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Delito de Opinião

Deep shit - 5

Teresa Ribeiro, 23.05.10

Em Junho de 2005, o extinto jornal A Capital publicava em manchete: Portugueses pagam três vezes mais impostos do que há 30 anos. A notícia baseava-se num estudo encomendado pela Assembleia da República ao Gabinete de História Económica e Social do ISEG.

O documento, intitulado Os Impostos no Parlamento Português – Sistemas e Doutrinas Fiscais nos séculos XIX e XX, referia que nos últimos 150 anos a tributação nunca tinha parado de subir, mas que nas últimas três décadas o seu aumento tinha sido exponencial. Segundo o coordenador do estudo, o professor catedrático do ISEG Nuno Valério, em 1974 o Estado central absorvia 10% da riqueza nacional. Em 2005 esse valor ascendia aos 25% e correspondia a um terço do PIB, caso estas contas se estendessem a todo o sector público.

Num país onde se encontrava quase tudo por fazer, este agravamento da despesa nas três décadas subsequentes ao 25 de Abril não seria motivo de manchete, a menos que houvesse motivos de descontentamento por parte dos contribuintes. A questão é que havia.

Numa crónica intitulada O Ser Português, já em 2003 Clara Ferreira Alves lamentava no Expresso: Portugal é um país de longas listas de espera para os carros de luxo, longas listas de espera para as operações no hospital. É um país de condomínios privados e de bairros de lata. Como o país não funciona e o Estado não é pessoa de bem, as pessoas correm para os telejornais a protestar, a gritar, a pedir ajuda.

Em Agosto de 2004, José Carlos de Vasconcelos comentava, na Visão, as estatísticas que, chegando regularmente de Bruxelas, desvendavam um Portugal que não correspondia ao do discurso político interno: Há números que valem mais do que quaisquer discursos e mostram uma triste realidade. No caso, do nosso país. Refiro-me aos da Comissão Europeia, agora revelados, sobre a evolução do poder de compra, e por isso do nível de vida nos 15 países da União, entre 1995 e 2003. O estudo da CE já então referia que Portugal era o país da UE com menos poder de compra e mais desigualdade social.

A manchete de A Capital, publicada em 2005, limitou-se a funcionar como caixa de ressonância de um sentimento generalizado entre os portugueses: o de que o dinheiro que o Estado lhes foi tirando progressivamente do bolso nunca tinha um justo retorno.

 

Na lógica do que tenho procurado demonstrar ao longo desta série insere-se este texto que saiu hoje no Público e cuja leitura recomendo.

2 comentários

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    Teresa Ribeiro 24.05.2010

    Obrigada, João. Como sempre chego atrasada às caixas de comentários e estás a ser tão querido!
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