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Delito de Opinião

Portugal dos pequeninos

Pedro Correia, 28.04.10

 

José Sócrates, que lidera um governo minoritário, tinha toda a conveniência em chamar a São Bento os líderes dos partidos da oposição, procurando sensibilizá-los para a necessidade de haver respostas conjuntas à grave crise económica e financeira em que o País mergulhou. Seria até uma excelente ocasião para o efeito, neste dia em que a Assembleia da República suspendeu a agenda de trabalhos devido a uma inédita greve dos funcionários parlamentares. No entanto, deixou o líder do principal partido da oposição tomar a iniciativa. O encontro de hoje na residência oficial do primeiro-ministro ocorreu na sequência de um telefonema de Pedro Passos Coelho a Sócrates. Como se Passos já fosse o primeiro-ministro e o líder socialista tivesse sido remetido a uma cura de oposição.

Enquanto o PSD de Passos Coelho trava um ameno diálogo com Sócrates, dispondo-se a encontrar soluções de convergência com o Governo para reduzir o gigantesco défice português, o PSD de Manuela Ferreira Leite continua a conduzir um inquérito parlamentar destinado a demonstrar que o chefe do Governo é um indivíduo que mente, não tem carácter nem merece confiança. Uma situação de pura esquizofrenia política, bem reveladora das duas faces que os sociais-democratas persistem em exibir aos portugueses.

Mas a esquizofrenia não se reduz ao PSD. O PCP, partido leninista, deixou José Pedro Aguiar-Branco roubar-lhe a bandeira do leninismo na sessão solene comemorativa do 25 de Abril. Os comunistas já não são o que eram: há quanto tempo não ouvimos Jerónimo de Sousa citar Lenine?

Na mesma sessão, o Presidente da República optou por tecer longas considerações sobre o mar, apontando-o como "novo desígnio", como se o País não estivesse em risco de naufragar e vivêssemos todos bem aconchegados num doce Portugal dos pequeninos. Crise? Qual crise? Porreiro, pá.

2 comentários

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    Pedro Correia 28.04.2010

    Curiosa análise a sua, que mistura política com gastronomia. A propósito: inclui o Presidente da República no seu conceito de "bloco central"?
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