'Artitectura': os mal-amados (18)
Monumento Nazionale a Vittorio Emanuele II
(ou Altare della Patria, ou "Il Vittoriano"),
em Roma (Itália)
O Monumento Nazionale a Vittorio Emanuele II (ou Altare della Patria, ou "Il Vittoriano") foi erguido no centro de Roma, em memória de Vittorio Emanuele II (1820–1878), o primeiro rei da Itália unificada, que era rei da Sardenha e filho do rei Carlos Alberto (que abdicou do trono a favor do filho e decidiu viver no Porto, onde morreu). Foi projectado em 1885 pelo arquitecto italiano Guiseppe Sacconi e as diferentes esculturas são da autoria de vários artistas de toda a Itália.
Inaugurado em 1911, só foi concluído em 1935. Para os especialistas, trata-se de um conjunto intrincado no alto da configuração já de si complexa de uma colina e constitui «uma terrível brutalidade» arquitectónica. Simultaneamente pomposo e gigantesco, encima o Monte Capitólio, uma das sete colinas de Roma.
Construído em mármore branco, com escadarias majestosas e colunas coríntias altíssimas, integra fontes, uma enorme escultura equestre de Vittorio Emanuele II e duas estátuas da deusa Vitória a conduzir quadrigas. A estrutura tem 135 metros de largura e 70 metros de altura; incluídas as quadrigas com as alegorias aladas, a altura total é de 81 metros.
O monumento abriga o Túmulo do Soldado Desconhecido (onde arde uma "chama eterna"), por baixo de uma estátua alusiva à Itália pós-Grande Guerra (ideia do general Giulio Douhet, estratega e visionário do combate aéreo), e o seu piso térreo é ocupado pelo Museu da Reunificação Italiana.
Nos anos 90, Carlo Azeglio Ciampi, 10.º presidente da Itália, abriu o Monumento Nazionale a Vittorio Emanuele II como um fórum público e miradouro privilegiado de Roma, para torná-lo mais popular entre os romanos e atrair mais visitantes. Com novos acessos e jardim, as obras de renovação acrescentaram-lhe em 2007 um elevador panorâmico que leva o público ao topo, de onde se colhe uma estupenda vista de 360 graus de boa parte da cidade.
No entanto, se a iniciativa presidencial de Carlo Ciampi atenuou alguns sentimentos pouco favoráveis, a reputação do Altare della Patria não subiu muito, pois a forte controvérsia que ele suscita já vem do início. Por bons motivos, diga-se: além de desmesurado e ostensivo (pode ser avistado de quase toda a cidade), a sua construção obrigou a destruir uma ampla área da simbólica colina do Capitólio com vastos vestígios medievais na vizinhança e constrasta violentamente com a traça e as cores sóbrias que caracterizam a antiga Roma envolvente.
Não admira, portanto, que os romanos nunca tenham acolhido pacificamente a grandiosidade excessiva do monumento e se refiram a ele como "a zuppa inglese" (v. foto à esquerda — um doce italiano de aspecto invulgar e origem incerta que a lenda aponta para a Corte inglesa de outrora), "o bolo de noiva", "a dentadura postiça" e outros nomes pouco abonatórios. O nome que mais pegou vem da II Guerra Mundial e foi dado pelas tropas norte-americanas em 1944, na invasão de Roma: "the typewriter" — "a máquina de escrever".
Não foi por acaso, certamente, que o filme The Core (Detonação), de 2003 (v. foto à direita — história de ficção em que o movimento de rotação da Terra cessa e se torna urgente encontrar um modo de reactivá-lo), escolheu "Il Vittoriano" para protagonizar uma das mais dramáticas destruições contempladas no guião. Só que o colapso não passou de um espectacular efeito visual...