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Delito de Opinião

Inês posta em desassossego

Pedro Correia, 04.05.10

 

Inês de Medeiros tomou uma atitude que merece aplauso: prescinde do pagamento das viagens semanais Lisboa-Paris-Lisboa que o Parlamento, por despacho de Jaime Gama, lhe havia autorizado em termos muito controversos, como aqui critiquei na altura. O despacho foi redigido à contre-coeur pelo presidente da Assembleia da República - a tal ponto que Gama chegou a especificar, no seu próprio articulado, que não constituiria jurisprudência destinada a balizar casos futuros. A deputada independente eleita na lista do PS por Lisboa percebeu bem as entrelinhas deste despacho, que devolve agora ao remetente esclarecendo que pretendeu ver esclarecida a situação mas não necessita de favores. Foi pena que o Parlamento tenha perdido seis meses neste folhetim que desgastou inutilmente Inês de Medeiros e voltou a dar uma péssima imagem dos nossos deputados, incapazes de tomar decisões em tempo útil sobre questões do seu foro exclusivo.

E afinal até já havia doutrina estabelecida sobre o assunto, como José Medeiros Ferreira recorda no seu blogue, Córtex Frontal: "Fui deputado [do PS] pelos Açores durante cerca de dez anos. Como resido em Lisboa, e assim o declarei aos serviços da Assembleia da República, só tinha direito a duas viagens por mês ao meu círculo eleitoral."
Conclui Medeiros Ferreira: "Há muitas maneiras de fazer contas e de tratar de assuntos delicados." Pois há, como os dois casos comprovam. Dentro da própria bancada socialista. Bastaria um pouco mais de memória parlamentar para o mais recente nunca ter chegado a assumir as proporções que assumiu, pondo Inês em tão grande desassossego. Já ensinava Camões, n' Os Lusíadas: " (...) essas honras vãs, esse ouro puro / Verdadeiro valor não dão à gente; / Melhor é merecê-los sem os ter, / Que possuí-los sem os merecer."

Nada mais certo.

 

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