a encenação de Vital Moreira, com o seu discurso do sacrifício. Nada que me surpreenda, também, mas como gosto de teatro…
 

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