Os críticos que odeiam cinema
Um dos melhores filmes em cartaz neste momento é Revolutionary Road, de Sam Mendes, com um papel fabuloso de Kate Winslet. Basta o impressionante desempenho desta actriz para justificar a deslocação ao cinema. Acreditem: é um daqueles papéis que nos fazem crer na superioridade da arte de representar. À medida que a acção se desenrola e que a protagonista feminina (interpretada por Winslet) evolui com ela, vemos essa transformação estampada no rosto progressivamente dolorido desta actriz transbordante de talento, candidata a um dos Óscares mais merecidos dos últimos decénios. Pois folheio o Expresso - e o que leio? Um tal Francisco Ferreira, "crítico" de cinema, lá concede duas estrelas ao filme, que o terá feito bocejar, rematando assim a prosa com que nos brinda: "Não fossem os actores, 'Revolutionary Road' não seria muito mais do que um telefilme, competente e sem interesse."
Espantosa frase. Como se a qualidade dos actores fosse um pormenor de somenos. Como se assistir a um desempenho magnífico, como este de Kate Winslet, não fizesse toda a diferença. Como se a representação não fosse vital num filme - em qualquer filme.
Anda assim, envolta nesta confrangedora pobreza argumentativa e neste desamor pela Sétima Arte, a crítica de cinema em Portugal.