A política não é um chá em Seteais
Como muitos portugueses, fiquei estupefacto com a incrível grosseria de que o Presidente checo Václav Klaus deu mostras, em duas ocasiões, durante a recente visita do homólogo português a Praga. Mas fiquei ainda mais estupefacto com a passividade demonstrada por Cavaco Silva, que escutou impávido a arenga do seu colega checo sem lhe responder com a firmeza e a dignidade que a situação impunha. Se, como já aqui afirmou a Ana Margarida, é uma impensável descortesia desconsiderarmos alguém que convidamos para nossa casa, mais grave ainda é quando esse gesto ocorre no plano das relações entre dois Estados, ainda por cima parceiros na União Europeia.
Se as palavras de Klaus foram ofensivas, o silêncio de Cavaco só contribuiu para as ampliar. O institucionalismo que noutras circunstâncias o Presidente Cavaco Silva tem evidenciado exigiria neste caso uma réplica pronta e sem qualquer ambiguidade em defesa da imagem externa do Estado português, que o checo pretendeu manchar.
Bastar-lhe-ia ter lembrado que Portugal é membro de pleno direito da Comunidade Económica Europeia - actual União Europeia - desde 1986 e foi também graças ao esforço solidário dos contribuintes portugueses que a República Checa beneficiou dos fundos estruturais que lhe têm permitido prosperar desde que ingressou no clube comunitário, em 2004.
Questiono-me como teria reagido Manuel Alegre em semelhantes circunstâncias. Ou até Fernando Nobre. E não tenho dúvida que qualquer deles se comportaria à altura da situação, deixando uma palavra de desagrado perante o destempero de Klaus.
A política não é um chá às seis da tarde em Seteais. Na hora de fazerem um balanço do mandato de Cavaco, os eleitores terão de o avaliar também por isto.