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Delito de Opinião

Da vulgaridade das sequelas

Ana Margarida Craveiro, 15.02.09

 

Muito raramente, há filmes que excedem o romance que lhes deu origem. De uma história banal ou pouco trabalhada, resulta um clássico esmagador. E tudo o vento levou é o exemplo máximo. O romance de Margaret Mitchell é bom, mas não mais do que isso. A Scarlett O'Hara é a Vivien Leigh, não uma personagem mais plana, mais resignada. Melanie Wilkes é o rosto gasto e terno de Olivia de Havilland, e enche cada cena.

Voltando aos livros. Em tempos, li um livro chamado Scarlett. Quando ainda tinha tempo, costumava ter o mau hábito de não ser muito exigente com o que lia. O livro tinha uma capa escarlate com letras douradas, uma coisa muito pindérica. A gritar logo no seu mau gosto o conteúdo semi-pornográfico, de alcova de ar pesado. Nele, Scarlett era levada até às escarpas da Irlanda, onde se rebolava com rudes irlandeses, de mãos calosas a subir pelas suas brancas coxas. Era este o nível da coisa: a Scarlett de Tara, da terra e dos rábanos crus, vulgarizada, tornada presa da carne da maneira mais vulgar possível. Lembrei-me disto ao rever o filme, ontem à noite. A Scarlett escarlate é uma mulher, não uma camponesa rústica.

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