Convidado: JOÃO TUNES
Chega para lá esse Ministério
O meu ramo de engenharia não é a civil, acho que as autoestradas nos trocaram o tempo ganho e o encurtamento de distâncias pela monotonia com o juro do roubo das paisagens. Para mais, detesto pagar as portagens. Portanto, o ramo das Obras Públicas não é comigo. É mesmo o ramo ministerial que me está mais distante. Prefiro as Finanças, para as odiar quando me descontam o IRS. Ou a Cultura para me lembrar de Carrilho em oportunidade aproveitável de simpatia. Também gosto da Defesa para me rir do caricato de terem abolido o serviço militar obrigatório substituindo-o pelos submarinos obrigatórios. Enfim, e resumindo, as Obras Públicas estão-me sempre, qualquer que seja o ângulo de apreciação, em último lugar de proximidade e estima. No entanto, se tento afastar de mim o cálice das Obras Públicas, estas, nos últimos anos, teimam em não me largarem. Primeiro, Santana Lopes ministeriou um tipo que, antes e quando presidente da empresa em que eu trabalhava, tentou “despedir-me com justa causa” por umas coisas que escrevi num fórum interno da empresa. Santana caiu e subiu ao Ministério das Obras Públicas um meu antigo camarada de partido com quem tive colaboração próxima e de quem não só tinha boa opinião como acrescia uma estima pessoal. Mas não tardou que ele se saísse com boutades atrás de boutades e, inclusive, me pusesse a viver no meio do “deserto”, ofendendo-me e ao resto da malta da margem sul. Percebi, assim, que este amigo e antigo camarada, por força de enturmar na equipa de Sócrates, se tornara um trapalhão. Depois veio o Doutor Mendonça, que foi vários anos meu vizinho de residência, com as nossas famílias a partilharem convívios e com quem conspirei fartamente na camaradagem da dissidência no PCP sob a utopia pueril de “democratizar o partido”, ou seja, tornar quadrado o que é redondo. Fiquei à espera do que lhe aconteceria após frequentar uns tantos conselhos de ministros chefiados por Sócrates, um especialista a degradar ministros que não tenham tomado posse já em estado de degradação. Não tardou a resposta temida. Primeiro, propagandeou o TGV como forma de captar banhistas espanhóis para a Costa da Caparica. Agora acaba de me ofender, enquanto transmontano de origem, esparvoeirando a dizer que era mais barato oferecer automóveis e combustíveis ao pessoal do vale do Tua que manter-lhes o comboio em andamento. Convenci-me que há aqui sina não escrita na palma da mão. Pelo sim e pelo não, tenho debaixo de olho todos os tipos de algum gabarito que conheço e sejam potencialmente ministeriáveis. Algum de entre eles, certo e a saber, vem a seguir ao Mendonça. Para as Obras Públicas, é claro.