Venezuela: vitória amarga
A vitória de Hugo Chávez no referendo de ontem na Venezuela não surpreende pelo 'Sim' dado ao Presidente que procura perpetuar-se no poder: surpreende por ter havido 45% de eleitores a votar 'Não'. Esta campanha, que decorreu com o Parlamento fechado durante um mês, foi tudo menos democrática. Como sublinhou o Tomás Vasques, os eleitores venezuelanos receberam diariamente nos telemóveis mensagens de voz gravadas com Chávez incentivando ao voto 'Sim'. Um brinde da operadora telefónica Movilnet - empresa nacionalizada em 2007, ao serviço do Duce venezuelano em vez de servir o povo. Ontem à noite, segundo noticia o El País, enquanto Chávez não terminou o seu discurso de vitória, que durou quase duas horas, os representantes da oposição não puderam prestar declarações aos jornalistas, pois o Presidente "ordenou que a sua festa fosse transmitida em cadeia nacional por todas as emissoras de televisão". Não admira: um estudo conjunto da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e da Universidade Católica Andrés Bello, de Caracas, revela que durante a campanha a televisão oficial da Venezuela dedicou 93% do espaço informativo ao 'Sim', sem um minuto sequer reservado ao 'Não'.
Algo só imaginável numa ditadura.
Por tudo isto, faço minhas as palavras da Joana Lopes: "Não foi a primeira vez, nem terá sido infelizmente a última, que uma tirania foi democraticamente ratificada - um preço a pagar, mas com sabor amargo, muito amargo."