Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

O estacionamento

João Campos, 20.07.10

Ontem, quando saí do trabalho e me dirigia ao supermercado, vi acontecer à minha frente uma cena infelizmente muito comum: uma senhora estaciona o carro em cima do passeio, bloqueando completamente a passagem a qualquer pessoa, deixa os quatro piscas ligados, e vai calmamente fazer as suas compras. Quando me desviei para a estrada - que remédio -, pensei em lhe dizer qualquer coisa: estava indeciso entre o sarcasmo e o insulto. Acabei por não lhe dizer nada, e fui fazer as minhas compras sem pensar mais no assunto.


Quando saí do supermercado, dez minutos mais tarde, vejo dois funcionários da EMEL a bloquearem o carro da tal senhora. Não sei se foi o universo a acertar as suas contas ou se foi simplesmente um acaso os senhores de verde terem aparecido ali, naquele bocado caótico da Duque D'Ávila com a Defensores de Chaves (reportagem fotográfica um dia destes), para fazerem um bom trabalho - a verdade é que a senhora apareceu, reclamou, mas pagou 90 euros de multa. Acho que é pouco. Sei que Lisboa é uma cidade difícil no que ao estacionamento diz respeito, mas estacionar em cima dos passeios não significa apenas que um tipo como eu, relativamente saudável, tenha de sair do passeio e caminhar no asfalto, junto aos carros que passam; significa, sim, que uma pessoa com um carrinho de bebé (por exemplo), um cego, alguém com muletas ou de cadeira de rodas está metida num sarilho. Normalmente, eu consigo desviar-me sem problemas. Mas há muita gente que não consegue. Para essas pessoas, os passeios, ricamente decorados com postes, sinais de trânsito, caixas de electricidade, caixotes do lixo e detritos variados, já são uma verdadeira prova de obstáculos. Um carro lá enfiado, enquanto o condutor foi calmamente fazer as suas compras ou beber o seu café, é mesmo a última coisa de que precisam.

25 comentários

Comentar post