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Delito de Opinião

Momentos de ironia involuntária

Paulo Gorjão, 29.03.09

José Sócrates passou o tempo todo a criticar o PSD. Vital Moreira seguiu a mesma linha com igual afinco e empenho. Repito, José Sócrates e Vital Moreira passaram uma parte significativa da sessão de pré-campanha a criticar a oposição e o PSD em particular. No meio da orgia crítica, de forma completamente incoerente, Vital Moreira lembra que as eleições europeias não devem ser instrumentalizadas e aproveitadas para criticar...

... o Governo!

Moral da história?

Faz aquilo que eu digo, mas não faças aquilo que eu faço. As eleições europeias servem para criticar a oposição, mas -- credo, cruzes, canhoto! -- não podem servir para criticar o Governo. O Governo, como se sabe, está acima de qualquer crítica. Aliás, o Governo nada tem que ver com opções de política europeia. É preciso ter lata...

Condenados ao desemprego

Pedro Correia, 29.03.09

Têm menos de 30 anos. Mas estão condenados a prosseguir a formação, a viver com os pais mais tempo ainda e a esperar. Porque terminam os estudos em plena crise. E sem oportunidades. Uma excelente reportagem do El País, que recomendo. Fala da Espanha de Zapatero. Mas tudo isto se passa também no Portugal de José Sócrates, onde a geração mais bem preparada de sempre, em termos académicos, para enfrentar os desafios profissionais parece afinal condenada ao desemprego. Nunca se estudou tanto como agora. E nunca a falta de perspectivas foi tão notória. Felizmente, existe Angola. Para as estatísticas serem menos chocantes deste lado da península.

A cor dos homens

João Carvalho, 29.03.09

Estava a chegar perto da televisão e apanhei a parte final d'As Escolhas de Marcelo Rebelo de Sousa, nos minutos derradeiros que ele dedica aos livros que recebe. Tinha ele na mão um livro (O Mundo em Mudança, se bem consegui perceber) em cuja capa se destacam os rostos sorridentes de Mário Soares e de Barack Obama.

Lembrei-me que o nosso antigo Presidente, afastado George W. Bush da Casa Branca, deve andar actualmente muito satisfeito com o actual Presidente dos EUA. Ao ver aqueles dois rostos na capa do livro, o velho líder socialista e o jovem estadista democrata lado a lado, vê-se bem que são ambos da mesma cor.

De blogue em blogue

Pedro Correia, 29.03.09

1. A Montanha Mágica é nome de romance. E é nome de blogue, agora a festejar o sexto aniversário. Parabéns ao seu autor, Luís Miguel Dias.

2. João Sousa André relançou a sua Estação Central. E fez muito bem.

3. Joaquim Queiroz, veterano jornalista, surge em grande na blogosfera. O título é um achado: Essa de Queiroz.

4. O Rui Bebiano mudou de casa: está agora aqui.

5. Reforços de Primavera: Miguel Esteves Cardoso e João Pereira Coutinho na Geração de 60.

6. O Blogue de Direita e o Blogue de Esquerda vão dar imenso que falar.

O 'apagão' de Queiroz

Pedro Correia, 29.03.09

 

Carlos Queiroz, que foi levado aos ombros pela "opinião" desportiva nacional quando Gilberto Madaíl decidiu pô-lo no lugar de Scolari, recolocou a selecção portuguesa de futebol no trilho das "vitórias morais". Com opções tácticas inexplicáveis (chegou a fazer alinhar três defesas centrais, jogou parte do desafio sem ponta de lança), uma absurda escolha do onze inicial (se Deco estava em condições de jogar, por que motivo só entrou no terço final do jogo?) e a habitual falta de ousadia que o caracteriza, o "professor" tão celebrado pelos crânios da modalidade viu esta noite a sua equipa rubricar mais uma exibição medíocre contra uns suecos medianíssimos, no estádio do Dragão. Resultado: zero a zero. Há quase trezentos minutos que Portugal não marca um golito nas balizas adversárias, o que constitui um perfeito retrato desta "era Queiroz". O que falta na selecção? Quase tudo: motivação, acerto de pontaria, espírito vencedor. Sobram os habituais cálculos aritméticos de última hora e o fado choradinho dos "quatro penáltis não marcados" com que o seleccionador, bem à portuguesa, se desculpou na sequência deste fruste empate caseiro com sabor a derrota. Houve lenços brancos no estádio. Vieram a propósito: bem podemos dizer adeus ao Mundial da África do Sul.

Era a noite em que os ambientalistas planetários nos tinham aconselhado a apagar todas as luzes entre as 20.30 e as 21.30 - à hora do jogo, portanto. Penitencio-me desde já: devia ter-lhes dado ouvidos. Antes esse apagão do que o outro, que aconteceu no estádio.

Ninguém sabe

Jorge Assunção, 28.03.09

 

Na RTP2, hoje, pouco antes da uma da manhã, é transmitido um brilhante filme japonês, baseado numa história verídica que aconteceu no Japão em finais da década de oitenta. Entretanto, o economista Nattavudh Powdthavee é autor de um artigo polémico sobre as crianças e a felicidade que elas (supostamente) não trazem: Think having children will make you happy? Think again, suggests Nattavudh Powdthavee – you’re experiencing a focusing illusion. Para a mãe das crianças do filme em causa, estas não eram muito mais do que isso: um entrave à sua felicidade. Eu cá, ilusão ou não, vou continuar a considerar que as crianças trazem felicidade, a história real que originou o filme é que não me causa mais do que tristeza.

Touché!

José Gomes André, 28.03.09

Fumaça

Paulo Gorjão, 28.03.09

Esta mega-operação poderia ter tido lugar antes da divulgação do Relatório Anual de Segurança Interna. Acontece que ocorreu imediatamente após a divulgação de números incómodos para o Governo. Como não poderia deixar de acontecer, salvo explicação convincente, esta iniciativa não escapa à suspeita que foi ditada puramente por critérios de necessidade política do Governo -- e do MAI em particular -- e não por objectivos operacionais de segurança. Nada de novo, portanto...

[Adenda]

A isto chama-se ironia de fino recorte ainda que involuntária: o Público não encontrou melhor fotografia para ilustrar uma suposta mega-operação policial do que uma imagem de viaturas policiais junto a uma esquadra que já não existe...!

Comunismo e ejaculação precoce

Pedro Correia, 28.03.09

 

A cineasta Raquel Freire concede hoje, ao semanário Sol, a mais hilariante entrevista que tenho lido na imprensa portuguesa de há muitos dias para cá. Fazendo um rasgado elogio dos "sistemas marxistas", onde "havia mais piscinas" do que no capitalismo, a realizadora de Rasganço compara os dois modelos alternativos de sociedade, centrando-se com nostalgia na Alemanha da era do Muro de Belim. E parece ver vantagens óbvias no comunismo: "O sexo na Alemanha comunista durava mais tempo e era melhor. As mulheres, como adoptavam as doutrinas feministas, achavam que também tinham que ter orgasmos, que não eram só os homens. Já as mulheres da Alemanha Ocidental faziam um bocado o papel de bonecas insufláveis, como as nossas mães e as nossas avós. Na Alemanha comunista usavam-se métodos contraceptivos e estava muito mais presente a ideia do sexo pelo prazer e não apenas com o objectivo da reprodução."

Certamente tão espantado como eu com esta torrencial associação entre sexo e ditadura comunista, o entrevistador, José Fialho Gouveia, pergunta-lhe: "O comunismo combate a ejaculação precoce?"

Raquel não se atrapalha: admite logo que sim. "Provavelmente, mesmo que os homens ejaculassem depressa eram obrigados a continuar a relação e a dar prazer às mulheres." Lembrei-me então daquelas célebres fotos dos beijos na boca entre Brejnev e Honecker - dois símbolos do anacrónico mundo comunista - destinados a selar a "solidariedade internacionalista" sob a foice e o martelo.

Nada melhor, com efeito, para combater a ejaculação precoce...

Patxi López

André Couto, 28.03.09

Patxi López é o nome deste Senhor que vos trago hoje.

Decorria o mês de Março de 2002 quando chegou à liderança do Partido Socialista Euskadi (PSE), membro do Partido Socialista Obrero Español (PSOE). Desde cedo rompeu com a linha orientadora do PSE até então, que procurava construir uma frente antinacionalista com o Partido Popular, líder da oposição Vasca ao tempo. Recusou sempre ascender ao poder com o Partido Nacionalista Vasco e nunca se aliou ao Partido Popular.

Ousou mais: acreditou que era possível o PSE existir por si, lutar por si e conquistar o País Vasco com as suas ideias, ideais e princípios.

Sete anos volvidos torna-se o primeiro lehendakari (Chefe do Governo Vasco) não nacionalista, facto conseguido, agora sim, com o apoio do Partido Popular.

Patxi escreve com a sua mão uma nova página desta região tão conturbada de Espanha.

Socialistas ou não, todos devemos desejar o seu sucesso.

Alfredo Farinha [1925-2009]

André Couto, 28.03.09

Vi agora, apenas agora, que faleceu o Alfredo Farinha.

Cresci a vê-lo na televisão a defender o meu Benfica. Ganhei enquanto criança espírito crítico com futebol a ler os seus textos, quando ainda tinha a ingenuidade de miúdo e ia todos os dias de manhã comprar A Bola à banca do Sr. Fausto.

Não me esqueço daquela forma espontânea e inabalável como defendia o Benfica. Parecia que lhe saíam o coração e o estômago pela boca cada vez que atacavam o Nosso Glorioso. Era assertivo e impunha um respeito único, jamais visto em defensores do Benfica em programas do género. Eram tempos difíceis, acumulavam-se os anos em que o título nos fugia, mas nem por isso o Alfredo desistia.

Sei que antes de tudo isto, antes de o Alfredo se afastar, muito deu ao mundo do futebol.

Ao Alfredo Farinha deixo o meu muito obrigado e a certeza de que a sua memória perdurará.

E Pluribus Unum!

 

[Adenda] Contributo do Pedro Correia:

O Alfredo Farinha era o penúltimo representante ainda vivo da melhor geração de jornalistas da imprensa desportiva portuguesa. Uma geração que transformou o jornal 'A Bola' num cartão de visita de Portugal em todos os continentes. Gente que escrevia bem, que tinha convicções e que não receava exprimir opiniões, não confundindo o confronto de ideias com ataques de carácter. Uma geração que incluía Vítor Santos, Carlos Miranda, Carlos Pinhão, Homero Serpa e Aurélio Márcio (este o único sobrevivente).
Li, desde miúdo, incontáveis textos do Alfredo Farinha, ainda naqueles velhos lençóis d'"A Bola". Presto aqui a minha homenagem, como leitor, à memória desse veterano jornalista.

 

Queriam o quê?

Teresa Ribeiro, 28.03.09

Não há nada mais desinteressante e raro do que a felicidade feita de serenidade, solidez e candura que percebemos em certos casais de velhos que às vezes observamos na praia, entretidos um com o outro a fazer aquelas coisas que só as crianças e os velhos felizes sabem fazer. A outra, a dos balõezinhos de adrenalina, é um produto de contrafacção made in Taiwan.

Ler

Pedro Correia, 28.03.09

Os deputados, o Parlamento, o Governo e o regime. De Fernando Martins, n' O Cachimbo de Magritte.

O dueto do Tratado. De João Tunes, na Água Lisa. 

A coisa aproxima-se. De José Medeiros Ferreira, no Bicho Carpinteiro.

O meu nome é melhor que o teu. Do Sérgio de Almeida Correia, n ' O Bacteriófago.

O apagão da inteligência. Da Helena Matos, no Blasfémias

Cem anos e três dias. De Vítor Pimenta, na Avenida Central.

Problemas de geografia. Do Francisco José Viegas, n' A Origem das Espécies.

Che. Na Ana de Amsterdam.

London, por Borges. De Luís Quintais, n' Os Livros Ardem Mal.

Islão, esse sítio porreiro para as mulheres. Do Henrique Raposo, no Clube das Repúblicas Mortas.

Gran Torino. Da Joana Carvalho Dias, no Hole Horror.

Gran Torino. Do Sérgio Lavos, no Auto-Retrato.

'Playboy' à portuguesa. De Pedro Adão e Silva, no Léxico Familiar.

Espelhos e reflexos #16. De Fábio Santos, no Jardim de Micróbios.