Quadratura do círculo
Num interessantíssimo texto publicado n' O Cachimbo de Magritte, Pedro Picoito anuncia uma original condição de militante: desde a eleição de Pedro Passos Coelho, passou a uma espécie de exílio interior, remetendo-se à clandestinidade dentro do partido a que teima em pertencer. Continuará a pagar as quotas do PSD, ao que se presume, mas suspende o voto. Invocando, entre outros motivos relevantes, o facto de Passos Coelho usar gravatas muito parecidas com as do actual primeiro-ministro.
Ignorante que sou nestas andanças partidárias, presumia eu que o primeiro dever estatutário de um militante é votar no partido de que faz parte. Pedro Picoito esclarece-me que não: afinal é possível permanecer simultaneamente dentro, pagando quotas, e também fora, não votando no partido em que se milita. Atitude diferente, portanto, da que assumiu o Duarte Calvão, que devolveu à procedência o cartão laranja mal Passos foi eleito com uns expressivos 61% dos votos.
Entendo a decisão do Duarte. Mas, pela mesma lógica, tenho alguma dificuldade em entender a atitude de Pedro Picoito, que equivale à quadratura do círculo: como militar num partido cujo líder se detesta ao ponto de merecer o epíteto de relógio parado? Por mim, se fosse pessoa para aconselhar alguém, recomendar-lhe-ia uma solução marxista, tendência Groucho: nunca pertencer a um clube que o aceitasse como sócio. Como os proletários do século XIX, nada teria a perder senão as grilhetas.