Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Fala-se hoje muito na necessidade de experiência, ao nível do Governo, para um político assumir funções de liderança num determinado partido. À luz deste critério, nem pensar em ascender à chefia do Executivo se esse político não tiver um longo tirocínio governativo – ouço dizer cada vez com mais insistência.
Às pessoas que produzem semelhantes análises gostaria de recordar os percursos de três chefes de governo portugueses sob a vigência do actual quadro constitucional: Mário Soares, Francisco Sá Carneiro e Aníbal Cavaco Silva.
Soares, enquanto secretário-geral do Partido Socialista, ascendeu ao posto máximo do Executivo a 23 de Julho de 1976, liderando o I Governo Constitucional. Tinha então 51 anos. E qual fora a sua experiência anterior em matéria governativa? Quinze meses incompletos como ministro dos Negócios Estrangeiros dos primeiros quartos governos provisórios – entre 15 de Maio de 1974 e 8 de Agosto de 1975.
Francisco Sá Carneiro, enquanto presidente do PPD/PSD, iniciou funções como primeiro-ministro a 3 de Janeiro de 1980, aos 45 anos. A sua experiência governativa era ainda mais escassa do que a de Mário Soares: apenas 63 dias, entre 15 de Maio e 17 de Julho de 1974, como ministro sem pasta do primeiro-ministro Adelino da Palma Carlos, o primeiro chefe do Executivo após o 25 de Abril. Nada mais que isso.
Cavaco Silva tomou posse como primeiro-ministro aos 46 anos, a 6 de Novembro de 1985, na sequência da sua eleição como presidente do PSD. Experiência governativa anterior: 373 dias como ministro das Finanças, entre 3 de Janeiro de 1980 e 9 de Janeiro de 1981. Experiência curta, sem dúvida. Mas foi quanto lhe bastou para formar um Executivo ainda hoje lembrado como um dos melhores que Portugal já teve.
O que leva a concluir o seguinte: ter um longo currículo como ministro ou secretário de Estado não é garantia antecipada de que se possa transitar com mais facilidade para o posto máximo no Governo. Se o critério decisivo fosse esse, Soares, Cavaco e Sá Carneiro nunca teriam sido primeiros-ministros.
Também publicado aqui.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.