Mantenham a calma...
O rating de Portugal no exterior desce de A+ para A-. Como tantos avisam há muito, a situação económico-financeira continua a deteriorar-se e o país vai perdendo crédito sucessivamente.
Tomo conhecimento da reacção de Teixeira dos Santos. O ministro das Finanças responde aos factos com frases feitas, lugares-comuns e ideias redondas, do tipo «há que executar as medidas necessárias», «o dia de amanhã vai ser a continuação do dia de hoje», «agora há que agir, há que actuar, há que tomar medidas». Ainda por cima, a resposta é em forma de comunicado escrito e, no entanto, parece-me coisa atabalhoada feita em cima do joelho. Por exemplo: «Os mercados têm revelado uma turbulência muito significativa no que se refere à dívida portuguesa e, pelo contrário, acho que uma notícia destas não vai serenar os mercados, que vão continuar a manifestar essa turbulência e esse nervosismo».
Não preciso de ser especialista para parar, reflectir e tentar ordenar alguns dados. Só corro o risco de pecar por omissão. Vejamos.
♦ Pior do que não haver contenção na despesa pública e começar a cortar nela, é saber que, enquanto a inflacção se tem mantido praticamente inalterável, a despesa pública até aumentou quatro por cento.
♦ Estamos a entrar no quinto mês do ano e o Orçamento do Estado (OE), apresentado e aprovado tarde e a más horas, ainda não está a ser executado.
♦ O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), segundo os mais variados entendidos que ouço, é tímido e insuficiente na estabilidade e é nada de nada no crescimento. Além disso, o PEC também não está a ser executado.
♦ É hoje um dado adquirido que a Saúde pública, um monstro que suga o OE até ao tutano, tem 25 a 30 por cento de desperdício nos seus gastos monumentais. Só que ninguém impede que as horas extraordinárias no sector subam todos os meses, nem põe cobro à gestão desastrosa que as contas comprovam.
♦ Do trabalho do actual Executivo, que herdou do anterior uma espécie de legado atribuído a si próprio, tenho dificuldade em lembrar-me de muito mais do que da urgentíssima promoção legislativa de casamentos gay e da reabertura de um diálogo com os professores que já está inquinado. Seis meses depois de tomar posse, deve ter feito mais do que isto e estou seguramente a ser injusto, mas tenho a certeza de que nada fez do que todos queríamos: ninguém está melhor, a pobreza não está a diminuir, o país não recupera uma migalha do que anda a perder há anos.
Apesar de considerar este ponto da situação muito incompleto e imperfeito, creio que é possível tirar algumas conclusões sérias e concretas, nenhuma delas relaxante — excepto para o governo, pelos vistos.
A situação é favorável? Não é. É razoável e está controlada? Também não. É má? É. Estamos perigosamente parecidos com a Grécia? Não sei. Acho que estamos parecidos com o barco que se afunda e em que o comandante tranquiliza os passageiros:
— Atenção! A situação não é grave, mas é dramática. Atenção! Mantenham a calma e salve-se quem puder.