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Delito de Opinião

Mugabe: o lixo do luxo

Pedro Correia, 18.02.09

Indiferente à chocante miséria que hoje grassa no seu país, que já foi o celeiro da África Austral, Robert Mugabe prepara uma festa de arromba no Zimbábue para festejar o seu aniversário. No dia 21 apagará 85 velas e ouvirá os "Parabéns a você" no meio da maior opulência: revela o Times de Londres que o repasto incluirá tudo do bom e do melhor. Nada menos de duas mil garrafas de champanhe (Möet & Chandon e Bollinger de 1961 no topo das preferências), oito mil lagostas, cem quilos de camarão, quatro mil doses de caviar, 16 mil ovos, 500 quilos de queijo e oito mil caixas de bombons Ferrero Rocher, entre outros acepipes. Isto num país onde as pessoas arrancam ervas daninhas do mato para matar a fome. Um país que bateu no fundo: 94 por cento de desempregados, sete milhões de habitantes dependentes da caridade internacional, mais de 70 mil casos de cólera já confirmados pela Organização Mundial de Saúde devido à falta de elementares condições de higiene, a maior inflação do planeta, o colapso generalizado da sociedade civil.

A festa do dia 21, luxo entre o lixo, será um dos actos mais obscenos num país que tem sido percorrido por todo o género de indignidades. Perante o silêncio conivente de muitos, em África e na Europa, que ainda aludem a Mugabe como um "combatente da liberdade" sem corarem de vergonha por abastardarem uma das mais nobres palavras associadas à espécie humana.

Felizmente nem todos se calam. "Um Governo que assalta o seu próprio povo perde toda a legitimidade", como sublinha Graça Machel, mulher de Nelson Mandela, referindo-se ao ditador do Zimbábue. Pois é mesmo de um assalto que se trata nesta celebração orgíaca do aniversário de Mugabe. Nada diferente do que fizeram um Bokassa, um Mobutu ou um Idi Amin num continente onde toda a esperança de progresso parece uma miragem cada vez mais longínqua.

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