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Delito de Opinião

O PSD a votos (7)

Pedro Correia, 02.03.10

 

 

Debate Paulo Rangel- Pedro Passos Coelho

 

1. Se hoje o PS de José Sócrates está no Governo, isso deve-se em boa parte à incompetência do PSD de Manuela Ferreira Leite, de cuja direcção Paulo Rangel fez parte. Pedro Passos Coelho deixou isto claro no debate desta noite na SIC Notícias - o primeiro frente-a-frente televisivo entre os candidatos à liderança social-democrata.

Rangel fez questão de acentuar que não exerceu efectivas responsabilidades directivas no partido entre Junho de 2009, quando o PSD venceu as europeias, e Setembro, quando o partido laranja foi derrotado nas legislativas. Mas perdeu a oportunidade de se demarcar, neste debate, da decisão de excluir Passos Coelho das listas eleitorais - uma manifestação de 'asfixia democrática' da direcção social-democrata que logo se virou contra o partido.

 

2. O eurodeputado mostrou-se mais nervoso e muito mais à defensiva neste confronto em que Passos Coelho esteve francamente melhor na abordagem das questões económicas, que tanto preocupam os portugueses. E foi incapaz de rebater o argumento central do seu antagonista sobre o Orçamento de Estado, já aprovado graças à abstenção do PSD (e do CDS).

"O PSD viabilizou o Orçamento para 2010 sem forçar o PS a suspender os grandes projectos de obras públicas. (...) Esta é a primeira vez que se faz um Programa de Estabilidade e Crescimento num tempo diferente do Orçamento", criticou Passos Coelho. Rangel, remetido à defesa, não deu nenhuma justificação satisfatória.

Foi igualmente incapaz de rebater outro argumento central de Passos: é inútil encher a boca com a palavra "ruptura", pois as grandes mudanças na sociedade portuguesa envolveram sempre o entendimento entre os dois maiores partidos. Foi assim em 1982, quando a revisão constitucional eliminou a tutela do Conselho da Revolução sobre as instituições políticas, e também em 1989, quando outra revisão da lei fundamental pôs fim ao primado da economia pública em Portugal.

 

3. Rangel, procurando legitimar-se, invocou os exemplos de Francisco Sá Carneiro - fundador do partido - e Aníbal Cavaco Silva para justificar os seus contínuos apelos à "ruptura". Mas em nenhum momento como este foi tão visível a discrepância entre o candidato que milita há três décadas no partido e aquele que só assinou a ficha de inscrição há quatro anos, após um percurso algo enigmático pelo PP de Manuel Monteiro.

Rangel: "Se lermos o discurso de Cavaco Silva no congresso da Figueira da Foz..."

Passos: "Paulo, eu estive lá. Eu ouvi-o."

 

4. Em democracia, a melhor ruptura obtém-se pelo voto. Nenhum militante antigo ou recente, diga Paulo Rangel o que disser, imagina Sá Carneiro ou Cavaco a perder uma eleição contra Sócrates como sucedeu ao PSD de Manuela Ferreira Leite. Os seus herdeiros políticos terão de responder por isso nesta campanha interna. E Rangel é um herdeiro político de Ferreira Leite, o que talvez explique a incomodidade que revelou neste debate.

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