Sci-Fi: os meus filmes (14)
2. Blade Runner (Ridley Scott, 1982)
Quando estreou, em 1982, Blade Runner causou perplexidade no público, com o seu visual arrojado e a sua banda sonora misteriosa (da autoria de Vangelis), e gerou críticas particularmente ácidas. Se há filmes que estão destinados a estarem à frente do seu tempo, Blade Runner é um deles: de filme falhado a filme de culto, inaugurou o sub-género ciberpunk no cinema, e foi (é, ainda) uma autêntica lição de adaptação de livro para filme - no caso, o livro que lhe serviu de base foi Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick (leitura que aproveito para recomendar). Scott baseou-se na obra de Dick, sim, mas retirou-lhe os elementos de natureza religiosa e filosófica (os "mood organs", o Mercerism, a obsessão com animais vivos numa Terra devastada) e favoreceu a história "crua": um grupo de Replicants (andróides) evadiu-se na Terra e Rick Deckard (Harrison Ford em grande forma), um blade runner (caçador de andróides), assume a missão de os "retirar", eufemismo para "destruí-los". Mas quando o seu teste de reconhecimento de Replicants falha ao analisar Rachael, uma andróide praticamente perfeita desenvolvida pela Tyrell Corporation, Deckard começa a questionar a sua missão; e os andróides evadidos procuram por todos os meios sobreviver...
Hoje, é impossível falar de ficção científica no cinema sem mencionar Blade Runner, que brilha por si só e pela influência que teve em vários filmes subsequentes (dos quais Ghost in the Shell e Matrix serão bons exemplos, e porventura os mais óbvios - o primeiro, aliás, "transpira" Blade Runner), tanto em temática como em estética. Tal como acontece com Alien, vê-se hoje o filme e percebe-se que, quase trinta anos passados, não ganhou uma única ruga. Num período de quatro anos, Ridley Scott criou duas obras essenciais, não só da ficção científica, mas do cinema em geral. Não é para todos.
Enfim, falta o meu primeiro classificado. Escrever esta série tem sido bem mais gratificante do que imaginei quando lhe dei início, graças à participação de alguns leitores (a quem agradeço desde já). Como é bom de ver, pois falta apenas um filme, muitos daqueles que os leitores foram mencionando ao longo da série não vão aparecer na lista (a maioria, arrisco, porque nunca os vi; caso contrário, certamente o top15 seria um top30). O exercício é sempre subjectivo. Mas todas as sugestões foram cuidadosamente anotadas e - resolução tardia de 2010 - até ao final do ano vê-los-ei a todos.