Panteras ao ataque
«Neste momento, a lei da adopção é uma questão fundamental. É incrível como a nível familiar não são reconhecidas as duas mães a uma criança» – diz Sérgio Vitorino, das "Panteras Rosa", e transcreve aqui o Sérgio de Almeida Correia. Não sei quem são as "Panteras Rosa" e o Sérgio Vitorino, mas posso imaginar. E vou fazer uma coisa que não é muito meu hábito, que é ajudar o Pantera Rosa a guardar os disparates na sua privacidade.
A nível familiar – para usar as palavras do Pantera – não são reconhecidas as duas mães porque ninguém tem duas mães. Tal como foi reconhecido o casamento homossexual, até pode ser que venha a ser consagrada institucionalmente a adopção de crianças por casais do mesmo sexo. Pode ser. Mas é institucionalmente, legalmente; não é «a nível familiar», como o Rosa quer. A nível familiar, uma criança tem sempre um pai e uma mãe, perto ou longe, vivos ou mortos. E tem o supremo direito de saber quem são.
Portanto, se é duvidoso chamar "casamento" à união de duas pessoas do mesmo sexo, é muito mais melindroso educar uma criança, cujos direitos devem merecer protecção especial, no erro impossível de que tem duas mães ou dois pais, deixando-a descobrir mais tarde que andou a ser enganada «a nível familiar».
É imperdoável centrar o assunto deste modo, é inacreditável vir à praça pública declará-lo e é inaceitável manifestar tanto egoísmo, quando o foco de todas as atenções tem de continuar a estar nas crianças. Felizmente, com abordagens como a do Rosa, o debate destas coisas mantém-se longe do fim. Por isso é que eu digo ao Sérgio Vitorino, seja ele quem for:
— Ó Pantera, um passo de cada vez, sim? Até porque pode ser conveniente dar um passo atrás, de vez em quando.