Cartas do Japão - 4
4º dia - Consegui dormir durante a noite. Adeus jet lag, olá... chuva?! O programa de hoje inclui uma visita a Nikko, terra de samurais, que fica na montanha, a cerca de hora e meia de Tóquio. Chove torrencialmente. Nova irritação matinal.
O guia mudou. Simpático, é bem o exemplo do profissional diligente oriental. Fala para que todos o oiçam, mas o sotaque, dio mio, é terrível. Já percebi que japoneses a falar inglês são pior do que o polícia do Alô Alô. Desisto de o perceber. Acho-lhe graça, mas há que reconhecer, no terreno o tipo é um chato: debaixo de chuva torrencial é incapaz de adaptar o discurso às circunstâncias para poupar as pessoas à molha inevitável. Fica ali, trá-lá-lá, os outros guias chegam com os seus grupos, vão-se embora e o nosso continua, estoico, trá-lá-lá, trá-lá-lá.
Enquanto isso aproveito para tirar fotos tentando segurar máquina e chapéu-de-chuva ao mesmo tempo e a praguejar contra buda, que é a divindade de serviço, e portanto responsável pelo mau tempo.
O ponto forte da visita de hoje é um conjunto de magníficos templos budistas, lindos de morrer. Vale a pena ficar encharcada para ver tudo bem visto, mas não cesso de me perguntar o que seria vê-los num dia de Sol, com aqueles dourados e vermelhos avivados pela luz. Quando terminou a visita a chuva parou. É irritante, convenhamos. Digo mais uma vez a buda o que penso dele. Acho que estou lixada, com favores deste é que nunca mais posso contar. É o que faz reagir sob impulso!
Ao guia de hoje bati palmas. É um chato, mas acabou por me divertir por ser assim. Os cromos acabam sempre por me conquistar.