«Em cima da mesa» do governo
Portugal tem mais de dois milhões de pobres, como se sabe. Sabe-se agora também que tem mais de três milhões de pessoas que vivem ligeiramente acima da pobreza formal — agregados familiares em que os adultos muitas vezes são licenciados, trabalham precariamente, são mal pagos — e com dificuldades sérias (impossibilidade até) para fazer face às despesas fixas.
Sobre este quadro desolador, a ministra do Trabalho apareceu a explicar dois pontos:
— que esta realidade é um problema a que o governo está atento (o que tanto pode ser estar à janela de olhos arregalados como outra coisa qualquer);
— que o governo tem o problema «em cima da mesa» (o que permite desconfiar de que já não deve sobrar muito espaço no tampo da imensa mesa em que o governo pousa tudo e mais alguma coisa).
Em suma: Portugal tem mais de cinco milhões de pobres declarados e pobres envergonhados, o que corresponde a mais de metade da escassa população. Ora, como o primeiro-ministro anda há cinco anos a afirmar a pés juntos que a pobreza está a diminuir, haja quem tenha paciência para o fazer ver que os portugueses viviam melhor há cinco anos.