Cartas do Japão - 11
Enquanto espero pelo transfer reparo no arranjo que decora uma das mesas do lobby do hotel. É feito com pequenos seixos e apenas duas flores. Está lindo. O sentido estético deles é desconcertante. Conseguem o melhor e o pior. Gosto da cerâmica local, por exemplo, mas detesto o merchandising que têm para consumo de turistas. Algumas montras de loja são de um kitsch inenarrável. Os táxis são indescritivelmente pirosos, com estofos forrrados a renda branca e corações luminosos no tejadilho. Jamais esquecerei o autocarro de turistas que vi com lustres no tecto e estofos em veludo de fantasia.
São 8.30h, hora de ponta. Do autocarro vejo pela última vez os homens-robot de fato e pasta, todos iguais e as miúdas com a farda do colégio. À medida que nos aproximamos do aeroporto a paisagem perde a graça, mas mesmo no meio do casario mais desinteressante sebes de azáleas dão um toque de beleza às ruas por onde passamos. Um sinal na estrada indica acesso à ponte Arco-Íris. Alguma vez nos lembraríamos no ocidente de baptizar uma ponte com este nome?
O autocarro recolhe turistas em vários hotéis. Sempre que se põe em marcha há pessoal que fica na rua a saudar-nos com uma vénia. Nunca se curvaram tantos à minha passagem. Em Lisboa vou sentir falta disto.
Espera-me um dia anormalmente longo. Já no avião consulto o menu dos filmes e fico feliz. Selecção de luxo: Good Night and Good Luck, O Fiel Jardineiro e Férias em Roma. Adivinhem por qual vou começar?