1º ep. de: “Moribundo!? Como se em 2017 o jazz se fartou de espernear?” (Relatório à Godard, i.e., com princípio, meio e fim, não necessariamente por essa ordem.)
Houve festa de estalo no Dizzy's Club Coca-Cola, ali no Columbus Circle em Nova Iorque. Abrilhantavam o cartaz Archie Shepp, Sheila Jordan, os Sexmob com Steven Bernstein, os Trombone Tribe, com Josh Roseman, Ray Anderson, Steve Swell e Bob Stewart, etc.
Tamanho luxo sucedeu no passado dia 15 de Novembro, em celebração do 82º aniversário do trombonista Roswell Rudd e concomitante lançamento do seu último feito, o disco "Embrace" com a cantora Fay Victor, o pianista Lafayette Harris e o contrabaixista Ken Filiano.
Sim, Rudd sempre a experimentar, ele que circum-navegou o planeta do jazz partindo do seu vínculo inicial ao estilo dixieland até se tornar num prócere do free, envolvendo-se desta vez num quarteto sem bateria - não é para todos, é para quem pode - para interpretar um repertório de standards: "Something to Live For" de Billy Strayhorn, o compositor de Ellington; "Goodbye Pork Pie Hat", o requiem de Charles Mingus por Lester Young; a balada lírico-agulosa "Pannonica" de Thelonious Monk; "Can't We Be Friends", canção da Broadway.
Rudd rendeu-se? Não - "abraçou, abrangeu, adoptou". Não se espere dele digressões pelas galerias de um museu reverenciando com o remorso dos conversos as peças que antes desdenhara; a prática de Rudd em "Embrace" é a do jazz de sempre: respeitar a integridade das composções, ou seja, desafogar nelas passagens inesperadas e livres, porque o jazz, sabe-o Rudd melhor do que ninguém, é um perpétuo recomeço de conversa. O programa de "Embrace" é simples: provocar a manifestação do sublime com pequenas alegrias.
Posto isto no dia 26 de Dezembro de 2017 Roswell Rudd morreu, finalmente esvaído pelo cancro. Dulcíssimo passamento de quem em vez de murmurar pelo irrecuperável "rosebud" no leito da morte nos lega a mais bela das mensagens - "Embrace."