Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Brincar aos comboios

João Campos, 02.05.10

Alguns dos mais ilustres "representantes da nação" marcaram presença (expressão horrível; ao cuidado do Pedro Correia) na Ovibeja. Estive por lá, mas não me cruzei com nenhum deles. Como é evidente, também não os encontrei na viagem de ida ou de regresso, porque tais figuras - como o nosso primeiro-ministro, que não me merece a maiúscula, e que vive tão obcecado com comboios de alta velocidade - nunca tornaram a entrar numa estação de comboios depois do cortar de fita da inauguração, e nunca viajaram num "Intercidades" ou num "Regional". Eu faço-o regularmente, e normalmente com gosto, mas é um gosto cada vez mais amargo: o serviço da CP - empresa pública? - piora viagem após viagem. No país que quer tornar Lisboa na "praia de Madrid" por virtude de um TGV que não pode pagar, existem apenas dois comboios "Intercidades" diários entre Lisboa e Beja: um de manhã bem cedo, outro ao final do dia. Nesses comboios, e ao contrário do que acontece nas ligações "Intercidades" entre Lisboa e Faro, e Lisboa e Porto, o bar encontra-se fechado, pelo que um passageiro (ou "utente", como eles agora gostam de dizer) não pode sequer comprar uma garrafa de água. Os alentejanos, como se sabe, são menos que os algarvios ou as pessoas do norte do país, e não merecem bar. O percurso demora duas horas e dez minutos, em linha não electrificada a partir do Pinhal Novo. Como tem sido hábito, as estações de comboio de zonas "do interior" estão fechadas. Ou seja, as antigas estações de comboios de Vendas Novas, Casa Branca, Vila Nova de Baronia e Cuba estão ao abandono (como acontece com as outras estações de comboios alentejanas: Grândola, Alcácer do Sal, Funcheira, para mencionar apenas as maiores). Também a de Beja está, apesar de nela ainda se venderem bilhetes; e os belíssimos azulejos da estação da capital alentejana estão estilhaçados, sem brilho, esquecidos. Digo que a estação de Beja ainda funciona, no sentido de que ainda lá se vendem bilhetes, mas num horário muito peculiar: a bilheteira encerra às seis da tarde, quando o último comboio parte daquela estação... às sete e um quarto, o que faz todo o sentido. A solução que resta aos passageiros neste  é comprar o bilhete no comboio, quando o revisor passar. Mas bem podem esquecer o pagamento com Multibanco, até porque nem na estação, nem nas imediações da estação, existe uma máquina ATM ao serviço dos passageiros.

 

É assim que está a ferrovia no Alentejo, que (ainda) é território de um país que quer ter alta velocidade. Faz sentido, não faz?

 

(A ligação ferroviária entre Lisboa e Beja irá ser interrompida devido a obras, e a empresa irá assegurar o transporte de passageiros por autocarro, durante a interrupção. Não consigo deixar de pensar que isto pode ser uma das "manobras" da CP para acabar com os comboios para Beja sem haver muito barulho. Espero que este meu receio seja injustificado.)

1 comentário

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.