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Delito de Opinião

Cartas do Japão - 5

Teresa Ribeiro, 05.04.10

5º dia - Ontem passei a noite em Ginza (a zona comercial mais in de Tóquio) e Shinguzu (zona de diversão nocturna). Adorei. Um festival de neons como nunca vi. Comparada com isto a Times Square parece a baixa da banheira by night.

Hoje vamos ver o Monte Fuji, o céu está azul e a guia que nos acompanha tem bom inglês. Aleluia! Chama-se Osaki esta charmosa cinquentona. Sabe passar-nos a informação que realmente nos interessa, no tom adequado, muitas vezes cheio de sentido de humor. É um prazer ouvi-la. A esta no fim sou mesmo capaz de dar um beijo onde ela quiser quando chegar o momento dos aplausos que, já percebi, é um costume que está enraizado nos excursionistas profissionais. No Monte Fuji deram-nos um guizo da boa sorte. A partir de agora passamos a ser, oficialmente, um bando de carneiros, com badalo e tudo.

Uma das coisas que me diverte em viagem é observar a inconcebível falta de imaginação que as pessoas têm para tirar fotos. Invariavelmente lá se põem à frente do monumento ou do fatídico canteiro de flores, em pose, de sorriso forçado e de preferência paradas bem a meio do enquadramento, que é para mal se ver o ponto turístico que pretendem fotografar. Observo-as e tento imaginar o resultado: esta vai ficar péssima, esta ainda pior... fazem todos os mesmos erros: chinocas, bifes, gringos, parece que andou tudo na mesma escola. Pergunto-me se no fim, quando mostram as fotos à família, ficam satisfeitos com o resultado. Se calhar ficam.

Mas o Monte Fuji, o mais alto do Japão, não cabe na fotografia. Subimos até onde as camionetas conseguem chegar, já em zona de neve. Para os japoneses este vulcão ainda em actividade é sagrado e diz o povo que pelo menos uma vez na vida se deve subi-lo a pé, apesar dos seus quase 3 800 metros, ou exactamente por isso. Na volta, já perto do sopé, macacos selvagens espiavam-nos dependurados das árvores que orlam a estrada. Que pena não termos disto em Sintra, ou no Gerês.

Ao fim do dia mudámos para um hotel em Hakone, uma estância turística na montanha. À chegada ao quarto fui, como faço sempre, direitinha à janela. A vista não é má. Em seguida espreito a casa de banho e deparo com uma espécie de banco com alguidar por cima, instalado por baixo do chuveiro. Para que serve isto? No roupeiro há quimonos. Depois do banho visto um deles, faço um carrapito e repuxo os olhos ao espelho. Se os conseguisse manter assim passava por japonesa na boa.

Amanhã viajamos para Quioto no comboio bala e deslocamo-nos a Nara. No dia seguinte viajaremos até Hiroshima. Tu nas vu rien à Hiroshima. Sempre o cinema para todo o lado onde vou. E a música. Na minha cabeça tem rodado com frequência desde que cheguei uma música do Ryuichi Sakamoto de que gosto muito, que pertence à banda sonora do filme Feliz Natal Mr. Lawrence de Nagisa Oshima, de que também gostei muito. Oiço bichos a piar lá fora. É outra música, boa para me embalar.

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