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Delito de Opinião

Planeamento

Ana Margarida Craveiro, 01.06.10

 

Confesso que me sobe o sangue a cabeça quando oiço falar em fechos de cuidados médicos e de escolas no interior. Percebo inteiramente os argumentos económicos, de racionalização de recursos num tempo em que estes estão particularmente escassos, mas discordo da maioria das medidas. Há pouco, a SIC noticiava que agora serão as escolas com menos de 20 alunos a fechar. Na complicada linguagem do Ministério da Educação, trata-se de mais um passo para a requalificação, modernização e reorganização (tenho a certeza de que ainda arranjavam mais um re-quaisquer).

Do ponto de vista pedagógico, é evidente que a diversidade e pluralidade são factores a valorizar. Do ponto de vista económico, ter menos escolas a funcionar, mas mais eficientes (menos funcionários/professores por aluno), também parece desejável. Falta, no entanto, um ponto de vista fundamental: o do país que queremos ter. E este, ao contrário do que nos querem impingir, é uma escolha. Assim, nós podemos escolher fechar todas essas escolas, a bem de um ensino mais barato. No entanto, temos de assumir as consequências dessa escolha: o êxodo rural passa a ser inevitável, para grande parte do interior, e a taxa de fertilidade pura e simplesmente desaparece em algumas zonas. Porquê? Simples: por que raio haveria um pai ou mãe de querer ter filhos num sítio onde a escola mais próxima fica a hora e meia de transportes públicos, por estradas velhas e com gelo? É que estamos a falar de fechar escolas em zonas onde as moderníssimas auto-estradas não chegam, nem sequer aparece o alcatrão necessário para remendar estradas com mais de 60 anos, zonas onde o progressista TGV e o novo aeroporto não entram nas conversas. Esse país, esse Portugal ainda tão parecido com 1950, ainda existe. E o governo - qualquer governo - tem a obrigação de governar também para esses portugueses. Fechar-lhes as poucas manifestações de administração central que têm não é a melhor maneira de manter o país habitado - agora já tão escassamente. Empurrar ainda mais esta gente para os subúrbios de Lisboa é a nossa escolha? Então que seja admitida; como já escrevi uma vez, construímos uma cerca à volta do interior e das zonas rurais e preocupamo-nos só com as Belavistas. É uma escolha.

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