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Delito de Opinião

Violar e não violar

Pedro Correia, 19.07.10

Sofia Loureiro dos Santos (SLS) anda preocupada com a divulgação pública de e-mails privados, protestando contra a "falta de respeito pelas comunicações electrónicas". É curioso: não vi tanta preocupação nela quando um dos seus colegas no blogue Simplex, em Setembro do ano passado, reproduziu aquilo que é, aos olhos de toda a gente, um e-mail privado. Por mim, não tenho dúvidas: o DN cumpriu o seu dever jornalístico ao divulgá-lo anteriormente, assim como o Correio da Manhã procedeu de forma acertada, meses depois, ao transcrever e-mails privados noutra notícia de relevante interesse público. Fica mal é protestar quando isso perturba o Governo enquanto se tolera quando é o Presidente da República a ser afectado.

Desabafa agora SLS contra a "vergonhosa actuação" de um certo bloguista, omitindo que ainda há poucos meses ela própria acamaradava com a pessoa em causa no blogue que já mencionei e nunca deixou transparecer preocupação sobre as características da referida personagem, já então públicas e notórias. Estranho sinceramente esta duplicidade de critérios, até porque em nenhum outro lado como no referido blogue foi o referido autor de posts tão "acarinhado, protegido e usado" (palavras dela).

Por outro lado, SLS insurge-se contra o semanário Sol por não tornar públicas as gravações de uma conversa registada entre o editor do desporto do jornal e o seleccionador nacional de futebol, chamando-lhe por isso "supostas gravações". E vai mesmo - substituindo-se à ERC e aos tribunais - ao ponto de considerar isso um "atentado ao direito, à dignidade individual e à mais elementar ética jornalística". Um parágrafo antes de protestar contra violações do "mais elementar direito à privacidade".

Em que ficamos? Por mim, considero que seria um atentado ao direito à privacidade e à ética jornalística se um profissional da informação reproduzisse em linha a gravação de um diálogo mantido com a fonte. Lamento desiludi-la, já que me interpela directamente, mas essa é uma norma imperativa da deontologia jornalística. Mesmo quando a fonte opta por reagir com um inaceitável chorrilho de insultos à notícia produzida com base nessa conversa, como foi o caso. (A talhe de foice: a notícia que tanto a preocupa já foi, aliás como era de prever, confirmada pela direcção do jornal na edição de sexta-feira.) Caso diferente, naturalmente, é quando essas declarações resultam de uma entrevista formal e não da relação de confiança do jornalista com a sua fonte. Como sucedeu com a ministra do Trabalho, Helena André, que acaba de criar uma nova trapalhada no Governo ao procurar desmentir o que dissera categoricamente numa entrevista ao DN, invadindo uma área da competência exclusiva do ministro das Finanças.

As trapalhadas governativas continuam a deixar-me perplexo. E as indignações selectivas também.

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