De tentação em tentação
Aparentemente, o Estado português acha que conhece melhor as crianças portuguesas do que os seus próprios pais. Arroga-se a responsabilidade de lhes "ensinar" educação sexual, segunda a visão monopolista da Associação para o Planeamento da Família (aos olhos do ministério da Educação, a APF oferece uma visão "neutra"). São os materiais desta que vingam, e são as suas acções de formação que educam os professores, que depois instruem as crianças. Ou seja, o Estado impõe-se à visão das famílias, às escolhas que os pais fazem para as suas próprias crianças. De uma maneira absolutista, define que todas as crianças, dos 6 aos 16, devem ter educação sexual, disciplina obrigatória, com os conteúdos que a referida associação acha por bem veicular. Para nada interessam os ritmos naturais de crescimento, as perguntas que as crianças fazem em alturas diferentes, conforme o seu próprio crescimento. Para nada interessa que a neutralidade objectiva seja de facto um disparate, porque a educação pouco tem de objectivo, particularmente neste género de matérias. Não falamos só de biologia: falamos da proposta de juízos morais e visões sobre costumes a crianças que respeitam o professor de matemática, português, etc., e que pouca capacidade tem para destrinçar o objectivo do subjectivo. É normal que os pais passem aos filhos os seus valores, os seus juízos morais; mais tarde, desenvolvidas as capacidades críticas, os adolescentes são livres de os questionar, aceitando ou rejeitando o que lhes foi proposto em casa. Mas o Estado não deve ter nada a ver com esse processo. Quando um Estado se imiscui na decisão da moralidade privada, começa o totalitarismo. Quando um Estado tenta formatar as respostas de bom/mau, há qualquer coisa de muito errado com a sociedade: "A minha vulva/o meu pénis está bem quentinha/o no centro do meu corpo, muito perto da barriga."