A ver o Mundial (8)
Há jogos que prometem muito e oferecem pouco enquanto espectáculo. Foi o caso deste que hoje opôs, em Durban, as selecções de Portugal e do Brasil. A primeira parte foi entediante. O jogo melhorou em grande parte do segundo tempo, mas no final foram bem compreensíveis os assobios que vieram das bancadas: duas selecções tão cotadas como a brasileira e a portuguesa poderiam e deveriam ter proporcionado aos 62 mil espectadores que seguiram a partida no estádio - e aos milhões que a acompanharam pela televisão - um confronto mais empolgante.
Mas no futebol os resultados é que contam. E, da nossa perspectiva, o balanço é positivo: o empate a zero com o Brasil serve de passaporte aos portugueses para os oitavos-de-final. Disto não se podem gabar italianos e franceses (finalistas em 2006), que já disseram adeus ao Mundial da África do Sul, tal como a selecção anfitriã.
Portugal teve grande disciplina táctica, anulou com inteligência o jogo ofensivo dos brasileiros, funcionou como colectivo e teve frieza suficiente para não se deixar embriagar pela vitória esmagadora contra a Coreia do Norte. O jogo de hoje era incomparável com o anterior: havia que montar um dispositivo táctico diferente. E jogar de cabeça fria.
Assim foi. E ainda bem. Na terça-feira há mais.
Brasil, 0 - Portugal, 0
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Os jogadores portugueses, um a um:
Eduardo - Atento, seguro, confiante. Fez duas excelentes defesas, uma em cada parte do encontro.
Ricardo Costa - Terceira aposta de Carlos Queiroz para lateral direito em três jogos. Depois de Paulo Ferreira e Miguel. Aposta longe de ter sido ganha: este foi claramente o pior elemento da nossa linha defensiva, que jogou globamente bem. Muito nervoso no início, perdeu vários lances no confronto directo com Nilmar - um deles, aos 29', ia resultando em golo para o Brasil. A primeira vez que subiu no terreno foi aos 57', o que diz muito sobre a sua exibição.
Ricardo Carvalho - Uma vez mais, foi o patrão da defesa. Como era de esperar, ousou muito menos incursões ofensivas. Acorreu várias vezes, com eficácia, à dobra de Ricardo Costa.
Bruno Alves - Um elemento essencial da muralha defensiva portuguesa, mais notória na segunda parte.
Fábio Coentrão - Cabia-lhe o confronto mais difícil, com Maicon (e também com Daniel Alves). Levou quase sempre a melhor. Coube-lhe também o primeiro arranque ofensivo da nossa selecção, aos 14', seguido de outro três minutos depois.
Pepe - Regressou à equipa das quinas após longa ausência por lesão. Está ainda longe da melhor forma, o que o levou a perder várias bolas no meio-campo. Recebeu um cartão amarelo aos 39'. Substituído por Pedro Mendes aos 63'.
Tiago - Muitos pontos abaixo da sua exibição contra os norte-coreanos. Errou diversos passes. E recebeu um cartão amarelo aos 30' por simular um penálti. Melhorou na segunda parte, como a quase totalidade da equipa.
Raul Meireles - A táctica adoptada por Queiroz não foi a mais adequada às suas características de jogo, o que o levou a andar um pouco perdido no meio-campo. Mas aos 59' fez o remate mais perigoso à baliza brasileira, após excelente passe de Cristiano Ronaldo, salvo pelo guarda-redes Júlio César.
Cristiano Ronaldo - Na primeira parte, o seu esforço foi muito desperdiçado. Melhorou de rendimento no segundo tempo, causando alguns calafrios à defesa brasileira, que por vezes se viu forçada a travá-lo em falta. Grande passe para o remate de Raul Meireles aos 59'. Não anda com boa pontaria na marcação de livres.
Duda - Exibição apagada. Também errou muitos passes, tal como Pepe e Tiago. Recebeu um cartão amarelo perfeitamente evitável por ter protestado junto do árbitro. Foi bem substituído por Simão Sabrosa.
Danny - Queiroz voltou a apostar nele depois de tê-lo deixado no banco contra a Coreia do Norte. Mas ainda não foi desta que justificou um lugar como titular na selecção. O seu melhor lance ocorreu à beira do fim, quando poderia ter marcado.
Simão Sabrosa - A sua entrada, aos 53', deu ritmo e vivacidade à selecção. Está em excelente forma física, o que ficou bem evidente em campo. Falta-lhe afinar a pontaria nos lances de bola parada. Aos 76', fez um grande centro para o remate de Cristiano Ronaldo.
Pedro Mendes - Substituiu - com vantagem - Pepe aos 63'. Deu mais solidez ao nosso meio-campo, com a sua eficácia habitual.
Miguel Veloso - Substituiu Raul Meireles aos 83'. Ainda a tempo de fazer um magnífico passe longo para Cristiano Ronaldo que gerou um dos mais perigosos ataques portugueses quase no fim do encontro.